NO
EPISÓDIO ANTERIOR
Cena 2. Interna – hotel resplendor
– saguão – tarde.
Gilberto: nunca ouvi falar dela.
Moramos tão longe! Pouca coisa sabemos que se passa na zona sul.
Cristóvão: é possível que não a
conhecessem pelo nome de maria leão. Porque este não era seu nome verdadeiro.
Tinha ficha policial e suas impressões digitais estavam arquivadas, de modo que
pudemos identificá-la sem dificuldade. Seu verdadeiro nome era Mariana Estanislau.
Seu marido era um fazendeiro, Jonas Estanislau, que morava numa fazenda em
campos dos Goytacazes, alguns quilômetros daqui.
Gilberto: numa fazenda em campos
dos Goytacazes? Houve uma época em que soubemos de um caso terrível que
aconteceu numa fazenda por lá. Será que foi nessa?
Cristóvão: exatamente. Foi um caso
famoso.
Cassandra aparece, já tendo ouvido
o início da história.
Cassandra: de uma criança...
Todos olham para ela.
Cristóvão: isso mesmo. Uma menina.
Que foi levada a um tribunal de menores por necessitarem de cuidado e proteção.
Deram-lhe um novo lar na casa do casal Estanislau subsequentemente a criança morreu como resultado de
negligência criminosa e constantes maus-tratos. O caso causou certa comoção, na
época.
Milena: foi horrível.
Cristóvão: tanto o homem quanto a
mulher foram para a cadeia. Ele morreu na prisão. Ela cumpriu a sentença e foi
libertada. Ontem, como já disse, foi encontrada assassinada.
Milena: e quem foi? Já sabem?
Cristóvão: já chego lá. Um
caderninho de notas foi encontrado perto da cena do crime. Nele havia dois
endereços. Um era 24, rua Culver. E outro (pausa, e revela) era hotel
resplendor.
Gilberto: o quê?
Cristóvão: isso mesmo, senhor Gilberto.
Foi por isso que o delegado encarregado do caso, ao receber essa informação,
julgou fundamental minha vinda aqui para descobrir se os senhores sabiam de
qualquer ligação entre este hotel, ou qualquer hóspede, e o caso da fazenda em
campos.
Suspense. Tensão. Todos se
entreolham desconfiados. Um forte trovão assustam eles. As janelas batem com
força. Um clima de horror.
Fade-out
No
episódio de hoje: “Um hóspede sai de cena”
Cena 1. Interna – hotel resplendor
– saguão – tarde.
Na continuidade...
Gilberto: não há nada, absolutamente
nada. Deve ser uma coincidência.
Cristóvão: o delegado não acredita
que seja coincidência, meu senhor. Ele teria vindo pessoalmente se tivesse sido
possível. Com este tempo, e já que ele me mandou com ordens para obter
informações completas a respeito de todos neste hotel e fazer-lhe um relatório
por telefone, bem como para tomar quaisquer medidas que julgar necessárias
quanto à segurança de todos neste hotel.
Gilberto: segurança? Em que perigo
ele acha que estamos? Meu deus, ele não está achando que alguém poderá ser
morto aqui.
Cristóvão: não desejo assustar os
senhores, mas, falando francamente, sim. É disso que ele tem medo.
Gilberto: mas por quê?
Cristóvão: é o que eu vim
descobrir.
Gilberto: mas isso tudo é uma
loucura!
Cristóvão: sim, senhor. E por se
tratar de uma loucura é que é perigoso.
Beatriz: que bobagem!
Cassandra: confesso que a mim tudo
parece um tanto imaginoso.
Cristiano: eu acho sensacional!
Milena: há alguma coisa que o
senhor não nos disse, detetive? Acha que foi um de nós quem matou essa tal de Mariana
estanislau?
Cristóvão: não. Mas acho que esse
maníaco homicida vai aparecer por aqui para matar outra pessoa.
Milena: aparecer aqui? Porque?
Cristóvão: isso é o que eu tenho de
descobrir dos senhores. Segundo o delegado, tem de haver alguma ligação. (para Gilberto.)
O senhor afirma que pessoalmente jamais teve qualquer ligação com o caso da
fazenda de campos?
Gilberto: jamais.
Cristóvão: (para milena) e o mesmo
é válido para a senhora?
Milena: claro. Nenhuma ligação.
Cristóvão: e quanto aos criados?
Beatriz demonstra desaprovação.
Milena: nós não temos criados. E
por falar nisso, detetive, o senhor se importa que eu vá para a cozinha?
Estarei lá se precisar de mim.
Cristóvão: não há problema.
Milena sai.
Cristóvão: e agora poderiam todos
dar-me seus nomes, por favor?
Beatriz: isto é inteiramente
ridículo. Estamos apenas hospedados nessa espécie de hotel. Só chegamos ontem.
Não temos nada a ver com este lugar.
Cristóvão: no entanto, planejaram
sua vinda para cá com antecedência. Já haviam feito suas reservas.
Beatriz: bem, é claro. Todos menos
o senhor que chegou por último...?
Plácido: plácido Gutierrez. Meu
carro atolou num lamaçal. Aqui próximo.
Cristóvão: compreendo. O que estou
tentando dizer é que qualquer pessoa que estivesse seguindo um dos senhores
poderia saber muito bem que estavam planejando vir para cá. E agora só há uma
coisa que eu quero saber, e quero saber logo. Qual dos senhores tem algum tipo
de ligação com aquele caso da fazenda campos? (silêncio mortal.) não estão
sendo muito sensatos, sabem? Um dos senhores está em perigo, perigo muito real.
Tenho de saber quem é. (novo silêncio.) muito bem, perguntarei de um em um.
(para plácido) o senhor, em primeiro lugar, já que parece ter chegado aqui mais
ou menos por acaso.
Plácido: meu caro inspetor, eu não
sei de nada, de nada do que o senhor falou. Sou estrangeiro. Não sei nada a
respeito de acontecimentos locais de muitos anos atrás.
Cristóvão: (para beatriz) e a
senhora?
Beatriz: realmente considero uma
impertinência... Por que haveria eu de ter alguma coisa a ver com —
acontecimentos tão perturbadores?
Cristóvão: (para Cassandra) e a
senhorita?
Cassandra: Cassandra vieira. Jamais
ouvi falar nesta fazenda e não sei nada a respeito dela.
Cristóvão: (para marcos) o senhor?
Marcos: li a respeito do caso,
quando aconteceu. Estava trabalhando em São Paulo, na época.
Cristóvão: (para Cristiano) e o
senhor?
Cristiano: Cristiano soares. Eu era
menino naquele tempo. Não me lembro nem sequer de ouvir falar.
Cristóvão: e é tudo o que têm a
dizer, todos aqui? (Silêncio de todos, se olham.) bem, se um dos senhores for
assassinado, só terão de culpar a si mesmos. Bem, senhor Gilberto, agora posso
dar uma olhada no hotel?
Gilberto: sim. Claro.
Gilberto e Cristóvão saem.
Cristiano: ele é muito atraente,
não é? Eu admiro muito a polícia. Tão severa, calejada. A história toda é muito
excitante.
Beatriz: realmente!
Cristiano: imaginem só como ele
deve estar se divertindo com a coisa toda!
Beatriz: não acredito em uma só
palavra do que ele falou.
Cristiano: (para beatriz, em tom de
brincadeira) e se eu pegar em seu pescoço e apertar com todas as forças?
Beatriz: pare com essa brincadeira
rapaz. O momento não é pra isso.
Marcos perde a paciência avança em Cristiano,
pega pelo colarinho, com raiva.
Marcos: cala essa boca, seu
muleque. Se fizer outra gracinha desse tipo, eu mato você. Desgraçado!
Cristiano não reage, sai para o
lado, rindo irônico.
Cristiano: é isso que torna tudo
tão deliciosamente macabro. (ri.) se vissem suas caras! (sai.)
Beatriz: um rapaz mal-educado e neurótico.
Milena aparece, vindo da cozinha.
Milena: onde está meu marido?
Cassandra: (irônica) servindo de
guia para o nosso policial, que está fazendo uma excursão turística pelo hotel.
Beatriz: o tal rapaz neurótico
acaba de se comportar de forma excepcionalmente anormal.
Marcos: mentecapto. Hoje em dia
parecem mais imbecis.
Beatriz: eu não tenho paciência com
gente que diz que sofre dos nervos. Eu nunca tive nervos na vida.
Marcos: talvez tenha sido sorte
sua, senhora Beatriz.
Beatriz: o que quer dizer com isso?
Marcos caminha pelo saguão, depois
olha pra beatriz desconfiado.
Marcos: a senhora era a juíza da
vara de família, naquele tempo. Se não me engano, foi a responsável pela ida
daquela criança para a tal fazenda.
Beatriz: (sem jeito) é...
Realmente, senhor Marcos. Eu dificilmente poderia ser responsabilizada.
Tínhamos os relatórios dos assistentes sociais. Aqueles fazendeiros pareciam
ótimas pessoas e muito interessadas em ficar com a criança. Tudo parecia muito
satisfatório. Casa, comida, roupa lavada e uma vida saudável ao ar livre.
Marcos: e junto vinha os pontapés,
murros. Um casal que depois se mostrou inteiramente sórdidos.
Beatriz: e como é que eu podia
imaginar isso? Eles eram conhecidos de boa aparência. Nunca se ouviram falar
mal deles.
Milena: (entrando) então eu tinha
razão. Foi a senhora...
Plácido: (rindo às gargalhadas.)
desculpem, mas na verdade, acho tudo isso um grande divertimento para mim.
(sai.)
Beatriz: jamais gostei deste homem!
Cassandra: de onde ele veio?
Milena: não sei. Talvez de algum
país da américa do sul. (olha pela janela) está quase escuro e ainda são quatro
horas. Vou acender as luzes.
Milena abre o quadro de energia e
acende as luzes da varanda e da recepção.
Beatriz: (se levantando) onde será
que deixei meu pendrive? (sai.)
Milena volta e fica ali pensativa,
ao lado da lareira.
Milena: dizem que as coisas que
acontecem com a gente quando criança são mais importantes do que todo o resto.
Cassandra: quem é que diz isso?
Milena: os psicólogos.
Cassandra: um bando de mentirosos.
Não suporto nem psicólogos nem psiquiatras.
Milena: eu, na verdade, nunca tive
muito contato com nenhum deles.
Cassandra: sorte sua. É tudo
balela. A vida é o que se faz dela. É só continuar em frente, e não olhar para
trás.
Milena: nem sempre se pode deixar
de olhar para trás.
Cassandra: que bobagem. É uma questão
de força de vontade.
Milena: talvez.
Cassandra: eu sei que é.
Milena: acho que tem razão.
Cassandra: é dar as costas a elas.
Milena: será mesmo esse o caminho
certo? Não sei. Talvez esteja errado. Talvez o melhor seja enfrentar as coisas.
Cassandra: depende do que é que
você está falando.
Milena: às vezes, eu mal sei do que
é que estou falando.
Cassandra: sabe, nada, do passado,
me afeta. A não ser da forma que eu quiser.
Gilberto e Cristóvão aparece.
Cassandra ignora o detetive e sai.
Cristóvão: bem, lá em cima está
tudo em ordem.
Cristóvão olha pra recepção, vai
até lá. Ver uma porta.
Cristóvão: o que é aqui? Sala de
visitas?
Ele vai até lá, olha com
curiosidade. Ver beatriz. Ela não gosta.
Beatriz: será que eu não posso ter
um pouco de paz? Que coisa!
Cristóvão: desculpe, minha senhora.
Mas tenho de reconhecer o lugar. (para Gilberto) bem, investigação terminada.
Nada de suspeito. Agora acho que vou fazer meu relatório ao delegado. ( para o Milena.)
posso usar o telefone?
Milena: não está funcionando,
senhor. Está mudo.
Cristóvão: desde quando?
Milena: o senhor Marcos tentou
telefonar, pouco depois do senhor chegar.
Cristóvão: mas antes estava em
ordem. O delegado conseguiu falar com vocês.
Milena: conseguiu. Mas acho que,
depois disso, o forte vento derrubou os fios.
Cristóvão: podem ter sido cortados.
Gilberto: cortados? Mas quem
poderia cortá-los?
Cristóvão: senhor Gilberto... O que
sabe o senhor a respeito dessas pessoas
que estão hospedadas aqui, neste seu hotel?
Gilberto: na verdade não sabemos
nada a respeito delas.
Cristóvão: sei.
Gilberto: a senhora Beatriz nos
enviou um email de um hotel em Boston, o senhor Marcos Dutra, de um endereço...
Onde era, querida?
Milena: de belo horizonte.
Gilberto: Cristiano Soares nos
telefonou de Petrópolis, e a tal Cassandra vieira de um hotel residencial em Brasília.
E senhor plácido Gutierrez, como já lhe dissemos, surgiu de repente.
Cristóvão: naturalmente
investigarei tudo isso.
Milena: mas mesmo que esse maníaco
esteja querendo matar um de nós,
estamos inteiramente seguros. Devido a chuva. Ninguém poderá chegar até aqui
neste temporal.
Cristóvão: (em tom enigmático) a
não ser que ele já esteja aqui.
Gilberto: (assustado) aqui?
Cristóvão: e por que não, senhor Gilberto?
Toda essa gente chegou no fim da manhã. Algumas horas depois do assassinato na
enseada de botafogo. Houve mais do que tempo para chegar aqui.
Gilberto: com exceção do senhor
plácido Gutierrez, todos já tinham feito reservas, antes.
Cristóvão: esses crimes foram
planejados.
Gilberto: crimes? Por que tem tanta
certeza de que haverá um outro aqui?
Cristóvão: porque haverá. Espero
impedi-lo. Mas será tentado, sim.
Gilberto: eu não acredito. É fantasioso
demais.
Cristóvão: não há nada de fantasioso.
São fatos.
Milena: o senhor tem uma descrição
do aspecto desse homem, aqui no rio?
Cristóvão: altura mediana, peso
indeterminado, usava um casaco escuro.
Falava sussurrando. (pausa. Olha para o tripé na recepção) há três casacos
escuros pendurados no tripé neste momento.
Milena: eu continuo sem acreditar,
detetive.
Cristóvão: (indo até o telefone)
esse fio de telefone foi cortado... (examinando o fio do telefone.)
Milena: bem, preciso terminar de
preparar o jantar. (sai.)
Cristóvão: há alguma extensão?
Gilberto: sim. Há uma em nosso
quarto.
Cristóvão: quer fazer o favor de
experimentá-la, por favor?
Gilberto sai pela escada. Cristóvão
fica olhando até onde o fio vai dar. Caminha até a janela. Depois pula para
fora e desaparece por um momento.
Beatriz aparece com um livro na mão. Vai até a lareira, atiça mais o
fogo, liga o rádio. Está tocando a música: meu mundo caiu, de Maysa. Senta na
poltrona, e começa a ler o livro. De repente a luzes se apagam. Ela se assusta.
Beatriz: quem apagou a luz? Que
brincadeira de mal gosto é essa, hein?
Aumenta o volume do rádio. Ouvimos
ruídos de alguém que se asfixia e que luta em sua defesa.
Milena aparece.
Milena: que escuridão é essa? Será
que foi a chuva? Meu deus. Só faltava essa!
Ela acende as luzes. Vai até o
rádio e desliga. Ao olhar pro lado ver Beatriz caída ao chão, morta.
Milena: (grita de pavor) aaahhhh!!
Socorro! Acudam aqui!
Todos aparecem, assustados com o
grito. E veem Beatriz morta ao chão.
Clima de tensão, suspense. Todos se
entreolham, cúmplices e desconfiados.
Gilberto vai consolar Milena.
Cristóvão aparece.
Cristóvão: aconteceu o que eu
previa. Um hóspede sai de cena.
Close no corpo de Beatriz fundindo
com os olhos arregalados dos demais hóspedes.
Efeito: um corvo solta um granido,
sobrevoa sob a tela, congelando a imagem.
Fim
do terceiro episódio.
A
Tempestade
Temporada 1 | Episódio 3
Criado
e Escrito por:
Nathan Freitas
Elenco:
Gilberto Reis
Milena Reis
Cristiano Soares
Beatriz Campos
Marcos Dutra
Cassandra vieira
Plácido Gutierrez
Cristóvão Alencar
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