“Uma produção original Everton Brito Produções e Rajax”
Escrita por EVERTON B DUTRA
Criada por EVERTON B DUTRA
EPISÓDIO 11: Te Lo
Voy a Decír (Final da Série)
01 INT. IGREJA - DIA.
FADE IN:
ABRE A CENA.
As portas da igreja se abrem, revelando Esmeralda Dellarosa parada, trajando
seu elegante vestido de noiva com mangas bufantes e ombros caídos. O branco
chegava a brilhar com a forte luz do sol irradiando atrás dela. Todas as
pessoas da igreja se levantam. Os fotógrafos exclusivos a bombardeiam com
flashes enquanto ela caminha até o altar ao embalo da marcha nupcial.
O foco muda para o rosto
de Martin, absorto, distante. Os dois noivos pareciam estar na mesma
frequência. Nem mesmo a mídia entendia como as coisas que sucederam resultaram
no momento de agora. Engolia em seco o cheiro do cravo branco no bolso do seu
paletó. Nunca foi chegado às flores, mas se fosse para escolher, as gardênias
eram suas preferidas, de todas as formas.
Os passos de Esmeralda eram
pesados e lentos. O altar não ficava tão distante, mas o tempo até, para ela,
parecia ser um tanto desproporcional. Esmeralda para no meio, surpreendendo a
todos. Ela respira profundamente, levanta a barra do vestido e caminha o mais
rápido que pode, fazendo a marcha se apressar, os olhares das pessoas e os
flashes dos fotógrafos.
Foco em Roxana,
arregalando os olhos, ofendidíssima. Ela limpa a garganta quando Esmeralda
chega no altar, trocando olhares modestos com Martin. Ela faz sinal para que o
padre se apresse.
PADRE 一
Acho que podemos começar, então. Bom, estamos aqui reunindo duas almas que se
encontraram. Iremos aqui realizar uma cerimônia para consagrar esse amor tão
mútuo, como o de Esmeralda e Martin. Sem mais declarações, vamos ao votos.
Repitam comigo…
Antes que o Padre pudesse
completar, a porta da igreja é abruptamente escancarada, ao que dois corpos são
jogados para dentro dela.
Uma mulher vestida de
noiva e um cara estupriado lutam pela posse de uma arma, que dispara para cima
repetidas vezes, assustando todos da igreja. KELLY MARIA e OTÁVIO
SCHUMACHER gritam, numa discussão completamente desenfreada.
KELLY 一
Me dá essa arma aqui!
OTÁVIO 一 Eu vou acabar, eu vou acabar com esse casamento! Eu vou destruir
tudo!
KELLY 一
Deixa de ser maluco, você nunca pegou numa pistola, muito menos sabe disparar
uma!
Logo, VANESSA ROBSON adentra na
igreja, também vestida de noiva, gritando e correndo na direção dos dois. Ela
joga seu corpo contra e os três vão ao chão. A arma desliza pelo chão da
igreja, afamando os convidados.
VANESSA 一 Não olhem minha calcinha, olhem para Jesus, não olhem minha
calcinhaaaa!
OTÁVIO 一 Essa igreja não vai fazer mais nenhum casamento, nem que eu tenha
que arrancar a cabeça do padre!
Otávio se levanta do chão,
mas Kelly engole sua cabeça com o seu vestido. Ela joga suas duas pernas sobre
os ombros de Otávio. Ele grunhi de raiva e se remexe semelhante à um touro
mecânico, com Kelly montada nele. Foco em alguns rostos da igreja, horrorizados
com a cena nada ortodoxa.
KELLY 一
É cheirosa, né? Carolina Herrera, mas aproveita, porque é o mais perto que você
vai chegar dela na sua vida!
OTÁVIO 一 Tira isso da minha cara!
KELLY 一
É isso aí, me chama de Mega Fox, mas não é pela boca que eu como os homens!
Foco no padre, de boca a
aberta, com a mão sobre o peito. Depois em Roxana, possessa. Volta para Kelly e
Otávia.
KELLY 一
Êêêê, boi! Literalmente, hahaha!
Atrás, Vanessa, entalada
com o vestido pesado e as pernas nuas para cima, se balançando num alvoroço,
fica impossibilitada de ver a cena. Otávio consegue jogar Kelly para trás. Ela
despenca no chão. EM OTÁVIO, atordoado e suado. Ele visualiza a arma no chão e
caminha na direção dela.
Foco na entrada da igreja,
NEIDE
SILVA surge, correndo, segurando o vestido, ela grita um urro de guerra
e, em câmera lenta, pula Vanessa ainda no chão, passa por Kelly, escorrega no
chão da igreja, por entre as pernas de Otávio, agarra a arma no chão e chuta
com o seu salto o falo de Otávio. O SLOW MOTION
com Otávio gritando de dor e se ajoelhando no chão.
Neide levanta a arma para
cima, em saudação.
NEIDE 一
Deus seja louvado!
Atira sem querer para
cima. Foco em Vanessa, que finalmente consegue se levantar, toda descabelada, e
estonteada, ela olha para Otávio e corre até ele, jogando seu corpo contra o
dele e o derrubando no chão, torcendo seu braço e puxando seu cabelo.
VANESSA 一 Pede pra sair, vai, pede pra sair, pede!
OTÁVIO (desesperado) 一 Eu quero sair,
eu quero sair!
Roxana sai andando até
onde elas estão, gritando descontroladamente, em completo desespero. Irada.
ROXANA 一 O que está acontecendo aqui!!!
Seus gritos ecoam por toda
a igreja, agora silenciosa. Por fim, a cruz de outro, com Jesus pregado nela, despenca da parede bem na cabeça do padre, que
cai no chão, inconsciente.
FOCO EM SEU ROSTO.
Borboletas roxas pairam acima dele, depois, a CAM as acompanha percorrendo a
igreja.
Em Esmeralda e Martin.
Olham para o padre, de boca aberta.
SONOPLASTIA: Problem 一 Ariana Grande
ft. Iggy Azalea.
CAM na entrada da igreja.
Lupe, então, surge, desesperado e ofegante, com as mãos para cima.
LUPE 一
Parem o casamento!
Depois ele abaixa a mão e
recua ao visualizar o caos vestido de branco por todo o lugar.
FADE TO BLACK
FADE OUT.
No Te Pido Flores
FADE IN:
02 INT. IGREJA 一 DIA.
ABRE A CENA.
A Igreja, já quase vazia. Alguns
policiais algemam Otávio, enquanto ele resmunga.
OTÁVIO 一 Vocês vão ver. Eu vou voltar. Nem todas as grades da cadeia desse
mundo vão me impedir de…
Vanessa dá um soco na cara
de Otávio, o fazendo cair no chão. Foco nela.
VANESSA 一 Ai, cala a boca!
Ela ajeita o cabelo e olha
as unhas, lamentosa. O Foco passa para os policiais, levantando Otávio do chão
e o carregando para fora da igreja. Neide passa pela câmera, reclamando:
NEIDE 一
Eles podiam maneirar no tecido desses vestidos…
E cede a cena para Martin
e Lupe, um de frente para o outro, entreolhando-se, com a luz do sol por entre
eles, adentrando pela porta.
LUPE 一
Eu não devia estar aqui, que fique claro. E só andei de bicicleta até aqui,
porque não tinha nada pra fazer. Nem sabia que essa era a igreja que você ia se
casar. Entrei apenas para… rezar.
MARTIN 一 Conjugando com tanta certeza o pretérito imperfeito. Como você sabe
que não vou me casar mais?
Lupe se afasta de Martin,
preocupado.
ESMERALDA 一 Não! Nós não vamos!
Esmeralda surge na cena,
entre os dois, cheia de certeza.
ROXANA 一 E quem disse isso?
Todos olham para Roxana.
ESMERALDA 一 Eu disse. Chega, mamãe. Agora eu tomo as rédeas da minha própria
vida e você não pode fazer nada em relação a isso.
ROXANA 一 Você sempre foi sentimental demais, Esmeralda. Não sabe nada sobre o
mundo e sobre toda a dor que ele pode te causar, minha filha. Tudo que eu quis
nessa vida foi te poupar disso tudo. Mas, eu tô cansada.
Roxana se senta num dos
bancos da igreja, pensativa.
ESMERALDA 一 Você sempre manteve o balão que é o mundo bem acima da minha cabeça,
morrendo de medo que eu fosse lá e o estourasse. O que a senhora não sabia é
que esse balão poderia ser estourado por qualquer pessoa e ainda assim tudo
dentro dele cairia em cima da minha cabeça. Eu te amo, mas não posso viver desse
jeito.
ROXANA 一 Essa não é você falando. É o seu espírito jovem e idealista.
ESMERALDA (lamentosa) 一 Não, essa sou eu, indo embora, e fazendo meu
próprio destino.
Esmeralda dá as costas
para todos e sai andando a passos apertados para fora da igreja, deixando seu
buquê no meio do caminho e desaparecendo em meio aos raios de sol, que invadem
a tela, voltando depois a imagem nos rostos de Lupe e Martin. Aparentemente só
restam os dois no lugar.
Martin, maroto, para Lupe
e em seguida anda até o meio da igreja, agarrando o buquê de Esmeralda do chão,
dando uma limpada teatral nele, e rente ao peito, sorri para Lupe, marchando em
sua direção, elegante. Lupe ri, envergonhado.
LUPE 一
Você é bem fora da casinha mesmo, né?
MARTIN 一 Não seria a coisa mais louca que aconteceu hoje.
LUPE 一
Não.
MARTIN 一 Por que? Já estamos numa igreja mesmo. Vai me dizer que esse não é o
lugar dos seus sonhos? Porque o noivo, com certeza, é.
LUPE 一
Es tan estupido. Maldito el día que me enamoré de ti.
MARTIN 一 Quer casar comigo, ou vai me deixar plantado no altar?
VANESSA 一 Casamento? Eu ouvi casamento?
Vanessa surge, ajeitando
os cabelos, esbaforida.
KELLY 一
Que casamento? Quem vai casar agora?
Kelly surge e para ao lado
de Vanessa, ajeitando o decote do vestido, depois Neide, apertando, pudica, a
barra do vestido.
NEIDE 一
Eu posso fazer! Eu sempre sonhei em fazer um casamento gay. Eu sabia que aquele
curso de cerimonizia… cerimolili.. cerimolizia…
LUPE 一
Cerimonialista?
NEIDE 一
Exatamente. Cerimonialista. Não sabe o quanto eu esperei por esse fetishe..
Quer dizer, por esse momento.
VANESSA 一 A gente pode até ser as testemunhas, né?
KELLY 一
É, vão, vão pro altar. Eu vou jogar isso no Twitter.
Martin e Lupe são
empurrados para o altar por Vanessa, Kelly e Neide. Eles ficam de frente um
para o outro, nervosos.
LUPE (sussurra)
一 Eu tenho a sensação que estamos fazendo algo ilegal.
NEIDE 一 Relaxa. Tá com Neide, tá com Deus.
Literalmente.
MARTIN (dá de ombros) 一 Que seja feita a nossa vontade.
KELLY/VANESSA/NEIDE 一 Amém.
SONOPLASTIA: Click - Bryan Amadeus,
Anahí & Ale Sergí
OFF. Somente a música.
Neide faz o seu papel de cerimonialista. DOLLY OUT. CÂM vai se afastando da
cena. O PLANO GERAL no ambiente da igreja. Vanessa, no altar, chora
desesperada, limpando as lágrimas no véu, enquanto Kelly tira fotos no seu
celular. CAM. Lupe agarra Martin pela gravata e o beija ardentemente. As portas
da igreja se fecham.
03 INT. AEROPORTO - DIA
CAM. Esmeralda,
alvoroçada, chamando a atenção das pessoas que transitam pelo aeroporto, se
debruça sobre o parapeito, caçando com o olhar. PLANO do espaço sob o POV da personagem. VOLTA para Esmeralda, deslocando-se, correndo, segurando seu
vestido, que acompanha levemente seus movimentos. CAM a acompanha. Ela desce as
escadas, desviando-se das pessoas. TROCA DE CÂMERA. CAM foca na plaqueta dos
horários dos voos, alternando-se. Ao fundo, a voz da representante comercial,
orientando os passos das pessoas. Acompanha Esmeralda de costas,
desvencilhando-se da floresta de pessoas, derrubando algumas malas.
Para. No momento,
todos os sons da cena são cessados. Apenas um zumbido forte mesclado com as
batidas do coração da personagem. Algumas pessoas passam, mas revela-se em
seguida a imagem de Lupita, fazendo o check in, ao lado, Roberta. HALLO
DESFOCADO. TROCA DE CÂMERA. Foco no rosto de Esmeralda, brilhante. Ela sorri e
se apressa.
ESMERALDA — Lupita!
Foco em Lupita agora. Ela
olha confusa, achando Esmeralda.
SONOPLASTIA: Afterglow — Taylor Swift
O foco alterna-se entre as
duas personagens. Ambas andam em direção ao encontro. A imagem se funde numa só
quando as duas finalmente se encontram. PLANO GERAL. As duas se encaram por um
instante.
LUPITA (sorri) — Oi. Pensei que estivesse casando nesse
momento.
ESMERALDA — Como eu
poderia?
LUPITA — Você
ia…
ESMERALDA — Não sei
bem se teria coragem.
As duas escutam a chamada
de embarque do voo de Lupita. Esmeralda se apressa.
ESMERALDA — Eu não
vim te convencer a ficar. Eu vim te pedir desculpas sobre as projeções que fiz
sobre uma vida perfeita para mim. Eu esqueci de perguntar se você gostaria de
ser incluída nos meus planos, como se você não tivesse sonhos e planos. Acabei
convivendo tanto com a mãe que fiz exatamente como ela faria, e o que ela
queria. Acabei por não me dar conta de quem eu era exatamente, repelindo meus
sentimentos, me encharcando de dúvidas, numa luta eterna e vão comigo mesma.
Não posso lhe dizer para largar tudo e conviver ao meu lado num misto de
emoções tão confusas como as minhas, seria egoísta demais. Nunca, em hipótese
alguma, me passou pela cabeça te fazer escolher, mas não posso mais repelir
meus sentimentos, Lupita. Eu preciso te dizer que te admiro e te amo,
ardentemente.
Esmeralda acaba de falar,
trêmula. Lupita a observa, espantada, respirando ofegante.
LUPITA — Eu
devia ter te contado sobre a viagem antes, mas eu tive tanto medo, porque eu
gosto muito do que sinto por você. Eu só evitei o fim o quanto pude.
ESMERALDA — Lupita,
eu sou completamente apaixonada por você, mas eu não quero ser aquela garota
que parou no tempo de novo, e não quero que você passe por isso por mim. Eu
desejo tantas coisas boas para você! Eu torço tanto pelo seu sucesso e me sinto
tão orgulhosa que você é essa mulher corajosa. Eu quero ser assim também.
Lupita agarra as mãos de
Esmeralda, respirando ofegante, enquanto seus olhos marejam.
LUPITA — Eu vou
estar distante, mas ainda podemos tentar. Não sei, a gente pode se falar todos
os dias para saber como foi o dia da outra. A gente pode tentar a distância.
Tantos casais fazem isso.
ESMERALDA (sorri) —
Lupita, respira. Está tudo bem. Há tantas coisas que você pode conhecer, tantas
pessoas e novidades. Podemos conversar, saber do dia uma da outra, mas podemos
explorar o que vem por aí ao mesmo tempo.
LUPITA — Acha
mesmo que o que sentimos é temporário? Que vai passar, assim, do nada? Acredita
que realmente não é sincero.
ESMERALDA — É
sincero, é genuíno. Nesse momento, agora. E sobre ser passageiro, o que não é?
E se não for, nós vamos estar aqui, prontas para tentar mais uma vez. Eu não
sei como serão os dias de agora em diante.
Esmeralda deixa que as
lágrimas caiam no seu rosto, depois levanta o olhar para Lupita. Ambas
emocionadas.
LUPITA — É o que
resta depois dos corações acelerados.
ESMERALDA — É o que
podemos ser depois disso.
Lupita abraça Esmeralda
fortemente. As duas se enlaçam por um instante. Depois se afastam, fecham os
olhos e se beijam, com as mãos entrelaçadas. CAM, em uma sequência de
entrecortes, capta o beijo de diferentes ângulos. Elas se beijam demoradamente,
intensamente, prazerosamente.
VOZ — Última
chamada…
Elas se desenlaçam. Lupita
se afasta, as duas largam as mãos.
CAM. Lupita passa a andar
em direção a porta de embarque, enquanto Esmeralda a observa se afastar. Não queria vê-la partir. Antes mesmo que
Lupita atravessasse a porta, Esmeralda virou o rosto e passou a andar, buscando
a saída mais próxima do aeroporto. CAM a acompanha. Acaba trombando com alguém
que segurava um copo gigante de suco de frutas vermelhas, sujando seu vestido
de noiva branco.
Eles viram-se um para o
outro, afobados. FELIPE SOUZA, passa a mão pelos cabelos cacheados, extremamente
boquiaberto e preocupado.
FELIPE — Ah, meu
Deus. Por favor, diz que esse vestido de casamento é só uma fantasia e que você
não vai se casar hoje.
Chocada, Esmeralda olha a
mancha vermelha no vestido e sorri, levantando a cabeça para Felipe, com seu
rosto todo iluminado pelo sol. Ele sorri, simpático.
ESMERALDA — Não. Na
verdade, eu até fugi do meu casamento.
FELIPE — Por
que? Ah, esquece. Nem é problema meu. Desculpa, eu tô tão atrapalhado. É que eu
tenho uma residência no Rio para o lançamento do meu livro e o meu voo vai sair
daqui há pouco. Mas, então eu acho que te fiz um favor… né?
ESMERALDA (ri) — É,
acho que encontrei motivos para continuar
vivendo. E o casamento, definitivamente, não está entre eles.
Felipe ri e depois olha
para Esmeralda, com os olhos brilhando, contente.
FELIPE — Taí…
Gostei disso.
Os dois se despedem com o
aceno e Felipe se vai, arrastando a mala. Esmeralda olha para a mancha no
vestido, ri novamente, e se vai também, balançando os braços.
ESMERALDA — Essas
mangas bufantes idiotas…
CORTA
PARA:
04 INT. MANSÃO DE MARTIN,
CORREDOR — DIA.
Estão Martin e Lupe,
parados na porta do quarto secreto, de mãos dadas. Martin afrouxa a gola do
terno do casamento. Depois percebe que ainda usa o cravo branco, tira com
desgosto e o joga no chão com vontade. Limpa a garganta depois da quebra de
tensão da cena, voltando.
MARTIN — Você
tem mesmo certeza que quer ver isso?
LUPE — Sim.
Lupe balança a cabeça e
bebe refrigerante no copo, de canudinho, que subitamente apareceu na cena.
Martin o olha, confuso.
MARTIN — Ok.
Então, lá vai.
Martin gira a chave e
empurra a porta. Toda a luz que entra na sala escura não é o suficiente para
nos revelar o que tem dentro. Lupe adentra, caminhando até o meio do quarto.
Martin, atrás dele, ajeita o terno e liga as luzes.
SONOPLASTIA: S&M — Rihanna.
As luzes se ascendem aos
poucos, dando um ar teatral. Foco em todos os cantos do quarto. Revela-se um
quarto repleto de manequins e adereços típicos do BDSM. Desde chicotes, roupas de látex à algemas, plugs anais,
cadeira de bondage, plumas. Foco no queixo de Lupe caindo no chão e Martin, ao
fundo, escondendo o rosto, em extrema agonia.
LUPE — Puta que…
Pra que que serve aquilo ali?
Lupe torce o pescoço,
confuso. Arregala os olhos quando percebe.
LUPE — Não,
esquece, eu não quero saber.
MARTIN — Você já
viu, tá ótimo. Agora podemos sair daqui.
LUPE (surpreso) —
Ah, meu Deus. VOCÊ SE EXCITAVA QUANDO EU BATIA EM VOCÊ…?!
Lupe deixa o queixo cair
novamente, mas desta vez olha diretamente para a câmera, do lado dele.
Surpreso. Para o público. Depois volta para Martin, nervoso e encurralado.
MARTIN — Não,
isso não tem nada a ver!
LUPE — Claro que
tem. Você é tão sádico. Como eu não percebi antes?
MARTIN — Escuta,
eu não gosto de apanhar…
Lupe se vira para Martin e
mete a mão em seu rosto, depois se assusta, empolgado.
LUPE — Uuhh.
MARTIN — Por que
você fez isso?
LUPE — A gente pode
usar aquilo ali!
Lupe aponta.
MARTIN — Ok,
acho que me arrependi de ter te mostrado isso, e…
Quando Martin se dá conta,
Lupe está alisando o chicote, animado. Ele vai até ele e tira o chicote da sua
mão.
MARTIN — Quer
largar isso?
Em Martin, com as mãos na
cintura, bravo. Lupe dá um beijo em Martin, segurando seu rosto com as mãos.
LUPE — Era por isso
que você estava sendo o cachorrinho da Roxana esse tempo todo?
MARTIN — Ela me
ameaçava o tempo inteiro. Já pensou no escândalo que isso seria? Eu sou um
empresário sério.
LUPE — Você podia
ter me contado. A gente dava um jeito e evitaria, tipo, uma série inteira.
Martin morde os lábios,
pensativo.
MARTIN — É.
Dá de ombros e depois sai
andando para fora do quarto. Lupe olha novamente para a câmera, revoltado.
LUPE — Que bosta de
desgaste narrativo.
MARTIN —
Vambora…
Lupe revira os olhos, em
negação, e depois sai de cena.
CORTA
PARA:
05 EXT. RUA - DIA
POV.
Esmeralda, ainda vestida
de noiva, caminha, enquanto alguém a segue. CAM filma apenas a personagem de
costas, enquanto a acompanha, um pouco mais distante.
Esmeralda levanta um pouco
o vestido e atravessa para o outro lado da rua. Segue caminhando até adentrar
num teatro. FIM DO POV.
CAM revela Graziela, escondida atrás de um poste. Ela sorri, determinada.
GRAZIELA —
Finalmente. Finalmente você terá o que merece Esmeralda Dellarosa. Assim como a
minha estrela, a sua também se apagará.
Graziela continua a
encarar o teatro onde Esmeralda entrou. CLOSE UP em seus olhos.
ENTRA.
= = FLASHBACK ABERTO = =
CLOSE UP nos
olhos brilhantes de Graziela. CAM vai se afastando, mostrando uma imagem
completa da personagem quando criança. Ela sorri e corre pelo espaço. Um
estúdio de gravação. Várias meninas com idade de dez anos se encontram no
local.
Graziela, de repente, é
pega nos braços por uma mulher. SORAYA.
SORAYA — Graziela,comporte-se. Eles precisam ver que
você é uma menina educada. Seu talento, com certeza, vai te levar a ser a
estrela desse comercial, mas eu preciso que você me escute, entendeu? Filha,
preste atenção em mim.
Soraya se abaixa até ficar
cara a cara com Graziela, que escuta tudo, obedecendo. Em Soraya. Ela agarra o
rosto de Graziela, com determinação e delicadeza, mas seu olhar fixo demonstra
uma obsessão. Graziela presta atenção nos lábios vermelhos da mãe e na sua
pinta acima dos lábios, amedrontada.
SORAYA — Você
será a “Garota Bacana”. A estrela desse comercial. Eu vi os olhos de cada um
dos jurados. Logo, também, será a estrela desse país. É o nosso sonho, não é?
Graziela balança a cabeça,
sorrindo.
GRAZIELA — Preciso
ir ao banheiro, mamãe.
SORAYA — Vá
rápido, já chegarão com os resultados dos testes.
Soraya sorri, ajeitando a
compostura.
UM CORTE DE CENA
no FLASHBACK mostra Graziela num dos corredores, indo ao banheiro enquanto
pulava amarelinha. A menina escuta vozes de uma sala e nota uma porta
entreaberta. Aproxima seu rosto.
POV. Uma mulher chique,
vestindo saia preta e blusa de paetê dourada, com o cabelo amarrado num coque e
batom vermelho nos lábios. Sorri para um homem de terno.
ROXANA — Bom,
sei que você pode fazer alguma coisa. Pelos bons velhos tempos.
HERNANDE — Mas os
produtores já escolheram, Roxana. A “Garota Bacana” será Graziela Belmonte, a
ruivinha.
ROXANA — Ah, por
favor, aquela água de salsicha não é páreo para a minha Esmeralda.
HERNANDE — Não é o
que os produtores acham.
ROXANA —
Convença os produtores do contrário, que Esmeralda convencerá o Brasil da
estrela que ela nasceu pra ser.
HERNANDE — Será a
última coisa que faço por você. Depois, você e esses seus sapatos chiques já
não precisarão mais de mim quando me tornar chefe de um restaurante popular,
não é mesmo?
ROXANA —
Darling, o show business sempre vai te acompanhar…
CORTE. Vemos Soraya,
agarrada à mão de Graziela, enquanto ambas veem Roxana e Esmeralda comemorarem
a escalação da menina para o comercial. CLOSE UP nos olhos de Graziela.
= = FIM DO FLASHBACK = =
06 INT. TEATRO — DIA.
CAM filma Esmeralda, de
costas, na plateia de um grande teatro. Depois em Graziela, cautelosa,
caminhando até ela, em extrema hesitação. Ela está armada, apontando para
Esmeralda
GRAZIELA — Seu
castelo começou a cair Esmeralda Dellarosa? O meu só está começando a se
erguer. Você sempre teve tudo de mão beijada, sua vaca!
Graziela dá uma com o cabo
da arma na cabeça de Esmeralda, que caí desmaiada no chão.
GRAZIELA — Agora é
a vez do meu ato.
Graziela sorri,
maquiavélica. Depois é atingida por uma pancada na cabeça, que a faz cair
desmaiada do lado do corpo de Esmeralda. Logo Esmeralda se levanta e a câmera
pôde focar em seu rosto.
Revela que na verdade não
é Esmeralda Dellarosa, e sim um homem disfarçado. Ela arranca a peruca da
cabeça e bufa.
HOMEM — Passo para a
próxima fase agora?
VOZ (V.O) — Não!
Foco no rosto de Graziela.
Borboletas roxas voam sobre. Desta vez, CAM acompanha o movimento das
borboletas, até o
EXT do teatro, sobrevoando o céu.
Sons de buzinas de carro por toda a parte.
07 EXT. PARIS, FRANÇA —
DIA.
SONOPLASTIA: Les Plus du Quartier — Carla Bruni
LETREIRO: Un Año Después… em França, Paris.
Alguns takes da cidade são
mostrados na tela, como pontos turísticos: Arco do Triunfo, Catedral de
Notre-Dame e alguns parques.
CAM aérea. Vemos Lupita andar de bicicleta, com os cabelos cheios ao vento,
pela cidade.
TROCA DE CAM. Foco em seu rosto. Ela sorri, serena.
LUPITA (V.O) — (...) É que aqui é tudo tão diferente, mas
diferente bom! Sinto falta da pimenta do A
La Mexicana. Como seria se Romeu e Julieta fossem franceses? Eu penso em
você de vez em quando, sabia? Você meio que sumiu. Ok, você sumiu da mídia, mas
você sempre foi uma pessoa que não consegue esconder seu brilho. Eu tenho
aprendido muito no curso, pero estoy hasta la madre de esto! (ri).
CORTE
RÁPIDO PARA:
08 EXT. PALAIS DE
CHAILLOT. PARIS, FRANÇA — NOITE.
CAM SE APROXIMA DA IMAGEM
DE LUPITA. Em seu rosto, sorrindo, empolgada, ao celular, enquanto observa a
Torre Eiffel do pátio do Palácio, iluminada, com o sol já se pondo atrás dela.
CAM. Seus olhos se iluminam. Ela veste um uniforme de Chefe.
LUPITA — É claro
que estarei aí brevemente. Eu concluo o curso mês que vem. É, nem parece que
faz um ano! Eu estou morrendo de saudades de todo mundo. Já aviso que trarei
novidades, heim? Ah, você sabe (T) Esmeralda Dellarosa, você toma cuidado!
Lupita olha rapidamente
para trás. Volta.
LUPITA — Agora
vou ter que desligar. O pessoal do buffet me chama. Adiós, te quiero mucho,
cariño!
Lupita desliga, agarrando
o celular contra o peito, felicíssima.
ANGÈLE — Lupita,
vem cá! Estamos atrasadas! Qu’est-ce qu’il ne va pas?
LUPITA — Ah, não. Eu só estou um pouco emotiva agora, mas esquece. Alors, on y va?
Lupita se apressa, mas ANGÈLE, agarra sua mão. As duas sorriem uma para a outra.
ANGÈLE — Você tem uma péssima mania de sair sem se despedir das
pessoas.
LUPITA — Estamos
aqui a trabalho, Angèle.
ANGÈLE — Si prude! C'est ce que j'aime chez toi.
LUPITA (nervosa)
— Ai, odeio quando você fala palavras difíceis.
Angéle faz uma careta
carinhosa para Lupita, que sorri. As duas se beijam. CAM vai se afastando das
duas, mostrando todo o cenário e trânsito das pessoas, harmonizando com a cena.
Lupita ri e sai andando às pressas, deixando Angèle, parada, a observá-la.
CORTA
PARA:
09 EXT. PRAIA DA TIJUCA —
DIA.
LETREIRO: Rio de Janeiro, Brasil.
Logo de cara, CAM é
atingida por um tapa de onda jogada por uma prancha de surfe.
ENTRA.
SONOPLASTIA: Brighter Than The Sun —
Colbie Caillat
CAM revela Esmeralda, em
cima de uma prancha de surfe, flutuando nas ondas do mar, sorridente. Ela corta
a água, sem medo, ágil. Equilibrada por um tempo, Esmeralda avista a onda de
logo mais e se prepara, passando por ela num salto aéreo de tirar o fôlego. Ela
cai depois no mar, emergindo, comemorando.
ESMERALDA —
Consegui! Isso!
= = CORTE DESCONTÍNUO = =
TROCA DE CÂMERA. Filma
Esmeralda da superfície da praia. Ela sai andando, com sua prancha em mãos.
Quando chega, a enterra na areia, sacudindo o cabelo curto, enquanto vislumbra
a imensidão do mar.
CELINA — Ah, meu
Deus, você é a Esmeralda Dellarosa? A atriz famosa?
Esmeralda vira-se para a
mulher, que segura uma criança pelas mãos.
COCO — Não, mamãe,
ela é uma sereia. Ela saiu do mar, você viu!
Esmeralda sorri e se
abaixa para falar com a menina.
ESMERALDA — Você
também pode ser uma sereia sabia?
COCO — Sério? Ah,
mas eu queria ser uma princesa, mas eu também queria ser uma sereia, só que eu
também queria ir para o espaço. Será que tem uma princesa sereia do espaço?
ESMERALDA (pensa) —
Não, mas você pode ser a primeira. Já pensou? Você pode nadar nas nuvens e
pescar estrelas!
COCO — Mamãe, eu
quero ser uma princesa sereia do espaço! Eu posso ser uma princesa sereia do
espaço, não posso?
CELINA — Claro
que pode!
COCO — Eu vou ser a
primeira princesa sereia do espaço do mundo! Não conta pra ninguém, heim?
Esmeralda, divertindo-se,
faz sinal de boca fechada. Ouvem-se risos de um menino da mesma idade da
criança. CAM. Ele aponta, achando engraçado.
ENZO — Sua idiota,
não existem princesas sereias do espaço! Só meninos podem ir para o espaço!
Foco na menina. Coco
agarra um punhado de areia, brava, e joga na cara de Enzo, que começa a chorar
e gritar, esfregando os olhos.
COCO — Quando eu
for a princesa sereia do espaço, eu vou te transformar em poeira e te fazer ser
engolido por um buraco negro!
CELINA (desesperada) — Filha, pelo amor de Deus…
Assustada e lisonjeada,
Esmeralda, vira-se, disfarçando, fingindo estar entretida com o mar, enquanto a
discussão acontece atrás dela. Depois ela ri, mas se sente culpa, e depois ri
novamente.
10 INT. CENTRAL PURPLE DE ACOLHIMENTO PARA VILÕES, SALA DE
PASSAGEM — DIA.
LETREIRO: Em algum tempo atrás…
CAM. Vemos uma mulher
sentada numa cadeira, dentro de uma sala escura. Um saco em sua cabeça.
Inquieta, ela se atenta aos sinais. A sala é iluminada após o som da porta
abrindo. CAM foca nos sapatos sociais pretos lustrosos caminhando na direção
dela. Depois foca no ajeitar do terno do homem, especialmente no broche em
formato de borboleta, na cor roxa. Ele brilha.
CORTE. O saco é retirado
da cabeça da mulher. Revela Graziela, assustada.
GRAZIELA — Quem é
você? O que é que eu tô fazendo aqui?
A CÂMERA PASSA DE GRAZIELA
para o rosto de ADO LAMBERTINI, sorrindo.
ADO — Seja
bem-vinda a Central Purple de Acolhimento para Vilões. Me chamo Ado Lambertini,
presidente e guia dessa organização ultrassecreta e, provavelmente, a pior
pessoa para se ter como inimigo. Acomode-se, mas não tanto, pois agora que você
foi convocada, sua vida nunca mais será a mesma.
GRAZIELA — Mas,
que porra/
CORTE
RÁPIDO PARA:
11 INT. CENTRAL PURPLE DE ACOLHIMENTO PARA VILÕES, CORREDORES —
DIA.
ADO — Nós somos a
mais importante organização de sabotagem do mundo!
Ado fala, enquanto caminha
pelos corredores gigantes da Sede da Central. Ao seu lado, as paredes de
acrílico revelam treinamentos especializados dos agentes oficiais, recentemente
recrutados.
Em Graziela anda, ainda
muito perdida, seguindo Ado, enquanto atrás de si, dois seguranças grandes. CAM
acompanha.
GRAZIELA — Eu não
estou entendendo. Por que eu estou aqui?
ADO — Cinismo? Hm.
Um ponto alto seu. Vai se dar bem nas aulas de fingimento e estratégias de
fuga.
GRAZIELA — O quê?
ADO — Ai, garota.
Será que você não percebeu? Hello! Por que você acha que isso aqui se chama
Central Purple de Acolhimento para Vilões? É para cá que todos os vilões, e potenciais vilões são mandados.
GRAZIELA — Isso
não é possível…
ADO — É claro que
é. Eu também não acreditava. Mas, quando eu me encontrava perdido e sem
esperanças, depois de ter meu mais genuíno amor jogado no lixo pelo idiota do
meu ex-chefe, eu fiz de tudo por ele, mas isso não vem ao caso agora, eu entrei
num elevador e vi meu mais novo motivo, uma pessoa pela qual eu pudesse
despejar todo o amor que existia em mim. Eu me infiltrei, comecei a trabalhar
com ele, cuidar da vida, da agenda, da casa, do guarda-roupa (suspira). Eu
estava decidido a não cometer os mesmos erros anteriores. Três vestidos de noiva e uma passagem para Ibiza. Depois de um
tempo investigando sua vida, eu descobri que ele, na verdade, era um agente da C.P.A.P.V e estava numa missão de
destruição de matrimônio e furto de herança. Encurtando tudo, foi assim que
cheguei até aqui.
GRAZIELA — Ok… mas
eu ainda não entendi como vim parar aqui!
ADO — Somos uma
Organização Ultrassecreta, meu amor. Trabalhos com criptografia, códigos de
alta ponta. Filtramos suas personalidades desde os seus nascimentos. Temos
infiltrados em todos os hospitais do país. Daí classificados, pelo histórico de
vida trágica, antepassados e condição social. Essas crianças são chamadas de
potenciais vilões. Algumas realmente se perdem no caminho e outras seguem sendo
ocasionalmente ruins. Eu tenho sua ficha, Graziela Belmonte.
Ado estala os dedos e um
gráfico surge pouco a cima de sua cabeça com fotos de Graziela e alguns dados
importantes sobre ela.
ADO — Coitadinha.
Por pouco você não passa no teste. Já pensou se tivesse conseguido ser a
“garota bacana”? Aliás, nossa equipe sempre achou que Esmeralda Dellarosa era
uma vilã em potencial. Você quase perde isso pra ela também.
GRAZIELA (raiva) —
Eu ia acabar com ela! Mas vocês me impediram.
ADO — Não,
querida, não ia mesmo. HmHm. A vida dela já estava decidida. O casamento foi
impedido, seu grande amor viajou pra europa, ela desistiu de ser atriz, deu um
chega pra lá na mãe. O que você ia fazer com ela? Como ia arruinar a sua vida?
GRAZIELA — Não
sei, talvez, talvez, talvez eu matasse ela.
ADO — Ah, você não
ia querer fazer isso. Vilões que matam de propósito são mandados para outro
departamento. Eu não queria estar lá se fosse você. Os que matam acidentalmente,
dependendo da situação, a gente resgata para cá. Mas, alguns só são assassinos.
Sem potencial para vilanias. Aí eles vão para a cadeia. A gente humilha,
maltrata, arma confusões, causamos explosões, discussões, fazemos o inferno no
geral, mas existem coisas que são terrivelmente triviais. A quase maioria dos direitos humanos a
gente quase respeita.
GRAZIELA — O que
vocês vão fazer comigo?
ADO — Antes de ser
mandada para uma missão do nível C, você será treinada para ser uma vilã
melhor, mais bem articulada, sabe? Você até que mandou bem, mas organizou muito
mal sua estratégia.
GRAZIELA — Qual o
nível mais alto que eu posso chegar?
ADO — Nível P.
GRAZIELA — Não
teria que ser nível A?
ADO — P de Purple,
garota, se liga.
GRAZIELA — Como
você chegou onde está agora?
FOCO. Ado sorri. Ela
empurra uma porta dupla gigante.
12 INT. CENTRAL PURPLE DE ACOLHIMENTO PARA VILÕES, SALA
PRESIDENCIAL — DIA.
Somente Ado e Graziela
adentram numa sala consideravelmente grande e muito bem iluminada. Foco. Uma
escultura de borboleta gigante em tons de roxo, com alguns diamantes cravados
bem no centro, logo à frente da bancada. Ado para, admirando a escultura com
brilho nos olhos.
GRAZIELA — O que…
é isso?
ADO — A Purple. É
ela quem manda em tudo aqui dentro. Essa entidade infernal e magnífica, ninguém
sabe as origens. É a chefona mundial da Central Purple.
GRAZIELA (ri) —
Fala sério. Uma borboleta roxa é o motivo do caos do mundo? É claro que há uma
pessoa por trás. Esses malditos fakes estão
por toda a parte.
ADO — Se tem,
ninguém sabe quem é. Alguns nomes já foram citados, pessoas já foram canceladas
no Facebook…
Ado ri. Graziela fica
apenas confusa. Ela se aproxima da bancada, suspirando, enquanto Ado está
hipnotizado em seu vislumbre. Ele se debruça um pouco sobre a mesa, segura seu
cabelo ruivo e aperta os olhos para enxergar melhor um nome gravado na bancada.
GRAZIELA — Quem é
Tena Andrade?
Num sobressalto, Ado faz
sinal para que Graziela se cale.CAM POV. Os dois são observados através das
câmeras de seguranças espalhadas por todos os cantos da sala. Volta para Ado,
assustado, verificando.
ADO (sussurra) —
Não falamos dela por aqui. Eu já vi a Purple incinerar até transformar um em pó
com seu raio lazer por citar, você sabe quem, nesta sala.
GRAZIELA — Credo.
Os dois afastam um
calafrio. CAM volta a focar na Purple. Uma tela projetada surge acima da
escultura. A imagem de JAILSA TENTAÇÃO surge, sorridente.
JAILSA (cantarola)
— Ão, Ão, Ão, sou Jailsa Tentação, meus
amores.
Ela bate as unhas postiças
na tela e depois olha Ado, de cima a baixo, mascando chiclete.
JAILSA — E aí,
coisinha? Tudo em cima?
Foco. Ado revira os olhos.
ADO (à Graziela) —
E essa daí…
JAILSA — Jailsa,
prazer com certeza. Chefe dele.
ADO — É a
representante da empresa… não sei por quê.
JAILSA — Ouvi um
assovio de muriçoca por aí? Você ouviu Biônci? Menina, você acredita que a
ridícula da Kelly fez um papelão na igreja? Notei que ela tava bronzeada,
artificial aquilo ali. E o cabelo dela? Totalmente aplicado, barato que eu
reconheço. Ah, ela não tem vergonha, não tem mesmo. Fica de olho aí no
Instagram dela, assim que ela postar uma foto, você fala mal dos cílios dela,
da maquiagem e o do vestido barato que ela tiver usado, que ela é flopada.
ADO — Foco aqui,
por favor!
JAILSA — Ih, que
isso? Dando ordem na chefe? Segura sua onda, oh qualquer coisinha recalcada.
Ele não aceita que eu seja senadora e tenho plenos poderes os quais ele deve
acatar.
ADO — O certo
seria acatar ordens, não…
JAILSA — SHIIU.
Olha, vamos andar logo com isso, que eu depilei com a masoquista da Vânia e tô
toda me pinicando aqui embaixo. Você tem minha benção, menina, aprovadíssima. E
esse cabelo?
GRAZIELA — O que é
que tem meu cabelo?
JAILSA — É
natural?
GRAZIELA — É.
JAILSA — Ruiva
de nascença?
Graziela confirma. Jailsa
fica parada, mascando seu chiclete, enquanto olha com desdém para Graziela.
JAILSA — Mas
também não me faz falta. Quem não é ruiva hoje em dia? Como é Biônci? Ela
inventou o que de mim? ISSO É FAKE NEWS BIÔNCI, PELO AMOR DE DEUS, TIRA ISSO DO
AR.
O projetor é desligado.
ADO — Graças à
Purple. Enfim, isso já demorou demais. Devidamente abençoada.
Ado retira do paletó um
broche de borboleta purple e encaixa na camiseta de Graziela. Foco, ele brilha.
ADO — Agora você é
oficialmente uma vilã em construção. Vamos mostrar para esses mocinhos sem
graça o que vem depois do felizes para sempre.
Ado sorri, malicioso para
Graziela, que retribui o sorriso, radiante.
CORTE
RÁPIDO PARA:
13 INT. CENTRAL PURPLE DE
ACOLHIMENTO PARA VILÕES, CORREDORES — DIA.
SONOPLASTIA: Lady Gaga - Telephone ft.
Beyoncé
CAM. Filmado, Ado e
Graziela e uma tropa de vilões em treinamento andando em formação em SLOW.
Todos com seus broches. Eles vão se aproximando da Câmera, enquanto a música
toca no fundo. Logo na frente deles, surgem duas borboletas roxas sobrevoando o
local. Elas passam pela CAM segundos antes do corpo de Ado engoli-la.
= = A TELA ESCURECE = =
14 EXT. MANSÃO
BRACAMONTES, JARDIM — DIA.
LETREIRO: Tempos atuais.
TROCA DE SONOPLASTIA: Lo Que Siento Por Ti — Miranda!
ABRE A CENA num PLANO
GERAL. O jardim da mansão Bracamontes está cheio de pessoas. Acontece uma
festa. Garçons circulando por todas as partes. Foco em alguns, com seus
uniformes do A La Mexicana Takes
entre os convidados e as mais variadas flores espalhadas pelo local ensolarado.
CAM flagra ALTINA MARIA, JESSICA BE e ANY ALLEN virando a taça
de uma vez e depois tossindo.
Logo, ela acompanha MIGUEL
DELLAFRANCO e JULIANO BARCELLOS, passeando por
entre o jardim. Miguel, de mau humor, enquanto Juliano se mostra encantado com
tudo.
MIGUEL — Que
ideia idiota essa de substituir o champanhe por cerveja.
JULIANO — Se
chama Chela.
MIGUEL — Só
podia ser ideia do mau carácter do Martin Bracamontes, aquele abutre.
JULIANO — Para de
ser tão chato.
MIGUEL — Você
que é legal demais.
Miguel sorri para Juliano,
e os dois seguem andando. Depois a câmera foca no fotógrafo da festa, cobrindo
o rosto com a CAM enquanto registra os momentos. Revela ser EVERTON
B DUTRA, que logo abaixa a câmera fotográfica e verifica as fotos
tiradas.
Surgem, então, THALITA,
LORENZO,
LUCAS, ARIADNE, E MATTHEW CARVALHO. Os três riem alto,
enquanto passeiam. CAM foca no rosto de Thalita, surpresa.
THALITA — Ah, meu
Deus, você é o Everton Brito?
Everton levanta a cabeça,
surpreso.
EVERTON — Ah,
não, imagina, eu não sou o Everton Brito.
MATTHEW — É que
você parece muito o Everton Brito.
EVERTON — É que,
na verdade, eu sou o Everton B Dutra, né? Tem o B e depois o Dutra.
ARIADNE — Meu
Deus, é o Everton Brito!
EVERTON — Não, eu
não sou o Everton Brito, não tem nada a ver…
LUCAS — Tem certeza?
EVERTON — É que
meu rosto é bem comum. Deve ser por isso.
LORENZO — Hm. Que
engraçado. Parece que você está por toda a parte.
Lorenzo sorri e o grupo
segue andando e rindo normalmente. Everton sorri, sereno. CAM vai se afastando
do seu rosto e revela que Everton usa um broche em formato de borboleta cor de
rosa. Ele brilha.
Everton olha em volta,
todas as pessoas reunidas, satisfeito. Ele acaricia a câmera fotográfica,
melancólico.
CAM.
E caminha, se afastando do
local. Aperta um ponto atrás de sua orelha.
EVERTON — Tudo
certo por aqui.
CAM AÉREA. Pega Everton caminhando
pelo gramado verde até sair completamente de cena. TROCA DE CAM. Jéssica Be
observa Everton ir embora, boquiaberta.
JÉSSICA BE — Quem é
Everton Brito, afinal?
Albertina cochicha em seu
ouvido. Jessica Be abre mais ainda a boca, vendo Albertina confirmar com a
cabeça, incrédula.
JÉSSICA — Eca! Ele é tão desesperado por atenção.
ANY — Total!
Em Any, Jéssica e
Albertina, indignadas, em negação.
CORTA
PARA:
15 EXT. MANSÃO
BRACAMONTES, JARDIM — DIA.
CAM. Esmeralda toma um
gole de cerveja e depois olha para a taça, fazendo cara feia. Depois olha para
o lado e avista Lupita chegando de mãos dadas com Angèle. Foco em seu rosto.
Ela sorri, contente. Depois, CAM se volta para Lupita, que se anima ao vê-la.
ESMERALDA — Meu
Deus! Você veio!
LUPITA — Tive
que vir. Não perderia a comemoração de um ano de casamento do Lupe com o
Martin. É um fenômeno da natureza.
ESMERALDA — Eu
também nunca pude imaginar!
LUPITA — Ok, eu
quero te apresentar a Angèle, minha namorada! Angèle, essa é Esmeralda
Dellarosa, minha melhor amiga.
ESMERALDA — Oi!
Esmeralda e Angèle se
cumprimentam num abraço.
ANGÉLE — Eu vi
você numa revista certa vez!
ESMERALDA — Você
tem que me vir nas ondas, isso sim! Aliás, eu preciso provar aquele… como se
chama aquele doce que a Angèle fez e você me mandou a foto… ? Clafoutis? Tô louca pra provar
independente da minha pronúncia.
As três riem.
LUPITA — Onde
está a Roxana?
ESMERALDA — Num
cruzeiro, acredita? Conheceu um mexicano bonitão e agora ela dedica os dias
tomando conta da vida dele.
LUPITA — Acho
melhor a gente ir se juntar aos outros. Tô vendo a hora do Lupe ter um colapso
nervoso se eu não aparecer.
As três confirmam e seguem
andando.
ESMERALDA — Estou
tão feliz por você…
16 EXT. MANSÃO
BRACAMONTES, JARDIM — DIA
CAM foca nos convidados,
tumultuados em frente há um pequeno palco. Foco em Lupe e Martin. Lupe observa
a plateia e se anima, acenando para Lupita quando ela aparece. Ela retribui,
também animada.
LUPE — Agora, sim.
Está tudo completo. Presta atenção aqui todo mundo!
Martin conversa com
Miguel, forçando um sorriso, enquanto Lupe o observa e dá uma cotovelada.
LUPE — Hoje é um
dia especial para nós dois. Eu venho planejando há um ano essa festa de
comemoração de um ano de casamento. Quando conheci o Martin Bracamontes, eu
realmente achei que ele fosse um playboy gourmetizado nesses terninhos, e
quando eu casei com ele, eu tive certeza que sim, que ele é um playboy
gourmetizado e adora um terninho de gente metida a besta, mas ele se tornou uma
parte essencial para mim.
MARTIN — Ele diz
isso agora, mas quando eu disse “eu te amo”, pareceu a pior coisa que ele tinha
ouvido alguém dizer na vida.
Os convidados riem com a
intervenção de Martin.
LUPE — E, às vezes,
eu ainda me pergunto se não foi mesmo, principalmente quando ele se recusa a
comer comida mexicana, ou esquece a toalha molhada em cima da cama.
MARTIN — Ao
contrário dele, eu amo tudo que ele faz, desde o molho apimentado ao som
exagerado de quando ele escova os dentes.
LUPE — Eu odeio
quando ele começa a cantar no chuveiro em espanhol, porque o sotaque dele é
péssimo.
MARTIN — Eu sei
que ele odeia, por isso que eu enrolo a língua o máximo que eu posso.
LUPE — Eu detesto a
dancinha ridícula que ele faz quando está certo e eu estou errado, ou quando
ele me convence a sair para um evento chato na chantagem mais canastra que
alguém pode fazer.
MARTIN — Eu digo
a ele que vou convidar Taylor Swift para jantar no A La Mexicana quando ela
vier ao Brasil de novo. E ele acredita!
Mais risos.
LUPE — Mas eu amo
acordar de manhã e saber que eu vou ter que aturar esse mala durante todo o meu
dia. Eu amo quando ele me liga nas horas que estou atolado de coisas pra fazer
no restaurante. Eu amo quando ele decide fazer umas dessas declarações
espalhafatosas, ou quando ele me faz ter uma overdose de flores, como vocês
podem ver nesse jardim.
MARTIN — Eu amo
Flores! E ele nunca me pede.
LUPE — No te pido mismo flores! Mas, eu te amo, Martin Bracamontes.
MARTIN — E eu
continuarei te dando flores, Lupe Gonzáles, porque eu te amo. Vai, pode revirar
os olhos.
LUPE — Hoje não.
CAM. Em Martin, bobo,
olhando para Lupe, que olha para Martin, sorrindo. Os dois se beijam.
ENTRA.
SONOPLASTIA: Día De Suerte — Alejandra Guzmán
Os convidados comemoram,
em polvorosa, eufóricos, gritam, aplaudem, se abraçam, pulam, se beijam. CAM
pega cada momento particular de alguns personagens já apresentados. PLANO
GERAL. Lupe e Martin, num beijo permanente, e a multidão de convidados, aglomerados,
em seus próprios momentos de felicidade genuína: mão com mão, cabeças coladas,
respirações pesadas, falsa indiferença.
Subitamente, uma
verdadeira chuva de pétalas de rosas e flores recaem sobre todos. Lupe para de
beijar Martin e revira os olhos, indignado. Martin dá de ombros.
TODOS — No Te Pido
Flores!
E riem.
CAM vai se afastando aos
poucos da cena. Borboletas rosas sobrevoam diante da Câmera, afastando-a ainda
mais da cena.
FIM DA SÉRIE.
PARTICIPAÇÕES ESPECIAIS DESTE CAPÍTULO
(evertonerso):
VANESSA ROBSON…………………………………………………………… da
Websérie “As Mulheres da Minha Vida” (Disponível Webtvplay)
KELLY MARIA…………………………………………………………………… da
Websérie “As Mulheres da Minha Vida” (Disponível Webtvplay)
NEIDE SILVA…………………………………………………………………… da
Websérie “As Mulheres da Minha Vida” (Disponível Webtvplay)
FELIPE SOUZA………………………………………………………………… da
Websérie “Motivos Para Continuar Vivendo” (Disponível no Webtvplay)
MIGUEL DELLAFRANCO………………………………………………… da
Webnovela “Anjo Bom” (Disponível na WebMundi e no ON.TV)
JULIANO BARCELLOS…………………………………………………… da
Webnovela “Anjo Bom” (Disponível na WebMundi e no ON.TV)
ALTINA MARIA……………………………………………………………… da
Websérie “Garotas de Sábado” (Disponível na Rajax)
JÉSSICA BE…………………………………………………………………… da
Websérie “Garotas de Sábado” (Disponível na Rajax)
ANY ALLEN………………………………………………………………………… da
Websérie “Garotas de Sábado” (Disponível na Rajax)
THALITA VERONESI………………………………………………… da
Webnovela “Alto Agito” (Disponível no AATV)
MATTHEW CARVALHO……………………………………………………… da
Webnovela “Alto Agito” (Disponível no AATV)
LORENZO SILVESTRINI………………………………………………… da
Webnovela “Alto Agito” (Disponível no AATV)
LUCAS FERNANDES…………………………………………………………………
da
Webnovela “Alto Agito” (Disponível no AATV)
ARIADNE GONÇALVES……………………………………………………………
da
Webnovela “Alto Agito” (Disponível no AATV)
JAILSA TENTAÇÃO…………………………………………………………………
da
Websérie “As Mulheres da Minha Vida” (Disponível Webtvplay)
ADO LAMBERTINI………………………………………………………………………
da
Websérie “As Mulheres da Minha Vida” (Disponível Webtvplay)
OTÁVIO
SCHUMACHER……………………………………………………………… da Websérie “As Mulheres da Minha Vida”
(Disponível Webtvplay)
CENAs
SECRETAs
00 INT. RESTAURANTE A LA MEXICANA -
NOITE
De frente um para o outro,
sentados numa mesa, num canto bem iluminado do restaurante já vazio, estão
Hernande e Martin. Uma grande mala aberta está entre os dois, virada para
Hernande, que respira pausadamente, surpreso. Foco no rosto de Martin,
analítico. Ele fecha a mala momentos depois, fazendo Hernande despertar.
MARTIN — E aí? É
o suficiente pra você?
Martin diz, fungando,
cauteloso, enquanto ajeita o terno e olha em volta do restaurante, indiferente.
HERNANDE — Por que
você quer comprar o meu restaurante? Quem disse que ele está a venda?
MARTIN — Não
seja ridículo, todo mundo está à venda. Ainda mais você.
HERNANDE — O que
quer dizer com isso?
MARTIN — Que
você, mexicano produzido na china, não é do tipo flor que se cheire. Soube por
uma velha, quando digo velha, não é no sentido figurado, e sim, velha, velha
mesmo, que podemos fazer um acordo.
HERNANDE — Roxana.
MARTIN — É a
única velha manipuladora que você conhece? É uma soma bem acima do que vale
essa velharia aqui. Ela me coagiu a te dar essa bonificação. Considere pago o
favor, seja lá qual tenha sido, que você fez à ela.
HERNANDE — Ainda
não me disse por que quer esse imóvel.
MARTIN — É simples.
Estou planejando um grande empreendimento e esse restaurantezinho atrapalha
tudo. É só o que você vai saber.
HERNANDE — Tudo
bem, eu vendo.
Hernande diz, agarrando a
mala e sendo parado por Martin.
MARTIN — Espera,
tão rápido assim?
HERNANDE — Não,
tem uma coisa. Eu vendo o restaurante, mas você tem que ser o vilão da
história.
MARTIN — Como é
que é?
HERNANE — Mira,
meus funcionários, que são como uma família para mim, acreditam fielmente na
minha índole. Eles acham que eu amo esse restaurante, tanto que recusaria
qualquer dinheiro que me oferecessem para vendê-lo.
Hernande olha para a mala
de Martin, tentado.
HERNANDE — Mas eu
preciso desse dinheiro. Estou cheio de dívidas, do restaurante, inclusive. Ele
não sendo tão lucrativo como imaginei…
MARTIN — Tá,
pula a parte do seu sofrimento por ser um bom homem trabalhador e me diz logo o
que eu tenho que fazer, vai.
HERNANDE — Bom,
tudo tem que parecer que foi uma armadilha feita por você para conseguir o
restaurante. Eu não sei como você vai fazer isso, mas eu sei que dará um jeito.
Gente mau caráter sempre dá.
MARTIN — Olha só
quem fala.
HERNANDE — Eu somo
por um tempo e depois volto, com a desculpa de que estarei arruinado por tudo
que você me fez passar. Daí eu anuncio que você é o novo dono do restaurante.
Afinal, essa seria a única alternativa. Eles entenderiam e ponto final. Você
fica com o restaurante e eu sumo do mapa depois.
MARTIN — Que
jeito estranho de dizer que ama uma família você tem, mas tudo bem, se esse é
mais um preço que eu terei de pagar em nome do meu empreendimento, tudo bem,
tudo bem. Eu vou ser o vilão dessa novela mexicana tosca, com direito a
interpretações sigilosas e frases de efeito soltas do nada após a conclusão de
um plano infalível, como “Vamos ver se aquele mexicano de uma figa não vende o maldito
restaurante agora”. Essa é boa, né?
Martin ri
alto, incontrolavelmente, enquanto Hernande agarra a mala de dinheiro e revira
os olhos, ao passo que Martin se contorce na cadeira.
PLANO GERAL.
CAM se desloca, tirando de foco os dois e passando a manter-se na porta de
entrada do restaurante. Vamos, pelo vidro dela, um raio iluminar a rua fora.
Logo, notamos também, que começa a chover.
01 EXT. PONTO DE ÔNIBUS, NOITE.
CAM.
Encontra-se Lupe, um pouco molhado, apertando os olhos para enxergar meio a
chuva forte. Ele pragueja, agarra seu celular e verifica as horas.
LUPE — Poxa, mas que azar danado, heim? Esse ônibus não vem mesmo
pelo o que parece. ¿Qué más necesito que suceda?
¡Por Dios!
02 INT. CARRO DE MARTIN BRACAMONTES, NOITE.
Martin acaba
de parar no sinal. Parabrisas ligados. Ele balança a cabeça, dançante, com I'm Gonna Be (500 Miles)-
The Proclaimers
tocando. Batuca com os dedos no volante. Inquieto, ajusta o retrovisor. CAM.
Ele vê, em seu banco traseiro, repousado, um buquê de cravos brancos. Cerra os
dentes. Observa o sinal, tira o cinto de segurança e, se esgueirando sobre os
bancos, agarra o buquê. Volta para o banco de motorista. Desajeito, tira o
bilhete do buquê.
MARTIN —
Da sua querida, Roxana. Ah, que
velha… Ela vai ver só o que eu faço com essa merda de cravos brancos.
03 EXT. PONTO DE ÔNIBUS, NOITE.
VOLTA em LUPE, com os
braços cruzados, vendo a chuva. Não demora e seu rosto é atingido em cheio por
um buquê de flores cravos brancos, jogado da janela do carro de Martin,
estacionado ao seu lado. Ele, surpreso, e irado, se abaixa para agarrar o
buquê.
LUPE — Olha aqui,
seu filho da… Ei, volta aqui, mostra a sua cara! Cretino!
Lupe bate no vidro,
levantado, da janela. O carro parte poucos segundos depois, com a abertura do
sinal. Ele, na chuva mesmo, levanta o buquê para cima.
LUPE — Eu te pedi
flores, por acaso? Por que você não enfia esse buquê no…
O som da sua voz é cortado
pelo barulho do trânsito e das buzinas da rua. Seu rosto é iluminado por um
farol.
LUPE — Abusado.
CAM. Lupe avista o ônibus
parando no ponto, bem à sua frente.
LUPE — Ah, também
já não era sem tempo!
Lupe olha o buquê de
cravos brancos e os joga no chão, indo em direção ao ônibus. CAM foca no buquê,
jogado no chão, numa poça de água, iluminado unicamente pelo farol do ônibus.
O ônibus passa por cima do buquê de flores.
Fim das CENAs SECRETAs
Agora, sim, fim da série.
No Te Pido Flores
Temporada 1 | Capítulo 10
Criado e Escrito por:
Everton Brito
Produtora:
Everton Brito Produções
Elenco Principal:
Lupe – Ícaro Silva
Lupita – Aline Dias
Martin – Rômulo Estrela
Esmeralda – Pamela Tomé
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