NO
EPISÓDIO ANTERIOR
Cristóvão: (indo até o telefone)
esse fio de telefone foi cortado... (examinando o fio do telefone.)
Milena: bem, preciso terminar de
preparar o jantar. (sai.)
Cristóvão: há alguma extensão?
Gilberto: sim. Há uma em nosso
quarto.
Cristóvão: quer fazer o favor de
experimentá-la, por favor?
Gilberto sai pela escada. Cristóvão
fica olhando até onde o fio vai dar. Caminha até a janela. Depois pula para
fora e desaparece por um momento.
Beatriz aparece com um livro na mão. Vai até a lareira, atiça mais o fogo,
liga o rádio. Está tocando a música: meu mundo caiu, de Maysa. Senta na
poltrona, e começa a ler o livro. De repente a luzes se apagam. Ela se assusta.
Beatriz: quem apagou a luz? Que
brincadeira de mal gosto é essa, hein?
Aumenta o volume do rádio. Ouvimos
ruídos de alguém que se asfixia e que luta em sua defesa.
Milena aparece.
Milena: que escuridão é essa? Será
que foi a chuva? Meu deus. Só faltava essa!
Ela acende as luzes. Vai até o
rádio e desliga. Ao olhar pro lado ver beatriz caída ao chão, morta.
Milena: (grita de pavor) aaahhhh!!
Socorro! Acudam aqui!
Todos aparecem, assustados com o
grito. E veem beatriz morta ao chão.
Clima de tensão, suspense. Todos se
entreolham, cúmplices e desconfiados.
Gilberto vai consolar Milena.
Cristóvão aparece.
Cristóvão: aconteceu o que eu
previa. Um hóspede sai de cena.
Close no corpo de beatriz fundindo
com os olhos arregalados dos demais hóspedes.
Fade-out
NO
EPISÓDIO DE HOJE
Cena 1. Externa – takes do rio de
janeiro – noite.
Movimento frenético nas ruas, avenidas
etc.
Cena 2. Interna – hotel resplendor
– saguão – noite.
Todos estão ali, chocados. O corpo
de beatriz já foi removido. Todos estão reunidos na sala. Cristóvão, no comando,
sentado. Milena, de pé, os outros, sentados: marcos na poltrona grande, Cristiano
numa cadeira, Gilberto na escada. Cassandra no sofá e plácido mais afastado.
Cristóvão: agora, senhora Milena,
procure pensar...
Milena: não consigo. Minha cabeça
está anestesiada.
Cristóvão: dona Beatriz campos foi morta quando a
senhora chegava da cozinha. Tem certeza de que não viu nem ouviu ninguém?
Milena: não, acho que não. Aqui
dentro só havia o rádio ligado a todo volume. Eu não consigo imaginar quem
poderia fazer isso.
Cristóvão: foi essa, claramente, a
intenção do assassino... Ou assassina.
Milena: como é que eu ia poder
ouvir qualquer outra coisa?
Cristóvão: era impossível.
Milena: eu acho, mas não tenho
certeza, que ouvi uma porta ranger e fechar-se, exatamente quando eu saí da
cozinha.
Cristóvão: que porta?
Milena: eu não sei.
Cristóvão: tente pensar. Foi lá em
cima?
Milena: (em choro.) estou dizendo
que não sei. Não tenho nem sequer a certeza de ter ouvido alguma coisa.
Gilberto: (indo até a mulher)
espera aí, detetive. Será que não pode parar de atormentá-la? Não vê que está
exausta?
Cristóvão: estamos investigando um
assassinato, senhor Gilberto. Até agora, ninguém levou nada disso a sério. A
senhora Beatriz não levou. Escondeu de mim determinadas informações. E sei que
todos escondem alguma coisa. Lembrem-se,
pode haver outra morte.
Gilberto: outra? Mas por que uma
outra morte aqui?
Cristóvão: porque só havia dois
endereços no livrinho que encontramos. No número 24 da rua marquês de Abrantes
só havia uma vítima possível. Ela está morta. Mas, aqui, no Andaraí, o campo é
bem mais amplo.
Cassandra: tolices. Por certo seria
uma coincidência muito pouco provável que houvesse duas pessoas, trazidas aqui
pelo acaso, ambas com participação no caso da fazenda de campos?
Cristóvão: em determinadas
circunstâncias a coincidência não seria tão grande assim. Raciocine, senhorita Cassandra.
Agora eu quero anotar com muita clareza onde cada um estava quando a senhora Beatriz
foi assassinada. Já tenho a declaração da senhora Milena. (Caminha até ela) o
rádio estava a todo volume e a sala estava escura. A senhora acendeu a luz, viu
a senhora Beatriz e gritou.
Milena: é. Eu gritei. Depois
apareceu todos.
Cristóvão: exato. E todos chegaram mais ou menos ao mesmo
tempo. (para Gilberto) e o senhor, onde estava quando ouviu os gritos de sua
esposa?
Gilberto: ainda estava no quarto. O
senhor pediu pra que eu verificasse a extensão do telefone. Que também estava
muda. Eu olhei pela janela para ver se encontrava algum sinal de que o fio fora
cortado, mas não consegui nada. Justamente quando estava tornando a fechar a
janela ouvi Milena gritar e corri aqui para baixo.
Cristóvão: tais ações, muito
simples, tomaram-lhe um tempo um tanto longo, não foi, senhor Gilberto?
Gilberto: eu acho que não.
Cristóvão: eu diria que o senhor,
nitidamente, demorou-se no que fez. (agora para Cristiano) e agora, senhor Cristiano
soares, diga-nos onde estava.
Cristiano: eu fui à cozinha, para
ver se podia fazer alguma coisa para ajudar a senhora Milena. Eu adoro cozinhar.
Depois simplesmente fui para o meu quarto.
Cristóvão: por quê?
Cristiano: não acha a gente ir para
o quarto uma coisa natural? Às vezes a gente quer ficar sozinho.
Cristóvão: então o senhor foi para
o seu quarto porque queria ficar só?
Cristiano: eu queria apenas me
arrumar. Pentear os cabelos.
Cristóvão: pentear o cabelo?
Cristiano: sei lá. O fato é que era
lá que eu estava.
Cristóvão: e o senhor ouviu a
senhora Milena gritar?
Cristiano: ouvi.
Cristóvão: e desceu?
Cristiano: desci.
Cristóvão: é estranho que o senhor
e o senhor Gilberto não tenham se encontrado na escada. (Cristiano e Gilberto
se entreolham.)
Cristiano: eu desci pela escada de
serviço. Fica mais perto do meu quarto.
Cristóvão: o senhor foi para o seu
quarto pela escada de serviço ou passou por aqui?
Cristiano: eu subi também pela
escada de serviço.
Cristóvão: (para Plácido) e o
senhor, senhor Plácido Gutierrez?
Plácido: eu já lhe disse. Eu estava
tocando piano na sala de visitas.
Cristóvão: alguém ouviu o senhor
tocar piano?
Plácido: acho que não. Eu estava
tocando muito baixinho.
Cristóvão: o senhor estava tocando
piano baixinho.
Plácido: sim. Muito alto não gosto.
Toco só pra mim, logo porque só eu mesmo entendo. (ri) logo em seguida ouço a
senhora Milena gritar.
Cristóvão: o senhor Gilberto lá em
cima. O senhor Cristiano também, lá em cima. O senhor plácido na sala de
visitas. E a senhorita Cassandra?
Cassandra: eu estava tentando
enviar um e-mail do meu tablet na biblioteca.
Cristóvão: e ouviu os gritos?
Cassandra: sim. Ouvi.
Cristóvão: e o que fez?
Cassandra: vim para cá.
Cristóvão: diz que estava enviando e-mail
do seu tablet quando ouviu a senhora Milena gritar?
Cassandra: exatamente.
Cristóvão: e ao ouvir os gritos
correu para cá?
Cassandra: sim.
Cristóvão: no entanto parece não
ter enviado nenhum e-mail.
Cassandra: sim. Enviei.
Cristóvão: como diz que enviou se
os fios do telefone foram cortados, sendo que internet aqui vem através dele?
Não é, senhor Gilberto?
Gilberto: sim. Mas já alguns dias
que não tinha mais, devido a falta de pagamento.
Cristóvão: a senhora mentiu,
senhorita Cassandra? Por que?
Cassandra fica sem jeito. Sai para
o lado.
Cristóvão: responda, senhorita.
Cassandra: (com raiva) isso não é
da sua conta.
Cristóvão: é possível que não.
Cassandra: não, mesmo.
Cristóvão ri, sai para o lado, indo
até marcos.
Cristóvão: e agora, o senhor Marcos
Dutra. No depósito que estava, não?
Marcos: sim. Fica lá nos fundos.
Tinha uma porção de coisas velhas e equipamento esportivo. Quando mais jovem fui jogador de futebol de
várzea.
Cristóvão: interessante! Mas
estamos investigando um assassinato. O fato vital é que cada um dos senhores
esteve sozinho no momento em que foi cometido o crime.
Gilberto: detetive, o senhor está
falando como se todos nós estivéssemos sob suspeita. Isso é absurdo!
Cristóvão: em casos de assassinato,
todos são suspeitos!
Gilberto: mas o senhor tem uma boa ideia
de quem matou aquela mulher em botafogo. Um rapaz mentalmente anormal que teria
agora trinta e poucos anos. Pois então, só há uma pessoa aqui que se enquadra
nessa descrição. (aponta para Cristiano)
Cristiano: o quê? Mas isso é um
absurdo, senhor Gilberto. (olha pra todos, sem jeito) vocês estão contra mim.
Todo mundo é sempre contra mim. Vão dar um jeito de jogar esse assassinato em
cima de mim. Isso é perseguição.
Marcos: calma, rapaz, calma.
Milena: está tudo bem, Cristiano.
Ninguém está contra você. (para Cristóvão.)
diga a ele que não vai prendê-lo.
Cristóvão: eu não vou prender
ninguém. Para prender eu preciso de provas. E, por enquanto, eu não tenho
provas.
Gilberto: Milena, eu acho que você
está louca. (para Cristóvão) e você também. Só há uma pessoa que se enquadra na
descrição e eu acho, por medida de segurança, que ele deveria ser preso. É o
mais justo a se fazer.
Milena: espere aí, Gilberto, espere
aí. Detetive, será que eu posso falar com o senhor um momento?
Todos saem.
Gilberto: eu vou ficar.
Milena: não, Gilberto. Você também,
pode ir.
Gilberto: (insistindo) eu vou
ficar. Não sei o que deu em você, Milena. Você nunca teve segredos comigo.
Milena: por favor.
Gilberto a olha com certa
impaciência, e sai.
Cristóvão: muito bem, o que é que
tem a me dizer?
Milena: detetive, o senhor acredita
que esse assassino louco deve ser alguém ligado aquela família. Mas isso o
senhor tem certeza.
Cristóvão: estou partindo de
probabilidades. Tudo indica um mesmo caminho: instabilidade mental, mentalidade
infantil, enfim...
Milena: e por isso tudo parece
apontar para Cristiano. Mas eu não acredito que seja ele. Tem de haver outras
possibilidades. Alguma informação dessa criança. O senhor não sabe onde ele
está agora?
Cristóvão: não temos nenhuma
informação. Encontrá-lo pode levar muito tempo.
Milena: mas é possível?
Cristóvão: é possível, sim.
Milena: de modo que o assassino
poderia ser de meia-idade, ou até mesmo velho. (pausa.) quando eu disse que a
polícia havia telefonado, o senhor Marcos Dutra ficou terrivelmente
transtornado. De verdade. Eu vi o rosto dele como ficou.
Cristóvão: (pensando.) o senhor Marcos
Dutra?
Milena: de meia-idade. Ele parece
ser uma pessoa ótima e perfeitamente normal.
Cristóvão: alguma outra sugestão?
Milena: bem, o senhor plácido ficou
sem jeito quando eu disse que a polícia havia telefonado. Até Cassandra também
notou.
Cristóvão: a senhora está muito
ansiosa, não está, de que não seja Cristiano soares?
Milena: ele parece, sei lá, tão
desamparado. E tão infeliz.
Cristóvão: e lembre-se de que o
assassino sussurrava. A voz as vezes podem nos trair. E poderia ter sido uma
mulher.
Milena: Cassandra?
Cristóvão: sem dúvida, senhora Milena,
as possibilidades são muitas. Há, por exemplo, a senhora.
Milena: (assustada) eu?
Cristóvão: sua idade é mais ou
menos a certa e há, também, o seu marido.
Milena: Gilberto? Mas que coisa
ridícula!
Cristóvão: o que é que a senhora
sabe a respeito de seu marido, senhora Milena?
Milena: o que é que eu sei a
respeito de Gilberto? Ora, não seja tolo.
Cristóvão: há quanto tempo estão
casados?
Milena: há exatamente dez anos.
Cristóvão: e onde se conheceram?
Milena: na faculdade em São Paulo.
Estávamos na mesma turma.
Cristóvão: conhece a família dele?
Milena: estão todos mortos.
Cristóvão: todos mortos?
Milena: é. Mas o senhor está
fazendo tudo soar muito diferente. O pai dele era advogado e a mãe morreu
quando ele era criança.
Cristóvão: a senhora está apenas me
dizendo o que ele lhe disse. Não tem, pessoalmente, conhecimento desses fatos?
A senhora ficaria surpresa, se soubesse quantos casos semelhantes ao seu nós
recebemos. (pausa) quanto tempo fazia que a senhora conhecia o senhor Gilberto
antes de se casarem?
Milena: três semanas.
Cristóvão: e não sabe nada a
respeito dele?
Milena: isso não é verdade. Eu sei
tudo a respeito dele! Eu sei exatamente que tipo de pessoa ele é. É
inteiramente absurdo sugerir que ele seja um assassino. (grita) eu não
acredito!
Cristóvão a olha, sorri, e sai.
Cristiano aparece vê Milena sozinha e vai até ela.
Cristiano: senhora Milena!
Ela tem um sobressalto.
Milena: que susto você me deu!
Cristiano: onde está ele? Onde é
que ele foi?
Milena: quem?
Cristóvão: o detetive.
Milena: foi lá pra dentro.
Cristiano: há algum lugar onde eu pudesse me esconder,
neste hotel?
Milena: esconder?
Cristiano: dele.
Milena: por quê?
Cristiano: todos eles estão tão
contra mim. Vão dizer que fui eu que cometi esses assassinatos. Especialmente o
seu marido.
Milena: deixa ele para lá. Você não
pode continuar fugindo de tudo a vida inteira.
Cristiano: por que é que você diz
isso?
Milena: a verdade. Mais dia menos
dia você vai ter de crescer, Cris.
Cristiano: (infantil) mas eu não
queria.
Milena: seu nome não é Cristiano
soares.
Cristiano: (olha pra ela surpresa,
depois revela) não.
Milena: e você, de verdade, não
está estudando arquitetura, está?
Cristiano: não.
Milena: como é o seu nome
verdadeiro?
Cristiano: não precisamos falar
nisso. Você acha que eu tenho de
enfrentar as coisas.
Milena: falando francamente, que
outra saída existe?
Cristiano: o detetive Cristóvão
pensa que eu sou o culpado.
Milena: não pensa, não. Pelo menos,
eu não sei o que é que ele pensa. Eu o odeio...
Cristiano: quem?
Milena: o detetive. Ele mete coisas
na cabeça da gente. Coisas que não são verdade, que não têm a menor
possibilidade de ser verdade.
Cristiano: não acredita em quê?
Ponha tudo para fora!
Milena: eu não sei o que o detetive
pensa. Mas ele sabe fazer a gente pensar coisas a respeito dos outros. Você
começa a indagar, a duvidar. Começa a sentir que talvez a pessoa que você ama
seja um desconhecido. (Sussurrando) é isso o que acontece em um pesadelo. Você
está não sei onde, no meio de amigos e, de repente, olha para eles e eles não
são mais seus amigos, são outras pessoas fingindo. Talvez não se possa confiar
em ninguém. Talvez todo mundo seja estranho.
(leva as mãos ao rosto, preocupada.)
Cristiano com um gesto carinhoso, a
consola. Gilberto aparece nesse instante, e percebe o clima entre eles. Milena
sai para o lado, Cristiano senta-se no sofá.
Gilberto: estou interrompendo?
Milena: não, querido. Eu tenho de
ir para a cozinha, ver como estão as coisas.
Cristiano: eu vou ajudar.
Gilberto: não vai não.
Milena: Gilberto!
Gilberto: os tête-à-tête não são
muito aconselháveis no momento. (se aproximando de Cristiano) você fique fora
da cozinha e longe da minha mulher.
Cristiano: olhe aqui...
Gilberto: (furioso.) Fique longe da
minha mulher. Ela não vai ser a próxima vítima.
Cristiano: então é isso que você
pensa de mim? Que sou um assassino?
Gilberto: eu já tinha dito, não
tinha? A descrição encaixa direitinho em
você.
Cristiano: não é só em mim que ela
encaixa.
Gilberto: eu não vi nenhum outro
candidato.
Cristiano: como você é cego. Ou
será que só finge que é?
Gilberto: digo-lhe que estou
preocupado por causa da minha mulher.
Cristiano: eu também. E não vou
deixar você aqui sozinho com ela.
Gilberto: como é que é? (pegando-o
pelo colarinho) o que você está insinuando, filho duma égua?
Milena: por favor, Cristiano, vá
para o seu quarto.
Cristiano: não vou.
Milena: por favor, vá. Estou
falando sério...
Cristiano encarando Gilberto, se
solta dele e sai.
Gilberto: mas que história é essa?
Você deve estar maluca. Pronta para se trancar na cozinha com um assassino. Um
débil mental desse. Sei lá o que isso é.
Milena: ele não é nada disso.
Gilberto: basta olhar para ele e
ver que é pancada da cabeça.
Milena: não diga besteira. Ele só é
infeliz. Estou lhe dizendo, Gilberto, ele não é perigoso. Se fosse, eu saberia.
E, além disso, eu sei me cuidar.
Gilberto: isso era o que a senhora Beatriz
dizia!
Milena: chega, Gilberto!
Gilberto: mas o que há entre você e
esse desgraçado?
Milena: o que quer dizer: entre
nós? Eu só tenho pena dele.
Gilberto: vai ver que vocês já se
conheciam antes. Vai ver que você sugeriu que ele viesse aqui e que vocês
fingissem que estavam se conhecendo agora. Vocês planejaram tudo, não foi?
Milena: (ofendida) como ousa
sugerir uma coisa dessas?
Gilberto: é meio estranho, não é,
ele vir parar em um lugar tão isolado quanto este? (pegando-a pelo braço) onde
foi que você o conheceu? Há quanto tempo vocês estão nisso? Vamos, fala!
Milena: você está sendo
absolutamente ridículo. Eu nunca o vi na minha vida. (se soltando, e começa a
chorar)
Milena: me larga! E não aproxime-se
mais de mim. (Gilberto a solta) não me toque.
Gilberto: você foi a barra da
tijuca para se encontrar com Cristiano Soares, não foi? E o desgraçado ainda
diz que é de Petrópolis.
Milena: não seja idiota.
Gilberto: então qual foi o motivo
da sua ida até lá?
Milena: (sem jeito) eu não vou
contar.
Gilberto: eu tenho a impressão de
que não conheço mais você.
Milena: é possível que você nunca
tenha me conhecido. Há quanto tempo estamos casados? Dez anos? Mas você
realmente não sabe nada a meu respeito. Nada do que eu fiz ou senti ou sofri
antes de você me conhecer.
Gilberto: você está maluca...
Milena: sou maluca! Por que não?
Talvez seja bom ser maluca!
Plácido aparece
Plácido: o que é isso! Espero que
não digam coisas que não pensam. É tão fácil começar uma dessas brigas de
namorados ...
Gilberto: brigas de namorados! Ora,
essa é boa!
Plácido: isso mesmo. Eu sei
exatamente como se sentem. Passei eu mesmo por tudo isso, quando era jovem. Faz
muito tempo que se casaram?
Gilberto: isso não é da sua conta.
Plácido: claro que não.
Cristóvão aparece preocupado.
Cristóvão: o senhor mudou a minha
moto de lugar, senhor Gilberto?
Gilberto: não. Por quê?
Cristóvão: não encontra mais lá.
Cristiano aparece.
Milena: graças a deus. Então, você
não foi embora.
Cristóvão: o senhor viu minha moto,
senhor Cristiano?
Cristiano: (surpreendido) sua moto,
detetive? Por que eu havia de saber?
Cristóvão: alguém roubou minha
moto. Minha única oportunidade de comunicação com o mundo exterior. Quero todos
aqui, imediatamente.
De repente como um toque de mágica
todos aparecem. Marcos vindo da biblioteca, e Cassandra vem descendo a escada.
Marcos: outro interrogatório?
Cristóvão: não, senhor Marcos.
Agora trata-se de um roubo.
Cassandra: roubo?
Cristóvão: roubaram minha moto.
Marcos: e o que nós tem haver com
isso? Como acha que nós podíamos ter roubado sua moto se estamos todos presos
aqui? Que tolice!
Cristóvão: o fato é que foi
roubada. Ninguém aqui viu, ou lembra ter
visto minha moto próximo ao depósito nos fundo da cozinha?
Marcos: sim. Eu recordo ter visto,
sim. Mas depois, não o vi mais. Até pensei que o senhor tinha ido embora.
Cristóvão: não o viu mais lá?
Marcos: não.
Cristóvão: o senhor tem de se
lembrar.
Marcos: não adianta gritar comigo,
rapaz. De modo que não sei dizer se a droga dessa moto estava em outro lugar.
Que me interessa saber. O senhor que é o dono é quem deve se preocupar.
Cristóvão: me desculpem. Não
gostaria de está dando esse transtorno a vocês.
Gilberto: mas, a questão é: quem
roubou esta moto? Que interesse tinha em roubá-la? Debaixo desse temporal? No
mínimo estranho.
Marcos: deve ser possível
encontrá-los. Se todos nós procurarmos. Não se trata exatamente de uma agulha
no palheiro.
Cristóvão: também não é assim. Isso
pode ser exatamente o que estão querendo que nós façamos.
Marcos: desculpe, mas não
compreendi.
Cristóvão: eu estou, agora, na
posição de ter de me colocar no lugar de um cérebro louco, porém ardiloso.
Tenho que imaginar o que ele quer que nós façamos e o que ele estará planejando
como seu próximo golpe. Tenho que tentar ficar um passo adiante dele. Porque,
se não ficar, haverá outra morte.
Cassandra: o senhor continua
acreditando nisso?
Cristóvão: continuo, senhorita.
Estamos como ratos. A ratoeira já foi posta. Dois ratos já estão liquidados.
Ainda há um rato a ser providenciado. Há seis pessoas aqui me ouvindo. Uma
delas é a vítima, e a outra... O assassino!
Suspense. Tensão. Todos se
entreolham desconfiados. Um forte trovão assustam eles. As janelas batem com
força. Um clima de horror.
Efeito: um corvo solta um granido,
sobrevoa sob a tela, congelando a imagem.
Fim
do quarto episódio
A
Tempestade
Temporada 1 | Episódio 4
Criado
e Escrito por:
Nathan Freitas
Elenco:
Gilberto Reis
Milena Reis
Cristiano Soares
Beatriz Campos
Marcos Dutra
Cassandra vieira
Plácido Gutierrez
Cristóvão Alencar
Rajax © 2021
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