ATO DE ABERTURA
SIRENES de polícia.
NILO
(V.O)
Hoje é um dia movimentado. O barulho parecia competir com os meus pensamentos.
Eu tava preocupado; sentia de longe o cheiro de pólvora...
FADE IN
CENA
1 EXT. - RUAS DA CIDADE – DIA
Um OUTDOOR anuncia a nova temporada de
SEAS, em um vermelho impactante. Até que uma RAJADA de tiros atinge as fuças de
Enrique Díaz.
GRITOS.
Descobrimos um cenário imergido no caos.
Mais TIROS cobrem as calçadas, engarrafa o trânsito e afugentam as pessoas;
muitas saltam para o interior das lojas.
CAM TRAVELLING acompanha dois pares de
pés masculinos correndo freneticamente. Muito ritmo.
Vista aérea do Centro do Rio, entre a
Praça da república e o Campo de Santana.
VOZ MASCULINA #2
(O.S / pelo rádio)
Acabei de vê-lo, comandante. Tá indo em direção ao Campo de Santana. Câmbio,
desligo.
Um helicóptero da polícia militar invade
a tela e um agente está na porta, segurando um rifle.
Corta imediatamente para um RAPAZ
(magro, loiro, uns 25 anos) correndo desenfreadamente pelas ruas, ao lado de
outro rapaz (moreno, 30 anos, estatura mediana). Atravessam a pista — buzinas
soam —, saltam carros, até entrarem no
CAMPO DE SANTANA
E continuam a fuga pelo vasto campo.
Assim que somem da CAM, um ÂNGULO BAIXO revela um par de sapatos masculinos, à
espreita. CAM vai subindo, revelando as roupas sociais e o sobretudo negro. As
mãos enluvadas seguram uma arma de cano longo posicionada na direção dos
fugitivos. A arma cobre a tela.
É quando o primeiro rapaz TROPEÇA e cai
de cara no chão.
DIRETOR
(O.S)
CORTA!
A CAM se afasta e revela um SET de
filmagens, funcionários e curiosos assistindo. O diretor (moreno, 46 anos,
barba por fazer) vai até os atores.
DIRETOR
(nervoso)
É a segunda vez que você tropeça, Víthor.
VÍTHOR
(arrogante)
Não tem um dublê pra essas cenas, não? Eu já fui protagonista da minissérie da
UP, Jack. Se acontecer alguma coisa comigo /
JACK
(por cima)
Você será substituído. Agora vê se cuida desse joelho, que ainda temos algumas
horas.
A cena ganha distância e descobrimos
Nilo (loiro, olhos azuis, 33 anos, barba mal feita, visual parrudo, com jeans e
camisa social) e Lila (negra, olhos verdes e toda de social) assistindo a tudo.
NILO
(braços cruzados / pensativo)
Aquele garoto não fez o psicopata em Gato Preto?
LILA
Ele mesmo. O que achou?
NILO
Ele foi um bom psicopata.
Lila sorri e abraça-o.
LILA
Ah, eu achei ele uma gracinha. (olha, sedutora) Só não tem o mesmo corpo.
NILO
(espia, se achando)
Eu exigiria o Marco Pigossi para me interpretar. Tem o mesmo tipo que eu, não
concorda?
Ambos riem e saem da tela. PLANO GERAL
em toda área cercada por pessoas e câmeras. Até que THALES (35 anos, loiro,
olhos claros, cabelos curtos e alinhados) surge a nossa frente com cara de
poucos amigos. Acaba de espionar Nilo e Lila, enquanto manuseia uma câmera.
CENA
2 EXT.
- RUAS DA CIDADE – DIA
SONOPLASTIA: Welcome
To The Jungle – Guns N’ Roses
Nos takes da cidade, o Largo da Carioca
movimentada, camelôs vendendo suas mercadorias em estreitas ruas e calçadas. No
passa e repassa da grana. CAM BUSCA os arranha-céus, até focar em um dos
prédios.
CENA 3 INT. -
NOVO DIA / SALA DE REDAÇÃO – DIA
FIM DA SONOPLASTIA
Thales invade o local, retira a câmera
do pescoço e quase SOCA-O na mesa.
THALES
(imitando)
“Eu exigiria o Marco Pigossi para me interpretar”. Exigiria o quê? Exige nada,
seu imbecil!
Os colegas percebem, mas continuam seus
trabalhos diante do computador. MURILO (negro, 40 anos, alto, forte)
aproxima-se com um sorriso de deboche. Pisca para PAULINHA (morena, cabelos
longos e pretos, 28 anos). Ela esconde o riso.
MURILO
Teve problemas lá na gravação, Thales?
THALES
A gravação é o problema, Murilo. (senta na cadeira / quase cospe ao falar)
É por isso que o Brasil não vai pra frente, viu? O povo prefere tomar como
herói um sujeito que quase trouxe a terceira guerra mundial.
MURILO
Não exagera, Thales! Não gosto dele, mas ele também não é nenhum mercenário.
THALES
(ignora)
Agora ele tava lá, analisando o desempenho do ator. Lembra do primeiro, né? O
que aconteceu com ele.
AMORA (branca, 36 anos, cabelos longos,
toda classuda) aparece por uma porta. Thales saca.
CENA 4 INT. -
NOVO DIA / ESCRITÓRIO – DIA
Thales, nervoso, anda de um lado para o
outro em um ambiente frio, com chão de taco e móveis escuros. O rosto dele
chega a suar.
THALES
Eu sei, eu sei! Mas ainda existe uma parcela que apoia esse cara, Amora. Se
esse filme sair, vai ser a glória pra Carioca News.
A CAM gira rapidamente para mostrar
Amora, sentada atrás de uma mesa muito bem organizada. A placa revela seu
cargo: Amora Molinos – Chefe de redação.
AMORA
Eu não quero saber de parcela, Thales. Quero todos contra esse jornalzinho.
Você tem sido bem incisivo em suas matérias, mas eu preciso de alguma coisa que
faça Nilo e sua turma caírem de vez.
Thales apoia as mãos sobre a mesa.
THALES
Então me dê uma pista, Amora. A reputação do filme não foi abalada com aquilo
que aconteceu. O que pode ferir a reputação de todos eles?
Amora se levanta, cheia de atitude.
Olhar firme e maquiavélico.
AMORA
É de uma boa história que eles gostam. Arranje uma, Thales. Provoque, insinue,
jogue com o Nilo. Faça as pessoas pensarem. Nenhum herói tem um amigo rico como
Vinnie Ludwig à toa.
Thales sorri, esperançoso.
CENA 5 EXT. -
MANDRAKE PUB – DIA
Rua estreita, fechada, cercada por
prédios enormes. Cenário com cara de vila. Na fachada da PUB com uma porta de
vidro fumê. No alto, uma placa negra exibe o seguinte nome em letras vermelhas:
“MANDRAKE PUB – Pub & Poker & Vodka”. Ao lado, a figura do mágico
Mandrake.
CENA 6 INT. -
MANDRAKE PUB / SALÃO – DIA
Um ambiente requintado e agradável.
Tapetes escuros e estampados contrastam com mobília vermelha e preta, cercada
por pequenos candelabros; a prateleira logo atrás do bar repleta de garrafas
caras não limitando-se a vodca. CAM destaca as bebidas Smirnoff, Jack Daniels,
Johnny Walker e Absolute Vodka.
Mesas redondas e cadeiras circundam o
local, repleto de bandeiras da Rússia e Brasil. Paredes revelam fotos
emolduradas de clientes e shows. Uma mesa de poker em uma área reservada logo
ali.
HOMEM #1
(O.S)
Separei o que me pediu, Vinnie. A segunda melhor vodka da casa.
Um homem loiro, 33 anos, cabelos médios
e cacheados, todo de terno branco, desce por uma escada ajeitando o paletó.
VINNIE
Ah, Willian, o que seria de mim sem a sua eficácia?
Vinnie, um sujeito elegante, cheio de
pose, voz classuda, aproxima-se do amigo (calvo, moreno, 50 anos) e segura a
garrafa de Sminorff Black.
VINNIE
Acho que desta vez não errarei no presente, não é, meu caro amigo?
WILLIAM
Se me permite, Vinnie, uma Kauffman nunca é um erro; seu amigo é que não tem
bom gosto.
Vinnie gargalha.
VINNIE
É difícil agradar os justiceiros, nobre amigo.
WILLIAM
Mando entregar como sempre?
Vinnie dá uma sacada na garrafa e sorri
para William.
CENA 7 EXT. -
CARIOCA NEWS – DIA
Na fachada do prédio imponente trazendo
a logotipo da Carioca News.
CENA 8 INT. -
CARIOCA NEWS / SALA DA REDAÇÃO – DIA
Assim que Nilo e Lila adentram, os
colegas jogam confetes de papel, vibram ao redor dele. Um deles aparece com um
pequeno bolo de morango e duas velas formando o número 33.
LILA
Achou que eu tinha esquecido? Feliz aniversário!
E Lila beija Nilo na boca provocando
burburinhos. Roger (branco, 32 anos, sem barba, com suas roupas despojadas)
surge com uma sacola de presente.
ROGER
Presentinho pro meu brother. Mas ó, se não usar, ficarei mal, hen.
Nilo faz cara de desconfiado e pega a
sacola.
NILO
Se for o que to pensando /
Assim que abre, Nilo quase perde a
coragem, mas mete a mão e apanha uma camisa azul. Ao abrir, exibe a logomarca
do Superman estampada no peito. Os colegas zoam.
NILO
Roger /
ROGER
Eu sei, você amou. Veste, porque nunca se sabe quando você sairá em missão. Tem
que tá preparado pra mostrar ao mundo sua real identidade.
NILO
Roger, ano passado você me deu um sabre de luz.
Roger nem tem tempo de retrucar; um
rapaz cutuca Nilo.
RAPAZ #1
Tem um cara te esperando no estacionamento. Disse que é particular.
ROGER
Hmm...mais alguém lembrou do seu aniversário?
Lila tapeia seu ombro, ambos riem. Nilo
faz careta para Roger.
CENA 9 INT. -
CARIOCA NEWS / ESTACIONAMENTO – DIA
Local pouco iluminado. CAM percorre
lentamente o ambiente cheio de carros, até que Nilo surge, caçando alguém.
Passa por pilastras, CLOSE em seu rosto desconfiado. Uma SOMBRA atravessa logo
atrás.
Nilo olha rapidamente, mas não vê nada.
Suspense.
Quando volta-se, SUSTO.
NILO
Wow! (recupera-se). É você que queria falar comigo?
Vince (loiro, 38 anos, bonitão, barba
por fazer e óculos escuros) trajando roupas sociais, bastante aflito.
VINCE
Eu preciso de sua ajuda, Nilo, pra acabar com Vinnie Ludwig.
NILO
(surpreso)
O quê? Acabar com o Vinnie?
VINCE
Ele mandou matar minha família e fará o mesmo com a sua, com os seus amigos,
com você. Nilo, você é amigo de bandido!
Em Nilo, chocado.
FADE OUT
FIM DO ATO DE
ABERTURA
EPISÓDIO 1
UMA NOITE FRIA NA CAPITAL
PRIMEIRO ATO
FADE IN
Uma porta sendo aberta vagarosamente,
revelando, em vários flashes, as paredes pichadas em preto, dando destaque a
seguinte inscrição: “Fez a minha ira, saia de Valquíria”.
= = FLASHBACK = =
CENA 10 INT. -
CASA DE VINCE – DIA
Legenda: Bairro Valquíria – Cinco meses
atrás
Vince caminha por uma SALA extremamente
bagunçada, gavetas reviradas, porta-retratos no chão, e uma TV ligada exibindo
a novela INIMIGO ÍNTIMO.
Um GEMIDO chama a sua atenção, mas não
vem da novela.
O sujeito retira a sua pistola da cintura e corre pelas escadas até alcançar um
CORREDOR
VINCE
Bruna?
TIROS assustam o cara, que avança sobre
uma porta.
VINCE
BRUNA! BRUNA!
Quando a porta abre, um sujeito moreno,
de olhar vidrado, aponta a arma ao léu.
VICIADO #1
Você chegou, Vince.
Vince ATIRA contra a sua cabeça, ATIRA
novamente, e ATIRA mais uma vez. O viciado finalmente tomba.
Outros DOIS homens visivelmente
alucinados, disparam balas, mas Vince se esconde ao batente da porta, e devolve
tudo na mesma hora. Os bandidos caem no chão e mancham o tapete de sangue.
Vince ENTRA no
QUARTO
e mal pode acreditar: Bruna, mulher
branca de 25 anos, MORTA sobre a cama com sinais de espancamento. Ao lado, em
um berço, muito sangue. Vince larga a arma no chão e CAI de joelhos; põe as
mãos na cabeça. GRITA de ódio.
= = FIM DO FLASHBACK = =
CENA
11 INT. - MEGACAFÉ – DIA
No olhar marejado de Nilo ouvindo tudo
aquilo. Sentado a uma mesa redonda de madeira, diante de uma xícara de café,
Nilo disfarça a emoção na frente de Vince.
VINCE
Foi há cinco meses. Você sabe o que é perder alguém querido, não sabe?
NILO
(disfarça)
A sua esposa era contadora de Vinnie Ludwig? É isso?
VINCE
Eu ouvia rumores, insinuações de que ele tava envolvido com o tráfico. Achei
besteira. Seu amigo, né?
NILO
(por cima)
Não somos amigos /
VINCE
(corta)
Não é isso que dizem por aí.
NILO
Ele diz que é meu fã /
VINCE
Claro! É a imagem do herói nacional.
NILO
(corta brusco) Eu não gosto desse rótulo!
Algumas pessoas percebem. Nilo disfarça.
NILO
Eu não sou um herói. Sou uma pessoa comum. Será que dá pra entender isso?
VINCE
(firme / quase apontando o dedo) Não, não dá não. Essa é a imagem que o teu
jornal vendeu pro povo. É por causa desse rótulo que o Vinnie se instalou no
Brasil (Nilo não o encara). Porque você tem apoio popular, as pessoas se compadecem
pela sua história, cara. Quem se compadece pela minha?
Nilo apoia os cotovelos na mesa, esfrega
a mão na cabeça. Pensa, preocupado.
NILO
E a polícia?
VINCE
Comprada. A polícia é cúmplice do Vinnie, Nilo. Ninguém nunca pegará esse cara
se não for alguém de caráter indiscutível e, principalmente, se não for alguém
que ele admira. (T) Você é esse cara.
NILO
Você tem alguma prova?
VINCE
Prova? E você lá precisa disso pra investigar? Pensei que a tua fama de herói
abrisse portas.
NILO
(bufa)
Eu só preciso saber se você tem alguma coisa que incrimine o Vinnie.
VINCE
Você pode frequentar o Mandrake. (franze a testa) Tá duvidando de mim? (Nilo
nada diz, mas o encara) É isso, você duvida de mim! (tom) Você gosta dele, né?
Dos presentes que ele te dá ou pensa que eu não sei? As vodcas importadas, os
chocolates finos, até viagens ele te ofereceu /
NILO
Vince...
VINCE
(corta)
A minha família foi assassinada por um bando de viciados que mais pareciam
hipnotizados. E teve jornal afirmando que ela era envolvida com drogas por
causa da fama do bairro. Você me deve, cara!
NILO
(tentando manter a calma)
Essa afirmação nunca partiu da Carioca News /
VINCE
Dane-se! Vocês fizeram uma matéria meia-boca. A Lila foi muito mais ponta firme
quando tratou do teu caso, né? Será que o que dizem por aí é verdade? Você é um
falso herói, e agora, defensor de bandido?
Nilo levanta, intempestivo.
NILO
Chega! Você conhece a minha história através de jornais como a Gazeta Carioca e
a Novo Dia, né? O tempo inteiro me alfinetando, jogando na cara. Como você quer
ajuda de alguém em quem você nem acredita?
VINCE
Me faça acreditar então.
NILO
Você me procurou com dúvidas sobre o meu caráter? (T) Obrigado pelo café.
VINCE
Nilo! Nilo!
Nilo vai embora de cara amarrada. Vince
SOCA a mesa.
VINCE
Merda!
CENA 12 INT. -
NOVO DIA / SALA DE REDAÇÃO - DIA
Murilo ri de alguma coisa ao lado de
Paulinha. Um cartão de memória é colocado sobre a sua mesa por Thales.
THALES
Pra ontem, tá?
MURILO
Que isso?
THALES
(mãos na cintura)
São as fotos da minha formatura de quinze anos, que cê acha? (T) São os vídeos
daquela gravação, Murilo.
PAULINHA
Pensei que fossem nudes...
Thales olha sério para a garota. Ela e
Murilo disfarçam o riso.
THALES
(para Murilo)
Deixe claro que ele desaprovou a escolha do ator. Faça insinuações bem
provocantes, diga /
MURILO
(por cima)
Eu ainda sei fazer o meu trabalho, Thales.
Thales o encara, faz que concorda.
THALES
Quanto a você, Paulinha, menos gracinhas, ok?
Paulinha bate continência, e Thales
fecha a cara, saindo dali.
PAULINHA
Enquanto ele não derrubar o Nilo, ele não sossega.
MURILO
Taí uma coisa que eu admiro no Thales.
PAULINHA
Sério?!
MURILO
Sim. Ele tem obsessão pelo que ama.
Ambos riem alto. Thales, tomando café
diante dos colegas, espia a cena. Murilo e Paulinha disfarçam.
CENA 13 EXT. -
RUAS DA CIDADE - DIA
Nilo caminha pela calçada, pensativo,
olhar vago. Escora em uma parede.
INSERIR ÁUDIO
VINCE
(V.O)
Você sabe o que é perder alguém querido, não sabe?
FIM DO ÁUDIO
CLOSE em seu rosto amargurado.
= = FLASHBACK = =
CENA
14 INT. - HOSPITAL CENTRAL / UTI - NOITE
A máquina registra números baixos de
pulsação. Lentamente, CAM nos mostra ARI (uma mulher de pouco mais de 20 anos,
branca, cabelos aloirados) de olhos fechados, entubada, com colar cervical e
feridas no rosto. Ela abre os olhos, absorta. Nilo, mais novo, de máscara
cirúrgica, se curva e toca suas mãos, com os olhos lacrimejando. Ari
corresponde, mas encara o nada, cega.
NILO
Não quero perturbar seu sono.
ARI
(sorri) Tudo bem. Agora que você tá aqui, eu vou ficar bem. Eu vou ficar bem...
Ari dá um suspiro e lentamente fecha os
olhos. Logo depois, ouvimos um som agudo da máquina. Nilo se desespera.
NILO
Ari? Ari, cê tá me ouvindo? (Nilo a sacode) Ari!
= = FIM DO FLASHBACK = =
Uma BUZINA soa insistente. Nilo desperta
de suas lembranças e depara-se com EMÍLIA (morena, 38 anos, cabelos pretos e
médios) ao volante de um Ranger prata 2009.
EMÍLIA
Quer uma carona, bonitão?
Nilo sorri, sacana.
NILO
Só se for pra sua casa.
Ambos sorriem. Nilo contorna o carro,
abre a porta e entra. O Ranger arranca dali.
CORTA PARA
Uma fachada verde e branca, com uma
vitrine transparente exibindo cosméticos diversos. A CAM dá uma GERAL e pega a
placa logo acima: “CRACHÁ VERDE”.
CENA 15 INT. -
CRACHÁ VERDE – DIA
Local pouco movimentado. Paredes e
bancadas brancas e verdes; prateleiras repletas de cosméticos; pequenos
cartazes com chamadas importantes: “Não testado em animais”, “Produtos livres
de petroquímicos e parabenos”, “Preserve o meio ambiente”.
Nilo e Emília adentram, cumprimentam algumas
vendedoras e clientes. Uma das vendedoras é MONI VASCO
disfarçada(morena, cabelos pretos e compridos, 25 anos, rosto faceiro com uma
cicatriz, e um piercing no nariz), espiando a entrada deles. Eles seguem até
atravessar uma porta.
CENA
16 INT. - LABORATÓRIO / CRACHÁ VERDE - DIA
Nilo vislumbra a mesa com vidros e
componentes típicos de um laboratório. Emília, até então, trajando jeans e
blusa de alcinha, apanha o jaleco do cabide e veste-o.
NILO
Alguma novidade, Emília?
EMÍLIA
Sim, acho que tu vai gostar disso.
Emília abre uma gaveta, pega umas folhas
e entrega uma para Nilo.
EMÍLIA
O sangue coletado em uma das vítimas continha dois tipos de benzodiazepínico e
um de LSD, e seu comportamento era muito semelhante a alguns moradores de
Valquíria.
NILO
Euforia, alucinação visual, comportamento agressivo, atitudes induzidas, força
descomunal e morte.
EMÍLIA
A morte pode não ser uma etapa muito rápida, dependendo da dosagem. Nilo, essa
é uma droga altamente hipnótica. Seja lá quem estiver comercializando isso, é
alguém com boa formação em química.
NILO
Por que diz isso?
EMÍLIA
A mistura de drogas não chega a ser mortal. É uma questão de dosagem e bom
entendimento de hipnose. Qualquer um que ministrar essa droga pode ser mentor
da vítima, fazendo-a cometer até um crime bárbaro.
Nilo quase vai para trás; lembra de
algo.
INSERIR ÁUDIO
VINCE
(V.O)
A minha família foi assassinada por um bando de viciados que mais pareciam
hipnotizados. E teve jornal afirmando que ela era envolvida com drogas por
causa da fama do bairro.
FIM DO ÁUDIO
EMÍLIA
Tá tudo bem?
Nilo devolve o papel, meio desnorteado.
NILO
Emília, o cara que perdeu esposa e filha no caso Valquíria me procurou. Ele
acusou Vinnie Ludwig pelo crime.
Emília se surpreende.
EMÍLIA
Você falou pra ele que estamos investigando?!
NILO
Não! Eu nem tinha reconhecido o cara de imediato. A gente acabou brigando. Não
posso contar algo tão sigiloso como isso, mas também não esperava que ele fosse
acusar o Vinnie.
Emília guarda os papéis dentro da
gaveta, não sabe muito bem o que dizer.
EMÍLIA
O que vai fazer?
Nilo anda por ali, mão na cabeça,
confuso.
NILO
Eu não sei, eu /
Entra um rapaz de uniforme policial,
alto, 37 anos. Nilo se assusta.
EMÍLIA
Rafael? Pensei que não voltaria cedo.
RAFAEL
Atrapalho alguma coisa, minha querida irmã? (dá um tapinha no ombro de Nilo)
Fala aí, herói. O que estão aprontando?
NILO
Ahn...Eu preciso ir. A minha folga é só depois do meio-dia (sorri forçado).
Tchau, Emília, qualquer coisa, me liga.
Nilo SAI rápido, deixando Rafael
trocando olhares estranhos com Emília.
SOBE a versão instrumental de Jorginho
Me Empresta a 12, de MC Carol, enquanto a cena FUNDE COM /
CENA
17 EXT. - BAIRRO VALQUÍRIA – DIA
Um cenário pobre. Takes pontuados do
bairro apontam para algumas casas apenas no emboço, muros baixos e pichados,
prédios de conjunto em péssima estrutura. Becos repletos de lojas pequenas,
calçadas tomadas por mercadorias. Uma completa desordem.
Na subida do morro, o comércio
decadente, barra pesada. Um amontoado de casas entre corredores estreitos. Garotos
se drogando nos becos. Mulher estende roupa na laje. Homens trabalham numa
obra. Na porta de um BAR. CLOSE em uma placa de metal acima com a inscrição:
“BAR 94”
CENA
18 INT. - BAR 94 / BAIRRO VALQUÍRIA - DIA
A música vem de alguma rádio do local. O
salão com baixa luminosidade, repleto de mesas. Um cara cabeludo, loiro, sem
camisa, exibindo uma tatuagem de dragão no peito, limpa o balcão, enquanto
risos masculinos invadem o ambiente.
BUTUCA
(O.S)
Mete logo essa porra, caralho!
CAM vai buscar cinco homens jogando
sinuca, um bebendo cerveja, outro fumando. Todos com pinta de malandro. Butuca
(30 anos, negro, de bigode e cabelo rastafári, peito todo tatuado), aguarda a
tacada de Branco (25 anos, loiro, olhos azuis, cara de chapado), que derruba a
bola preta.
BUTUCA
Filho da puta! Quer morrer, malandro?
BRANCO
Depois de você.
ZOAÇÃO, RISOS.
BUTUCA
Vou meter uma tacada nas tuas bolas que tu não vai nem saber pra onde elas
foram, caralho!
BRANCO
Ah, vai à merda, mas antes me pague!
MAIS RISOS. Uma mão feminina DESLIGA o
rádio. Os homens se calam.
= = MUSIC OFF = =
VOZ FEMININA
(O.S /malandra /serena)
Eu posso saber que zona é essa no meu humilde estabelecimento?
Os caras entreolham-se, tensos. CAM
revela Moni Vasco, com sorriso fácil, olhar malicioso, cabelão preto. Traja
blusa preta, calça jeans rasgada; colares prateados e pulseiras variadas.
BUTUCA
Pensei que ficaria no batente até tarde, Moni.
MONI
Aquele serviço tá me matando, brow. To quase dando um teco naquela Emília do
sítio do pica-pau amarelo.
BRANCO
To dentro!
BUTUCA
Aí, pode ser o nosso alvo hoje. Bora passar uma geral hoje à noite?
BRANCO
Fora do bairro?
MONI
Que tem? Gosto de expandir os negócios. É bom que a gente não deixa essa coisa
vegana se espalhar. Vai que pega, bicho?
Os colegas riem, uns até fazem sinal da
cruz.
BUTUCA
Churrasquinho de domingo é sagrado.
BRANCO
Ainda mais se for de inimigo (lambe os beiços).
Moni pega o taco e acerta contra o peito
dele.
MONI
Vê se não vai comer carne podre na minha frente!
O bandido ri.
BUTUCA
Então? Fechado?
Moni caminha entre eles, aproximando-se
da câmera. CLOSE nela, olhar sádico.
MONI
Não. (os colegas atrás não entendem) Arranjem outro alvo. Aquela merda de loja
ainda precisa ficar de pé. A ordem é do Russo. Ouviram?
Os comparsas concordam em uníssono. Em
Moni, insatisfeita.
CENA
19 RUA DA CIDADE – DIA
Nilo anda pela calçada, ao celular. É
quando um rapaz de óculos escuros e boné salta na sua direção. Rapidamente,
Nilo pega-o pelo colarinho e prensa-o na parede, fazendo seu boné cair.
RAPAZ #1
Calma aê! (retira os óculos) Sou eu, Víthor!
Nilo larga dele.
NILO
Mais uma dessa e te jogo no asfalto! Quer me matar de susto?
VÍTHOR
Desculpe. Nossa, você é muito estressado. Eu só queria falar contigo.
NILO
Eu tenho que voltar pra redação. O que quer?
Víthor ajeita a gola da camisa, um pouco
nervoso.
VÍTHOR
Eu preciso da sua ajuda para melhorar o meu personagem, sabe? Jack tá pegando
no meu pé e eu não posso fazer feio.
NILO
Olha, eu avisei pro Jack /
VÍTHOR
(por cima) Eu não quero que as pessoas digam que o filme é uma mentira. Você
não ia querer isso, né?
Nilo faz que concorda com a cabeça, mas
desconfiado.
VÍTHOR
Olha, os livros de Lila Machado contam uma versão poética sobre suas reações a
tudo que passou. Preciso de veracidade, entende? Tipo, como você realmente
reagiu ao ver sua esposa cair do prédio?
Nilo, chocado com o atrevimento.
A CAM BUSCA Murilo, estacionando um
furgão, quando vê a cena. Apressa-se, posiciona a câmera.
VOLTA EM NILO
NILO
(Tom) Você veio até aqui pra me dizer que Lila exagerou? Que eu não sofri da
forma como ela escreveu? É isso?
VÍTHOR
Não, eu só queria saber exatamente como você reagiu, principalmente ao saber
que ela tava grávida /
NILO
Você quer que eu faça uma demonstração também de como reagi diante do
assassino? Quer?
VÍTHOR
Eu sabia que não seria fácil falar contigo, só não imaginava que seria recebido
dessa forma. Depois que o filme sair e as críticas pipocarem, não vá usar o teu
jornal pra me difamar.
Víthor nem tem tempo de sair; Nilo
segura em seu braço, revoltado.
NILO
A Carioca News nunca difamou ninguém. Como pode inventar isso?
VÍTHOR
Lila sabe ser bem dura na hora de queimar o filme de alguém.
NILO
(altera-se)
Ela não queima o filme de ninguém; o filme já vem queimado, ela só esmiúça o
que sobrou. Você nem leu a minha história, senão saberia que eu não vi a minha
esposa cair de um prédio. Ela morreu no hospital!
BAQUE em Víthor. Os dois encaram-se,
fortemente.
VÍTHOR
Desculpe, cara. Confesso que li tem algum tempo e /
NILO
Esse filme tá fadado ao fracasso. Se você não acredita no que tá nos livros, no
que saiu no jornal e nem nos meus depoimentos, então esse personagem não lhe
cabe. Pule fora antes que eu faça você pular.
Nilo é enquadrado ao longe. Víthor vai
embora, tenso. Murilo desliga a câmera, excitado.
MURILO
Thales vai cair pra trás depois dessa (ri).
CAM BUSCA o interior de outro carro com
uma janela sendo fechada. William acaba de fechar e olha para o seu lado.
WILLIAM
O que achou?
Vinnie pensa um pouco, meneia a cabeça.
VINNIE
A velha história do romântico e justiceiro cavalheiro, que perde tudo, mas não
perde sua essência. O que posso fazer por ele?
CENA 20 INT. - RUA
DA CIDADE / SET DE FILMAGENS – DIA
Uma CAM de estúdio invade a cena e
acompanha Víthor correndo desenfreadamente pelas ruas, ao lado de outro rapaz.
CAMPO DE SANTANA
E continuam a fuga pelo vasto campo
exatamente como na CENA 1. O ator de roupas sociais e o sobretudo negro aponta
uma arma de cano longo na direção dos fugitivos. A arma cobre a tela. TRÊS
TIROS acertam as costas de Víthor.
Em CAM lenta, Víthor arregala os olhos,
em pânico. Tomba, de joelhos, e cai de bruços no chão de terra.
JACK
CORTA!
Jack e toda a equipe batem palmas,
enquanto ele se aproxima.
JACK
Excelente, Víthor, excelente! Agora sim, ficou perfeito! Quinze minutos pra
beber água, ok?
Víthor não se move. Seu rosto está
virado de costas para a CAM.
JACK
Não ouviu, Víthor? Tempo tá passando, bora com isso!
O rapaz não responde. O diretor,
irritado, desvira o ator e se surpreende; Víthor está de olhos abertos, inerte.
Jack toca a sua jugular e quase vai para trás.
JACK
Meu Deus! Víthor tá morto!
CLOSE no rosto inerte de Víthor.
FADE OUT
FIM DO PRIMEIRO ATO
Anti-Herói
Temporada
1 | Episódio 1
Criado
e Escrito por:
Cristina Ravela
Elenco:
Aaron
Ashmore - Nilo Rodrigues
Ildi Silva
- Lila Machado
Felipe
Abib - Roger Ribeiro
Igor Ricky
- Vinnie Ludwig
Yasmin
Gomlevsky - Moni Vasco
Thiago
Fragoso - Thales Araújo
Chandelly
Braz - Paulinha Avellar
Sérgio
Menezes - Murilo Guedes
Elenco Secundário:
Larissa
Bracher - Amora Molinos
Mariana
Lima - Emília brito
Bruno Ferrari
- Rafael Brito
Emílio
de Mello - Delegado Moreira
Marcelo
Gonçalves - Toninho
Ricardo
Vianna - Branco
Jonathan
Azevedo - Butuca
Ed Oliveira
- Raul
Blota
Filho - William
Participação especial:
Rodrigo
Hilbert - Vince lemos
Atores convidados nesse episódio:
João Víthor
oliveira - Ele mesmo
Bruno
Garcia - Jack
Trilha sonora:
Welcome to the jungle - Guns n’ roses
Jorginho
me empresta a 12 - MC Carol
Hero -
Skillet
Referência:
CENA
10: cena fez referência ao prólogo do game Max Payne.
Essa obra não possui nenhum
vínculo/contrato com os atores citados acima.
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