AVISO DE GATILHO: O PROGRAMA
DE HOJE NÃO É RECOMENDADO PARA PESSOAS ALTAMENTE SENSÍVEIS OU QUE SOFREU POR
ESTRESSES PÓS-TRAUMÁTICOS. ATENTAR-SE AO CONTEÚDO.
MAS SE VOCÊ JÁ TEM PROBLEMAS
PSICOLÓGICOS E A VIDA DE MAL A PIOR, PORÉM NADA MAIS TE ABALA, FICA AQUI COM A
GENTE. O MÁXIMO QUE PODE ACONTECER É CHORARMOS JUNTOS DA NOSSA PRÓPRIA
DESGRAÇA.
A vida seria perfeita se tudo fosse um mar de rosas e
do jeito que a gente sempre imaginou, não é? Mas infelizmente as coisas não
funcionam dessa forma, senhoras e senhores, ou vocês acham que eu cheguei aqui
tendo tudo de mão beijada? Ai ai, meu sonho! Mas vamos falar da parte trágica
da minha história, peguem os lencinhos de papel nem que seja pra assoar o
nariz, porque vocês vão precisar.
Bom, as tragédias na minha vida/família começou antes
mesmo de eu começar minha carreira (que eu nunca tive) lá em 2008 quando fomos
pegos de surpresa com o falecimento da minha avó materna. Sim, ela já estava
sofrendo de diabetes há um bom tempo e teve suas duas pernas amputadas, pois a
infecção havia se espalhado muito rápido, infelizmente ela não conseguiu
resistir por muito tempo.
Em 2010 que foi quando eu de fato comecei a embarcar
minha carreira, descobri que eu tinha prolapso na válvula mitral, é tipo quando
a válvula do coração fica muito tempo aberta e o sangue não consegue passar de
um átrio para o outro e ele acaba escorrendo por dentro do peito, bizarro, né?
Eu sei, quase morri por conta disso. Incrivelmente os médicos nunca
consideraram isso uma deficiência cardíaca, tanto que eu vivo tranquilamente
com isso e raramente eu sinto dores, mas também quando vem é pra lascar com
tudo.
Depois de uma leve pausa de coisas na nossa vida, eis
que em Novembro de 2011 veio o falecimento do meu avô materno, foi triste! Ele
estava sofrendo de tanta dor e eu acompanhei quando ele ainda morava na casa
dos fundos daqui de casa, o enterro dele foi aqui mesmo, diferente da minha avó
que foi em São Paulo. Na época que meu avô faleceu, minha mãe estava em São
Paulo fazendo consulta porque há anos ela sofria com problemas do coração.
Ah mas vocês estão achando que as desgraças pararam
por aí? Negativo! Em 2012 minha mãe precisou fazer uma nova cirurgia do
coração, eu tive que largar tudo que eu estava fazendo em Brasília pra ficar lá
em São Paulo com ela, me endividei, saí da faculdade (eu não queria mais ficar
mesmo nela) e acompanhei o processo enquanto ela esteve internada, mas... Em
Abril de 2012 ela veio a falecer após uma terceira cirurgia, aí é que minha
vida virou um inferno mesmo! Eu sou o mais velho de 3 filhos, tenho um irmão do
meio e uma irmã caçula.
Pra vocês terem ideia, a gente nem tinha se recuperado
direito da morte do meu avô em Novembro de 2011 que em Abril de 2012 já tivemos
que suportar o falecimento da minha mãe (pai e filha morreram em 4 meses). Daí
por diante tudo desabou e veio desgraças por cima de desgraças, então em 2013 meu
pai decidiu ir para Irecê-BA e levou minha irmã caçula pra morar com os
parentes lá. Hoje minha irmã completou 15 anos e morre de saudades de mim
porque ela sempre foi mais apegada a mim, a pobrezinha teve muitos distúrbios
depois que minha mãe morreu, foi levada pra outro estado e tals, isso é um
golpe pesado pra qualquer criança.
Durante o ano de 2012, a ficha não havia caído completamente,
então foi em 2013 que eu sofri de uma depressão profunda, sério, foi pesada! Eu
só queria morrer e nada mais importa, meu líder dos jovens na igreja, Rogério,
sempre ia lá em casa me aconselhar e dar conselhos e tals e a depressão forte
passou. Mas não se engane, eu continuei com as sequelas até 2017, foi bem, mas
bem difícil passar por isso.
Como se não bastasse, eu tive que assumir uma
responsabilidade que não era minha, chefiar uma casa aos 21 anos e tomar conta
de um irmão adolescente. Eu arrumei um emprego (no qual estou até hoje) e daí
senti na pele a vida de um dono de casa e chefe de família, comecei a ver tudo
de outra forma e sofri ao ver dias que não tinha o suficiente pra eu comer.
Tinha dias que eu só conseguia comer miojo porque não tinha tempo e nem
dinheiro pra uma comida decente.
A minha tia (irmã da minha mãe) ainda ajudou um bom
tempo e ficou aqui na época e tals, mas depois que caiu a ficha: “EU SOU O
HOMEM DA CASA”, isso foi um golpe pesado! Eu praticamente perdi toda a minha
juventude cuidando da casa e do meu irmão e nunca de mim, ou vocês acham que eu
perdi o cabelo por conta de genética da família? Porcaria nenhuma! Perdi o
cabelo de tanto estresse, depressão, traumas, responsabilidades além do que eu
aguentava e por aí vai. Comecei a passar por problemas financeiros gravíssimos,
eu simplesmente não entendia o que estava acontecendo que eu nunca tinha
dinheiro pra nada, aí era uma luz que cortava por aqui, uma água que cortava
por ali e a vida seguiu.
Ao longo dos anos, todos da minha família foram
morrendo gradativamente: Meu primo morreu em um assalto, depois morreu outro
primo meu, se eu não me engano em 2018 a minha avó paterna (a última avó viva)
também faleceu. Em seguida veio alguns tios, e em 2020 (sim, em 2020), dois
tios que eu sempre fui muito apegado morreram e nem deu tempo da gente sentir
direito. Antigamente eu sofria muito, mas... O que é uma morte pra quem já teve
10 mortes na família, né? Uma a mais não ia fazer diferença nenhuma. Eu me
tornei uma pessoa muito fria nesse quesito, não consigo mais sentir
absolutamente nada quando alguém da família ou amigos morrem, acho que a dor me
transformou numa pedra de gelo, não importa quem morra ao meu redor, eu não vou
sentir da mesma forma que antes.
“Credo, Melqui! Você é uma pessoa muito sem coração!”
Talvez possa ser, não te culpo por pensar assim de mim, mas esse é o que eu sou
hoje, eu posso sim ficar triste por um familiar quando morre, mas ficar
depressivo ou parando minha vida como aconteceu com meu avô e minha mãe? Não!
Acho que estou calejado nesse quesito e dificilmente essas coisas me abalam,
mas enfim.
Como todo o castigo pra pobre é pouco, após tudo isso
veio a pressão da igreja: “VOCÊ PRECISA SE CASAR, VOCÊ NÃO PODE FICAR SÓ, VAMOS
ARRUMAR UMA ESPOSA PRA VOCÊ”. Esse foi o maior erro que as pessoas da minha
igreja cometeram, me forçar a uma coisa que eu não queria ou nunca nem cogitei.
Não julgo eles, né? Afinal um rapaz nascido e criado dentro da igreja no auge
de seus 20 e poucos anos já deveria estar ao menos comprometido e com planos de
casamento, certo? ERRADO!
As pessoas da minha igreja queriam manipular as minhas
emoções e decisões, eles achavam que se eu não casasse imediatamente eu seria
infeliz pelo resto da vida, talvez pelo fato de que amigos meus que cresceram
juntamente comigo hoje são casados e tem filhos, então eles acham que eu
deveria seguir exatamente o mesmo caminho deles. NEM A PAU! Não sou obrigado a
seguir os padrões que essa droga de sociedade quer impor em mim, eu ficava
muito puto na época que os obreiros ou irmãs da igreja (porque partiam mais
desse pessoal da velha guarda) diziam: “Ain, Melqui! Você precisa se casar
logo, você precisa de uma companheira, um rapaz crente não pode ficar muito
tempo solteiro.” MANDEI TODO MUNDO IR À MERDA!
Sim, no português mais simples eu “liguei o foda-se”,
mandei todo mundo ir cuidar de suas vidas inúteis que eu cuidava da minha. E
vocês não sabem o quanto foi libertador isso, eu parei de ficar levando em
consideração o que essas pessoas diziam. “Ain, mas um levita da casa do Senhor
precisa se casar”, precisa é mostrar uma fachada pro ministério pra dizer que
tem uma família tradicional brasileira feliz, tudo uma farsa! Prova disso é que
muitos desses meus amigos que se casaram nas pressas por conta da pressão da
igreja, hoje estão divorciados e infelizes. Adiantou alguma coisa? Me diz aí,
bebê!
Mas aí você me pergunta: “Tá, mas você pretende algum
dia se casar e/ou se relacionar com alguém?” Minha resposta mantém intacta e é:
“NÃO”. Porém não estou falando que isso nunca vai acontecer, afinal de contas
os meus planos não são os mesmos dos planos de Deus, certo? Olhem pra mim,
gente! Eu tenho 30 anos, vocês ainda tem esperança que eu vou me casar um dia?
Acorda, Alice!
Agora se eu já me apaixonei? Claro, quem nunca?
Inclusive quero enfatizar aqui se você adolescente está vendo este programa e
tiver a oportunidade de se apaixonar... NÃO SE APAIXONE! Sério, isso vai te
prejudicar de um jeito que você não tem a menor ideia, você vai largar tudo
aquilo que você gosta de fazer pra dar atenção pra uma pessoa que tá cagando e
andando pra você. A pior coisa é justamente quando não é correspondido, olha eu
passei por isso lá em meados de 2016 e foi um verdadeiro inferno! Mano do céu,
se apaixonar é a pior desgraça que pode acontecer na vida de um ser humano, é
doloroso, venenoso, mortal... E o que mais me deixava com raiva é que além de
fazer um estardalhaço no meu emocional, ainda me fazia fugir do meu foco e dos
meus objetivos, porque se tem uma coisa sobre mim que eu afirmo com todas as
letras e caso você não concorde, problema é seu, é que: Eu sou MUITO FOCADO.
Sim! Quando eu projeto algo, eu me comprometo totalmente naquilo e não importa
o que aconteça, então esses amores inúteis começaram a me atrapalhar muito na
minha trajetória e na minha carreira, fiquei sem ânimo pra continuar a fazer
minhas coisas, foi difícil passar por isso, mas eu passei.
E foi daí que eu arrisquei a área musical, sim, eu
sempre gostei de música! Toda minha vida eu cantei na igreja e tals, então um
amigo meu havia aberto um estúdio e eu comecei a gravar com ele. Cara, que
experiência incrível! Eu gravei com ele ao todo 4 músicas, nenhuma era minha,
eram todos covers, mas foi muito bom.
Em 2017 eu lancei o clipe “In Love”, eu me orgulho até
hoje desse trabalho, porque foi o primeiro trabalho audiovisual que foi
produzido totalmente por mim, não paguei ninguém de fora pra fazer tudo (exceto
pela gravação da música em estúdio), tudo foi feito com meu suor. Claro que
tive toda uma equipe me ajudando nas gravações e edição, foi um trabalho lindo!
Bom, após o fim do clipe “In Love”, eu me afastei
novamente do ramo musical, mas isso vai muito pela questão de prioridades
mesmo, eu precisava focar em outras coisas. Tanto que ainda em 2017 que eu
peguei todos da minha igreja de surpresa: Eu anunciava a minha saída definitiva
do grupo de jovens e renunciava o meu cargo de regente e vice-presidente.
A notícia foi um baque tão grande que chegou até mesmo
nos ouvidos das demais congregações, imagino até se fosse sair no jornal
nacional: “MELQUI RENUNCIA CARGO NA IGREJA E SE RETIRA DO GRUPO DOS JOVENS”
(KKKKKKKKKKKKKKKK, desculpa mas eu ri). Então pastores, membros, pessoas do
mundo afora começaram a fazer várias perguntas: Será que ele desviou? Tá em
pecado?
Muitos foram até na minha casa pedindo pra eu
reconsiderar na minha decisão e minha resposta foi curta e grossa: Não e
pronto! Eu já estava cansado de tudo aquilo, 5 anos como regente e três anos
como vice-presidente dos jovens, eu não tinha mais vida, não conseguia fazer
mais nada além daquilo, minha juventude indo embora e eu parado no tempo sem
fazer nada por isso. Eles tinham que entender que eu não era como os outros
jovens e que eu tinha outros objetivos, tudo bem se eles tinham objetivo de
ficar o tempo todo nas dependências da doutrina da igreja, se casar, ter filhos
e piriri pororó, mas eu não! Minha vibe era outra e eu não podia continuar
insistindo numa coisa que não estava mais me fazendo bem.
Então eu saí da mocidade definitivamente, no mesmo ano
após a minha renúncia, fui convidado pra ser regente do grupo de varões (Oi?).
Exatamente, bizzarro, né? Eu ser regente dos varões sendo solteiro e não ter
nenhuma pretensão de se casar ou coisa do tipo? Aí veio o bullying por parte de
membros da igreja: “O Melqui não pode fazer parte do grupo de varões, porque
ele é solteiro, isso não existe”, quando eu soube desses burburinhos e
fofoquinhas sobre mim, aí é que eu aceitei mesmo o convite! Queria uma
experiência nova, sabe? Precisava amadurecer, foi muito bom! Até hoje eu
continuo dando uma força sempre que posso ao grupo de varões, mas agora devido
aos meus outros trabalhos, já não consigo mais ajudar como antes, mas não me
arrependo em nenhum momento de ter entrado e da mesma forma que não me
arrependo de ter saído dos jovens, pois todo mundo precisa “voar” algum dia, e
esse era o meu momento.
Passado tudo isso, eu comecei a pensar que chegou a
hora de eu correr atrás dos meus sonhos e de tudo o que eu sempre quis, e
mandar todo mundo ir pastar com suas opiniões idiotas sobre mim e foi isso que
eu fiz. Em 2018 eu entrei para o teatro! Passei anos “namorando” essa possibilidade
de fazer e finalmente chegou o momento de eu concretizar isso. Querem saber
melhor de como foi a minha inclusão no teatro? Bom, isso vocês vão saber
somente no próximo programa.
Espero que vocês tenham gostado desse segundo episódio, desculpa se eu fiz você chorar, mas eu já estou acostumado a conviver com a desgraça, se ainda tiver chorando, me avise que eu bato na tua cara pra você parar.
E é isso, pessoal! Até o próximo programa neste mesmo
horário e neste mesmo canal!
Melqui
30 Anos
Documentário
| Episódio 2
Produção
Executiva:
Melqui
Rodrigues
Direção
de Fotografia:
Alyson
Lemos
Direção
de Arte Gráfica:
Cristina
Ravela
Direção
Geral:
Kax
Silva
Rajax
© 2021
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