SINOPSE
Melody Grey, sempre foi uma
mulher moderna, porém ligada a velhos costumes. Após ser promovida no trabalho,
ela decide escrever sua nova matéria em sua cidade natal, onde cresceu ao lado
do seu único e verdadeiro amor de infância, que agora está prestes a se casar.
E quando se reencontram, Melody se dá conta de quem sempre o amou e de que ele
é o grande amor da sua vida. Mas e agora? Será tarde demais para viver esse
amor?
AMOR EM TEMPOS MODERNOS
Escrito
por Eduardo Moretti
“Tempos
modernos, belezas de concreto. E o que há de concreto neste mundo moderno? E se
o amor que está bem perto for incerto? Tempos modernos, belezas de concreto.
Amor Em Tempos Modernos.”
Josyas
*****
Manhattan,
Nova York
O sol estava radiante lá fora como
de costume entre os altos e belos edifícios da cidade que fica no centro de NY.
– Com o amanhecer, grande parte da população já estava nas ruas indo para os
seus trabalhos e correndo atrás dos seus sonhos, e com ela não era diferente.
Do alto do seu apartamento no
oitavo andar, sentada de frente para o seu notebook, ela escrevia todas as
manhãs tomando seu café expresso, antes de sua corrida matinal. Redatora-chefe
do caderno de relacionamentos da revista “American Woman”; ela havia sido
promovida há dois meses e estava adorando sua nova função, que para ela vinha
com um precioso bônus: Dar voz a tudo que sentia, pensava e principalmente a tudo
que estava dentro do seu coração. Seu único problema tinha um nome: Miranda
Miller! A presidente da revista mais vendida do país, que às vezes mais parecia
ter uma calculadora no lugar do coração, pois só pensava em números e vendas.
“Estresse, correria, falta de
tempo! Vivemos num mundo em que tudo gira em torno da modernidade e da
tecnologia. Tudo se resolve com um clique. Basta enviar um e-mail, mandar uma
mensagem ou até mesmo conversar e resolver todo e qualquer tipo de assunto
através das redes sociais, sejam eles profissionais ou pessoais. E com isso nos
enganamos cada vez mais achando que estamos ganhando tempo. Eu concordo que,
para o mundo dos negócios, pode até ser vantajoso usar todas essas ferramentas,
mas e nos relacionamentos interpessoais? Eu vejo pessoas namorando por
mensagens e aplicativos, amigos combinando de ir ao cinema, shoppings, restaurantes,
porém quando estão juntos de verdade, eles continuam se relacionando mesmo é com
o seu smartphone. Uma triste realidade para mim, que sempre valorizei e ainda
valorizo o tête-à-tête. Tudo depois da tecnologia ficou mais frio, mecânico e
sem graça. E o pior de tudo isso é que ninguém parece se dar conta ou querer
mudar esse fato. Relacionamentos são importantes. O olho no olho, os sorrisos, as
conversas inteligentes ou descontraídas e informais, nisso sim, que todos
deveriam dar valor, e não em aparelhos. O que eu fico só me perguntando é o
seguinte: E se tudo isso acabasse um dia? Sei lá, se de repente você acordasse e
nada mais de tecnológico ou moderno tivesse lá ou existisse. Para os braços de
quem você correria? E você ainda saberia como viver os relacionamentos?
Estresse, correria, falta de tempo, amizades desfeitas, amores perdidos...
Solidão. Às vezes nós nem percebemos o quanto estamos sozinhos, vivendo nesse
mundo cibernético de ilusões. Porque na grande maioria das vezes, não é a falta
de tempo o grande pivô de tudo, mas sim a de prioridade. Pois quando se quer de
verdade e se está comprometido com a causa, temos tempo para tudo que priorizarmos.”
(Melody
Grey)
*****
Depois de dar um enter e
enviar o seu pensamento do dia para a página da revista na internet, Melody se
levantou ainda vestindo uma blusa longa do namorado e, apenas de calcinha e
cabelos presos, ela ligou o seu aparelho de som e a canção “Hot N’ Cold” de
Katy Perry começou a tocar. – Ela então terminou de tomar o seu café e começou
a dançar feito louca. Em seguida, abrindo o seu closet, ela vestiu sua calça de
nylon preta e um casaco azul por cima de uma camiseta, já que fazia frio naquela
época do ano, e calçou o tênis. Em seguida, ela prendeu os cabelos novamente,
desligou o som, pegou o seu smartphone já com os fones de ouvido conectados e
saiu batendo a porta.
*****
E foi correndo pelo Central
Park, que ela recebeu uma mensagem do namorado em seu celular. Aos poucos
Melody foi diminuindo o ritmo até parar para ler, tirando um dos fones do
ouvido.
*Pocketful of Sunshine – Natasha
Bedingfield
“Oi... Tudo bem? Olha só, eu não sei como te dizer isso, na
verdade eu nunca fui muito bom com as palavras. Então eu resolvi dizer tudo por
mensagem mesmo. Eu decidi que não está dando mais pra mim, e tem as suas
cobranças também, enfim... Eu estou terminando o nosso namoro. Espero que você
entenda e que não fique chateada comigo. Seja feliz, adeus...” Eric.
Melody de início ficou estática,
sem reação. – Como ele poderia estar terminando tudo com ela através de uma
mensagem de texto? – pensou.
Um senhor que vinha passeando com
o seu cachorrinho de encontro a ela, parou para que o bichinho fizesse suas
necessidades fisiológicas, e enquanto ele esperava, Melody voltou a si, já
surtando.
- Seu cretino idiota! Isso é
coisa que se faça? – gritou na direção do velhinho, que se assustou e ficou sem
graça.
- Me... Me desculpe senhorita.
Mas eu trouxe o sa... sa... quinho e já ia recolher. – disse gaguejando.
Só então Melody se deu conta
do show que dera em pleno Central Park cheio de pessoas passando e que olharam
torto para ela, por causa do velhinho que não tinha culpa de nada.
- Tudo bem, senhor. Eu é que
peço desculpas, a minha bronca foi com outra pessoa e não com o senhor, nem com
o seu totó. E muito menos com o... – disse tentando escolher a palavra certa. –
O... número dois dele. Então... Tenha um bom dia.
Melody então sem graça deu
meia volta e seguiu direto para casa, afinal ela ainda tinha que tomar uma
ducha, se trocar e ir para a revista, pois Miranda Miller não tolerava atrasos.
– E ela não conseguia parar de pensar em como aquele dia já estava começando
mal.
*****
Na redação da revista American
Woman, todos já estavam trabalhando na nova edição. Melody chegou apressada e
foi até a mesa de sua melhor amiga Rachel para se atualizar das últimas fofocas.
- Bom dia, Rachel. E aí quais
as novidades? - perguntou se sentando em cima da mesa.
- Bom dia pra quem? Só se for
pra você. O furacão Miller está prestes a chegar. A mulher já ligou cedo pra
minha casa e ordenou que eu agendasse uma reunião para hoje à tarde com toda
equipe. E ela estava uma fera no telefone. – disse enquanto digitava as pautas
da reunião.
- Que droga! Já vi que hoje definitivamente
não é o meu dia. – disse Melody cabisbaixa.
- Nossa, que cara amiga.
Aconteceu alguma coisa? Aproveita pra desabafar que a gente ainda tem cinco
minutos antes daquele elevador se abrir e o furacão com a sua linda bolsa Louis
Vuitton passar por nós.
- É o Eric. Você acredita que
ele teve a coragem de terminar tudo comigo através de uma mensagem de texto? Eu
não estou acreditando nisso até agora.
Rachel começou a rir
descontroladamente, enquanto Melody olhava para ela séria.
- Não. Me desculpe. Mas é que
é muito engraçado. – disse rindo. – Justo com você, a mulher que odeia qualquer
tipo de comunicação que não seja feita pessoalmente e olho no olho? Essa foi
demais, amiga. Tudo bem, eu já entendi a sua cara fechada, eu prometo não rir
mais dessa história. O que acha da gente sair hoje à noite pra beber todas? Você
está precisando, e confesso que eu também. – sugeriu Rachel.
- Eu não estou a fim, prefiro
ficar em casa e beber sozinha. – disse Melody desanimada.
- Você é quem sabe, mas a
solidão adora companhia e por isso eu vou beber com você na sua casa, você querendo
ou não. Eu levo uma garrafa de tequila.
- Por mim, tudo bem.
- Ah, eu já ia me esquecendo...
Chegou uma carta pra você. – disse abrindo a gaveta. – Toma. Será que você é
capaz de adivinhar de quem seja? – perguntou sorrindo com ar de mistério,
enquanto arqueava sua sobrancelha esquerda.
- Claro. Só pode ser do Toby.
– disse entusiasmada e começando a abrir o envelope.
- Sério, eu não sei como vocês
dois conseguem em pleno século vinte e um com toda tecnologia a nosso favor,
ainda se corresponderem por cartas? Vocês sabem que hoje em dia já existe
telefone, internet, e-mail, redes sociais... Eu definitivamente não saberia
mais viver sem essas coisas.
- Pois eu sim. Eu e o Toby
desde crianças, quando morávamos em Portland, sempre nos correspondemos por
carta, mesmo morando um do lado do outro. Era o nosso tipo de conexão sabe? De
algum modo nós sabíamos que cada palavra naquele papel tinha sido escrita com
amor e verdade. E mesmo depois que eu decidi vir estudar e morar em Manhattan,
nós continuamos com esse ritual. É como se, mesmo estando longe, as cartas nos
aproximasse, entende? Cartas são especiais. De certa forma a gente escreve
querendo estar perto; e quando a pessoa recebe essa carta, a sensação é exatamente
essa... De estar sendo abraçada por essa pessoa. E vocês do mundo cibernético que
ficaram todos mecânicos e não sabem mais apreciar o valor de um belo gesto?
- Nossa, que profundo. Me deu
até sono. – disse bocejando.
Melody então começou a ler a carta
com toda atenção e em voz baixa. E não demorou muito para que seus olhos se
enchessem de lágrimas.
- O que foi que aconteceu? –
perguntou Rachel preocupada. – Melody você está branca. Alguém morreu?
- O Toby vai se casar. – disse
surpresa. – Ele está me convidando pro seu casamento. Não dá pra acreditar
nisso... O Tobias Sheppard vai se casar. – disse pensativa.
- Sim, e daí? Por que o
espanto?
Nesse momento, o boy da revista
entrou rápido, avisando a todos:
- Pessoal... Todos a postos. Ela
acabou de pegar o elevador e está subindo.
Todos então correram para suas
mesas e ajeitaram tudo, começando a trabalhar concentrados. Melody foi para sua
sala, enquanto Rachel pegou o café expresso de Miranda na cozinha.
O elevador se abriu, e Miranda
Miller entrou séria e de nariz empinado como era de costume. - Vestindo um
longo vestido preto, de salto quinze, um casaco de pele por cima, carregando a
sua inseparável Louis Vuitton e de óculos escuros, Miranda entrou cheia de
pose, enquanto Rachel ia ao seu encontro.
- Bom dia senhora, Miller. Eu
já agendei a reunião para hoje às três da tarde e também já preparei as pautas
a serem discutidas. Aqui está o seu café.
- Coloque aí em cima da minha
mesa... No descanso de copo, não se esqueça. Eu detesto móveis manchados. –
disse retirando o casaco e jogando para a secretária, que pegou, dobrou e o
colocou no cabide no canto da sala.
- Agora saia. E eu não quero
ser interrompida e nem atender ligações hoje. Fui clara? – perguntou
intimidadora.
- Foi sim, senhora.
- E por favor, diz pra Melody
vir até aqui agora que eu preciso falar com ela urgente.
Rachel foi correndo avisar à
amiga que Miranda a estava chamando. - Quando Melody chegou à sala de sua
chefe, ela estava sentada de costas para a funcionária em sua cadeira
giratória, olhando a bela vista de Manhattan, através da enorme janela de
vidro.
- Acha mesmo que eu não posso
sentir daqui a sua respiração entrecortada e ofegante de medo, muito menos
sentir o cheiro do seu perfume horrivelmente adocicado? – disparou Miranda, se
virando para Melody. – Feche a porta e sente-se. Vamos, mulher, time is Money! Eu
não tenho tempo para perder.
Melody então fechou a porta e
logo em seguida sentou-se de frente para Miranda e já ia abrir a boca, quando
foi interrompida.
- Calada. Você não diz nada,
até eu dizer que você pode. – disse respirando fundo. – Ok, Miranda Miller,
relaxa. Você consegue.
- A American Woman existe há décadas.
O seu formato e conteúdo sempre agradou a gregos e troianos. Ela é hoje a
revista mais vendida e respeitada do país. O seu site está entre os cinco mais
acessados do gênero pelo nosso público alvo e fiel, predominantemente feminino.
E tudo isso graças a mim, Miranda Miller. Agora tente adivinhar o meu espanto
ao abrir o site hoje pela manhã e me deparar com um post que vai contra tudo o
que a revista vende, e pior ainda... Vai contra a opinião de todas as mulheres
do planeta. O que você está pretendendo senhorita Grey? Acabar com a minha
revista?
- Eu não tenho interesse
nenhum em acabar com a revista, fique tranqüila. Eu só estou sendo sincera e me
comportando de acordo com o que eu penso e sinto. Depois eu sou uma jornalista,
trabalho com a verdade e estaria desrespeitando nossas leitoras e a mim mesma
senão houvesse verdade no que eu escrevo, você não acha?
- O que eu acho e o que
realmente importa e está em questão aqui, é que a sua conduta ultimamente não
tem me agradado nem um pouco, senhorita Grey. O seu comportamento feminista
revolucionário e anti-social, pode me trazer sérios problemas futuramente. Mas
você sempre foi uma boa jornalista, eu reconheço. Digo até que a melhor que eu
já tive em trinta anos de carreira. Mas você não é mais a mesma, mudou, criou
asas e vem batendo de frente com a nossa proposta e até mesmo comigo. Mas eu
resolvi te dar uma última chance; aliás, uma grande oportunidade e foi por isso
que eu a chamei aqui. A edição de Setembro da American Woman trará uma
reportagem diferente e especial de capa, e eu escolhi você para fazer a
matéria.
- O que? Mas por quê? – disse
ainda atônita com a notícia, porém feliz, com a oportunidade. – Desculpa,
senhora Miller, é que eu fiquei surpresa com a notícia. Eu sempre quis fazer a
matéria de capa da revista. Eu já começo a pensar em mil e um assuntos que eu
poderei escolher pra essa capa.
- Pois pode ir parando com
essas suas ideias delirantes e geniais por aí... A capa já tem um título; fui
eu mesma quem escolheu. Mas não precisa fazer essa cara, que eu acho que tem
tudo a ver com você e com o seu post infeliz de hoje cedo no portal.
- E sobre o quê eu irei
escrever? – perguntou curiosa.
- Amor Em Tempos Modernos. Não
é sobre isso que se resume toda a sua indignação e revolta? Sobre as
modernidades e tecnologias do século vinte e um? Pois então. Vamos ver o que
mais você tem pra nos dizer sobre esse assunto, e como as nossas leitoras
reagirão sobre isso. O fechamento da edição é em duas semanas, e no dia e hora
marcados, eu quero todo material em cima da minha mesa. Ah... E eu não irei
tolerar atrasos, fui clara?
- Claro. Em duas semanas a
matéria estará na sua mesa, eu prometo. Só tem um problema, senhora Miller. O
meu amigo de infância vai se casar dentro de alguns dias e eu quero ir ao
casamento, que será em Portland.
- Eu não vejo problema nenhum
nisso, senhorita Grey. Matérias podem ser escritas em qualquer lugar do mundo e
o seu prazo é de duas semanas. Vá para Portland. Só não se esqueça do prazo. Agora
por favor, saia e me deixe trabalhar, sim?
- Claro. Eu só queria dizer obrigada
pela oportunidade, eu acho.
Melody saiu apressada da sala
de Miranda e, quando fechou a porta, teve que se conter para não gritar e pular
de alegria. Depois passou toda sorridente e feliz pela mesa de Rachel.
- Mas o que foi que aconteceu?
Ninguém nunca saiu tão feliz assim de dentro da sala da megera... Eu exijo um
pouco do que você fumou lá agora.
- Mudança de planos, amiga...
Hoje nós vamos sair e beber todas! Te vejo ás nove no barzinho de sempre. –
disse indo para sua sala toda feliz.
- Melody Grey, volta aqui
agora. Eu falei sério quando disse que quero um pouco do que te deixou assim...
Melody?
*****
No outro dia bem cedo, Melody
pegou o avião rumo a Portland e na bagagem levou com ela o seu bloco de
anotações e o notebook para começar escrever a matéria de capa. – Algumas horas
depois, ela finalmente chegava ao seu destino e, ainda no aeroporto, ela viu
Toby de longe segurando um papel com o seu nome escrito bem nítido e na cor
rosa.
*Somewhere
Only We Know - Keane
Quando foi chegando mais
perto, Toby a reconheceu e abriu os braços para recebê-la. Melody então deixou
o carrinho com a sua mala pelo caminho e correu para abraçar o seu melhor amigo
que ela já não via há quinze anos. – Os dois se abraçaram bem forte e Toby a pegou
no colo, rodopiando com ela todo feliz. Depois os dois ficaram se olhando e
tocando seus rostos emocionados por estarem juntos de novo.
- Quanto tempo Melody Grey...
Eu quase morri de saudades todos esses anos. – disse emocionado.
- Eu também Tobyas Sheppard.
Eu cheguei a pensar que nunca mais fosse te ver de novo. – disse voltando a
abraçá-lo.
Toby fez questão que Melody
ficasse hospedada no seu apartamento, embora ela tivesse relutado um pouco, mas
depois acabou cedendo devido à insistência dele.
- Por favor, entre e fique a
vontade Melody. Mi casa es su casa. – disse sorrindo. – E então, o que você
achou do meu apê?
- É lindo! – disse olhando
tudo em volta. – Ele é espaçoso e arejado, bem decorado também. Você conseguiu
um ambiente acolhedor e muito gostoso.
- Obrigado. Você aceita uma
água, um café ou suco? Eu também posso te convidar para tomar um café na
padaria da esquina. Eles fazem um croissant doce com recheio de doce de leite e
cobertura de chocolate que é uma delícia.
- Hummm... E quem resiste à
bela combinação entre o doce de leite e o chocolate? Eu fico com a padaria da
esquina. Me dá só um minuto, que eu preciso ir ao toalete.
- Claro. Vai lá, ele fica no
fim do corredor à direita.
Melody se levantou e, ao
passar por Toby, ele a segurou pelo braço.
- Você não imagina o quanto eu
estou feliz por você estar aqui. Eu não fazia ideia da falta que eu senti de
você todos esses anos.
- Nem eu. Tantas lembranças e
momentos bons afloraram depois que eu te vi. Você me fez muita falta,
gafanhoto. – disse sorrindo.
- Você também me fez muita
falta, abelhinha. Eu te amo.
- Eu também te amo. Eu já
volto. – disse Melody indo até o banheiro enquanto Toby soltava sua mão bem
devagar.
*****
- É... Eu tenho que admitir,
você tinha razão. Esse croissant é magnífico!
- Eu não disse? Eu me lembro
até hoje da sua paixão por doces, em especial o chocolate.
- Ai nem me fala, naquela
época éramos jovens e tínhamos uma vida inteira pela frente pra se arrepender e
fazer tudo sem pensar nas conseqüências. Hoje em dia se eu não me policio,
engordo só de olhar pra essas guloseimas. – disse lambendo os dedos.
- Que isso, você não tem com o
que se preocupar... Esta magra e linda!
- Obrigada. É muito gentil da
sua parte. Bom... Mas me conta, e o seu casamento? – perguntou tímida enquanto
desviava o seu olhar do dele. – Eu quase não acreditei quando recebi a sua
carta me contando que ia se casar. Qual o nome dela, como ela é? Eu quero saber
tudo.
- Calma... Você vai
conhecê-la, não se preocupe. Mas por enquanto eu ainda não vou falar dela, eu
estou matando as saudades de uma pessoa que sempre foi muito importante na
minha vida. – disse enigmático.
- Nossa! Quanto mistério...
Mas tudo bem, porque eu também estou matando saudades de um grande amigo. Nossa!
Olha em volta... Desde que nós chegamos está um silêncio total, e deve ter o
quê? Mais ou menos umas trinta pessoas aqui? Repara que ninguém conversa entre
si, apenas o necessário. Estão todos ocupados com os seus smartphones. Com
certeza atualizando os seus status ou postando fotos nas redes sociais.
- Nem me fala, eu não sei como
as pessoas ainda conseguem se relacionar com tanta frieza assim. E o pior é que
elas vão se tornando cada vez mais solitárias e reféns do próprio vício. Toda
essa tecnologia é útil, nos ajuda no dia a dia na comunicação, mas o problema
está no mau uso que se faz dela. Um bom papo, olho no olho, abraços bem
apertados, pegar na mão de quem se ama. – disse pegando na mão dela. – Tudo
isso é essencial, necessário, mas infelizmente todo calor humano foi
substituído por mensagens e emojis.
- Pois é exatamente o que eu
penso. Felizes somos nós que até ainda nos correspondemos através de cartas. –
disse Melody sorrindo. – Você sabe que eu tenho uma amiga em Manhattan, a
Rachel, e ela ri da nossa cara por causa desse nosso comportamento. Ela diz que
nós ficamos parados no tempo.
- Bom, pelo menos nesse tempo
ainda existe amor, sentimentos e verdade. Hoje em dia eu já não vejo tanto isso
nesse exército de robôs frios comandados por uma máquina. Elas facilitam a vida
é verdade, mas atrapalham os relacionamentos, afasta as pessoas. O que acha de
darmos um passeio pelo parque?
- Eu estou a sua disposição. –
disse sorrindo.
*****
Naquele dia, Melody e Toby passearam
e conversaram bastante, relembrando a infância e adolescência deles com um
misto de saudade e tristeza, porém agora a felicidade era completa por estarem
juntos novamente.
Três dias se passaram entre
passeios, sessão de filmes dos anos oitenta e noventa, muita pipoca, sorvete,
chocolate e risos, muito risos. – Melody começou a escrever sua matéria para a
American Woman, baseada em casais e nos seus comportamentos afetivos que ela
reparava nas ruas, nos bares, parques e restaurantes. Mas ela ainda não havia
conhecido a futura esposa de Toby. Afinal, esse era o principal motivo que a
trouxera até Portland, lugar onde ela havia passado ao lado dele os melhores anos
de sua vida.
- E então... É hoje que
finalmente conhecerei a futura senhora Sheppard? Eu estou começando a desconfiar
de que ela não existe, já faz três dias que eu cheguei aqui e nada dela. Assim
eu vou achar que ela é uma noiva imaginária, igual ao seu amigo de infância
também imaginário que você criou aos cinco anos de idade, lembra?
- Claro. E eu me lembro também
que ele não durou nem uma semana, já que você, com muito ciúmes dele, ameaçou
romper nossos laços de amizade para sempre. – comentou rindo. – Ai, ai... Bons
tempos aqueles.
- Nem me fala... Às vezes eu
fico olhando para nossas fotos numa espécie de sessão nostalgia, sabe? Eu abro
a caixa e as esparramo pela cama e fico horas ali, olhando cada uma delas e me lembrando
com detalhes daqueles dias imortalizados por um clique. Mas agora, chega de
enrolação. Vamos logo conhecer sua noiva.
- Claro, eu já tirei o carro é
só a gente descer. – disse inquieto.
- O que foi? Você está
diferente esses dias, um pouco esquisito até, eu diria. Tem algo que você
queira me contar? Você sabe que pode confiar em mim, né?
- Claro. E você também sabe
que pode confiar em mim de olhos fechados né? – Melody meneou a cabeça
afirmando. Então ele pegou uma venda e colocou sobre os olhos dela. – Então confia
em mim e vem comigo.
- Mas pra quê tudo isso? Você
sabe que eu fico ansiosa nessas situações, Toby.
- Vai ser rápido. Eu quero te
levar num lugar. Você disse que confiava em mim.
Toby a guiou até o carro,
colocou uma música e juntos eles seguiram rumo ao desconhecido, apenas para
Melody que segurava a mão ansiosa dele o tempo todo .
*This Never Happened Before – Paul
MacCartney
*****
Toby estacionou o carro no Washington
Park. – Ele ajudou Melody a descer e depois a conduziu até um lindo jardim de
frente para um rio.
- Nós já chegamos? – perguntou
Melody curiosa.
- Já sim. Vem, senta aqui. –
Toby ajudou Melody a se sentar e depois retirou a venda dos olhos dela, que
ficou surpresa ao ver que estava diante de um dos seus lugares favoritos em
Portland.
- Eu não acredito! – disse
emocionada. – É o Washington Park! Como eu senti falta desse lugar tão especial
pra mim. Muito obrigada por me trazer aqui, Toby.
- Não precisa me agradecer...
Esse lugar também é muito especial para mim. Ele só perdeu toda sua graça e beleza
depois que você foi embora. Mas especialmente hoje, eu me sinto como se tivesse
voltando no tempo.
- Porque você me trouxe até
aqui? E que caixa é essa que você está segurando?
- Eu te trouxe até aqui para
que você conhecesse melhor a minha futura esposa...
- E onde ela está? – perguntou
olhando tudo em volta.
- Tenha só mais um pouquinho
de paciência que logo você irá conhecê-la. – disse sorrindo e depois abriu a
caixa. – Reconhece? Essas são todas as cartas que você me escreveu desde que
foi embora. Eu nunca parei pra contar, mas com certeza deve ter umas três mil
cartas aqui.
- Uaauuuu! Eu não acredito que
você guardou todas! Eu me sinto até envergonhada diante desse seu gesto. Eu
também guardei, mas só algumas. As que mexeram mais comigo, me fizeram rir,
chorar, sentir saudades... Deve ter coisas aí de quando eu tinha apenas
dezesseis anos e já vivia todos os dramas de se mudar contra a minha vontade para
uma cidade grande.
- Você é linda, Melody. Sempre
foi linda por dentro e por fora, além de única e especial. Você não tem que
sentir vergonha de quem é, nem de expor os seus sentimentos, pois todos eles
formaram a mulher maravilhosa que você é hoje. E pela qual eu me descobri
completamente apaixonado desde sempre... Desde que eu te conheci. Mas que só fui
perceber isso no último ano, depois de passar por várias desilusões amorosas e
não me encontrar em nenhuma delas. – confessou tímido.
- O quê? Que brincadeira é
essa, Toby? Para com isso. Nós somos melhores amigos. – disse sorrindo. – Ó,
meu Deus! Você está falando sério...? Eu nem sei o que dizer.
- Esses anos todos em que nós
ficamos longe, meu amor, só serviram pra me fazer ver o quanto eu era e ainda
sou apaixonado por você. Eu te amo, Melody Grey. E não existe noiva nenhuma,
nem casamento, pelo menos por enquanto. Essa foi a maneira que eu encontrei de
te trazer até aqui e confessar tudo o que eu sinto por ti. Eu poderia ter amado
qualquer outra pessoa, uma que fosse menos complicada, menos indecisa, e que
estivesse disposta a estar comigo o tempo todo. Mas o meu coração escolheu
você. E por alguma razão que eu desconheço, ele não quer e não vai abrir mão
disso. – disse decidido e emocionado.
- Eu não estou acreditando
nisso, Toby. Eu cheguei a sentir ciúmes de você quando eu li na carta que você ia
se casar. A vontade que eu tive foi de estrangular a sua noiva antes mesmo de
conhecê-la. – confessou entre risos e lágrimas. – Que loucura... E só agora eu
estou entendendo o porquê desse sentimento egoísta e mesquinho que eu tive.
Tudo agora faz sentido pra mim também, meu amor.
- Que bom, porque nesse exato
momento... Eu tenho a honra de te apresentar, a minha noiva. A mulher com quem
eu vou me casar, e ela é você Melody. Sempre foi você...
Melody chorou de emoção e
alegria; então Toby se ajoelhou diante dela.
- Melody Grey, você aceita se
casar comigo? – perguntou abrindo uma caixinha e tirando de dentro uma aliança.
- É tudo o que eu mais quero
no mundo, Tobias Sheppard. Ser sua mulher. – disse feliz e estendendo-lhe a
mão. – Eu aceito.
*
Try – Macy Gray
Eles então trocaram alianças
felizes e emocionados, enquanto Toby a tomou nos braços e a beijou
calorosamente. – Depois eles começaram a brincar e correr um atrás do outro
pelo parque, como faziam nos tempos de juventude... Até caírem cansados sobre o
gramado e voltarem a se beijar apaixonadamente.
*****
Manhattan, Nova York – American
Woman Magazine
Dois dias depois…
Melody entrou na Revista feliz
e segura de si. Depois de cumprimentar a amiga rapidamente, ela foi direto pra
sala de Miranda Miller, entrando sem bater.
- Mas quem mandou entrar...
sem bater, Melody? – disse surpresa. – Eu esperava vê-la só daqui a alguns
dias. O que houve?
- Como vai, Miranda? Apesar de
você não ter perguntado como sempre, eu estou ótima, obrigada. A matéria já
ficou pronta e está maravilhosa. Mas você vai poder conferi-la melhor no meu
blog. Eu decidi criar um e postei como a minha primeira matéria... E se não se
importa, eu roubei o seu título, pois achei maravilhoso e tem tudo a ver comigo.
- Eu não estou entendendo. Do
que você está falando, senhorita Grey? – perguntou confusa.
- O que eu estou querendo
dizer, é que, a partir de hoje, eu seguirei carreira solo. Eu estou muito mais
confiante e sei que tenho talento pra isso. Toma. – disse jogando um envelope
em cima da mesa dela. – Essa é a minha carta de demissão, senhora Miller. E
anote o meu nome, pois a senhora ainda vai ouvir falar muito dele. Até qualquer
dia.
Melody saiu confiante,
deixando Miranda de queixo caído e, pela primeira vez, sem palavras, e se
mordendo de raiva.
Já do lado de fora, Toby a
esperava no carro e, depois de um longo beijo apaixonado, eles seguiram rumo ao
apartamento novo, onde eles tinham muito que fazer. Mas ser feliz com certeza
estava no topo de suas listas.
*****
“Desencontros de amor existem,
e a tecnologia no mundo moderno de hoje em dia só prova isso. Muitas vezes as
pessoas dizem coisas que não queriam dizer, porque mal prestam atenção no que
estão escrevendo, ou no caso digitando. As palavras nunca bastaram e agora só
através de meios digitais, muito menos. É preciso ver, tocar, sentir e
principalmente olhar no olho, ainda que não se diga absolutamente nada, pois o
olhar fala mais que mil palavras, e feliz daquele que ainda sabe interpretar os
olhares de quem se ama. As pessoas acham que têm o poder nas mãos ao ignorar,
deletar ou bloquear uma pessoa na ilusão de que se tem alguma coisa, quando na
verdade nunca se teve de fato. E nós continuamos fugindo da parte legal, e
facilitando a parte ruim que não necessariamente precisa ser, que são os
diálogos e as famosas “Drs”, nos ajudando a compreender muito mais um ao outro,
e na grande maioria das vezes, resolvendo as nossas diferenças.
A vida não está e nunca estará
só nas palavras, por isso tudo ficou menos de verdade, menos crível. A palavra
é muito pouco, quando além delas, o corpo, a cabeça, as mãos, o coração e os
lábios também falam; mas é preciso ver, estar de frente, pra poder fazer todas
essas leituras. Há muito mais para que as pessoas se compreendam, se acertem e
se apaixonem de verdade, porque viver só vale mesmo a pena pelos sentimentos.
Pois na vida, poucas coisas são tão aleatórias quanto o amor. “E mesmo sabendo
que ele é um jogo de azar, nós ainda insistimos em jogar os dados.”
*****
Melody Grey
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