2. A Palestra | Totalmente Incorreto


CENA 01. PRÉDIO DE ROBERT. FRENTE. EXT. DIA.

Vemos a movimentação do dia a dia...

CORTA PARA:

CENA 02. APART DE ROBERT. SALA. INT. DIA.

Robert sentado tomando uma xícara de café, todo arrumado. Edward vem do quarto.

EDWARD       —   Bom dia.

ROBERT        —   Bom dia, Edward. Acordou no momento exato.

EDWARD       —   Momento exato pra quê?

ROBERT        —   Para me levar a universidade.

EDWARD       —   O que você vai fazer na universidade?

ROBERT        —   Como o que eu vou fazer na universidade? Eu te mandei um e-mail com os eventos da semana.

EDWARD       —   Ah é, eu recebi o e-mail.

ROBERT        —   E não viu que hoje eu tenho uma palestra na universidade?

EDWARD       —   Na verdade eu nem abrir o arquivo porque eu joguei em spam.

ROBERT        —   E por que você fez uma coisa dessas sabendo que se tratava de um e-mail meu?

EDWARD       —   Exatamente por isso que eu joguei pra caixa de spam!

ROBERT        —   Deixemos isso de lado. Depois voltamos a conversar sobre isso. Agora vamos.

EDWARD       —   Mas eu nem tomei café!

ROBERT        — Toma na universidade que eu posso chegar atrasado.

EDWARD       —   E por que você não vai sozinho no seu carro?

ROBERT        —   Eu não tenho carro. Na verdade, eu não dirijo.

EDWARD       —   Por que você não tem habilitação? Qualquer pessoa normal nesse país tem carro, moto... Habilitação!

ROBERT        —   Qualquer pessoa, Edward. Eu não sou qualquer pessoa. Eu sou avançado demais pra dirigir neste país.

EDWARD       —   E por isso eu tenho que virar seu motorista particular?

ROBERT        —   Não, não é bem assim. Você trabalha na universidade. O que é que custa me dar uma carona até lá?

EDWARD       —   “Uma carona” era o que eu queria ouvir! E não: “me leva”... Vamos.

Os dois saem.

CORTA PARA:

CENA 03. PRÉDIO. PORTARIA. INT. DIA.

Seu Ribeiro sentado a ler seu jornalzinho. Um samba das antigas tocando em seu rádio. Dicró canta: “O Trabalhador”.

Robert e Edward descem a escada.

EDWARD       —   Bom dia, seu Ribeiro.

SR. RIBEIRO  —   Bom dia, Edward. O espicha tá saindo de casa, é?

ROBERT        —   Estou indo a uma palestra na qual eu serei o palestrante convidado. Vou ver se ainda há salvação àqueles graduandos inferiores.

Robert sai para a rua.

EDWARD       —   Ele é assim mesmo.

SR. RIBEIRO  —   Escuta o que eu tô te falando garoto. Esse maluco ainda vai te deixar igual a ele.

EDWARD       —   Não vai não, seu Ribeiro. E sabe por quê? Antes dele fazer comigo, ele já estará doido!

ROBERT        —   (OFF) Vamos, Edward!

EDWARD       —   Eu preciso ir, seu Ribeiro.

Edward sai.

SR. RIBEIRO  —   (p/si) Não sei não, hein! O espicha é capaz de tirar qualquer um do sério com esse jeito arrogante dele. Foi bom ter conhecido esse rapaz antes do espicha transforma-lo em um deles.

Ele volta a ler seu jornalzinho.

CORTA PARA:

CENA 04. UNIVERSIDADE. ENTRADA. INT. DIA.

É grande a movimentação de alunos. Edward e Robert chegam.

ROBERT        —   Em cima da hora! Obrigado.

EDWARD       —   Tá, agora vai lá fazer a sua palestra.

Robert se afasta. Instantes. RICHARD (31) e JASON (32) se aproximam.

RICHARD       —   (debocha) Ora, ora, ora... Vejam se não é o professor que não tem mais casa pra morar.

Jason sorrir. Edward, sério, os encara.

JASON           —   Para com isso, Richard. Para de zoar o cara.

EDWARD       —   Muito engraçado um cara com mais de trinta anos que mora com a mãe, me zoar!

Jason sorrir.

EDWARD       —   E você então, Jason? Solitário que chega a dar pena... Se não fosse a sua cadelinha, Safira, seria a pessoa mais solitária que conheço!

RICHARD       —   Nossa, cara! Também não precisa pegar tão pesado assim.

EDWARD       —   Talvez eu tenha passado dos limites, gente. Foi mal. Minha vida tá do avesso com esse divórcio. E como se não bastasse, agora estou morando com um louco de pedra!

RICHARD       —   Olha aquela graduanda ali.

JASON           —   Esquece que você não tem a menor chance.

RICHARD       —   Por que não tenho? Eu posso muito bem ir lá e fazer com que ela se apaixone por mim.

JASON           —   Ah é? Então vai lá e faça esse milagre acontecer.

EDWARD       —   Eu aqui falando que minha vida está um caos e vocês não param de olhar pras graduandas?! Ah, com licença.

Edward vai caminhando e Richard e Jason vão atrás dele.

RICHARD       —   Espera aí, Edward.

JASON           —   Aonde você vai?

CORTA PARA:

CENA 05. UNIVERSIDADE. AUDITÓRIO. INT. DIA.

Reitor ali falando perante ao auditório lotado.

REITOR          —   É com imensa alegria que eu tenho o prazer de anunciar o palestrante convidado. Robert.

Robert sobe ao palco sob os calorosos aplausos da plateia.

ROBERT        —   Muito obrigado reitor.

O Reitor sai do palco e Robert pega o microfone.

ROBERT        —   Confesso que para um nível de profissional que está perante vocês, esses aplausos foram fracos. Eu estou aqui para deixar vocês beberem da minha fonte de sabedoria. Fonte essa que eu garanto pra vocês que é a mais rica de todas!

Reação de várias pessoas surpresas com tamanha arrogância.

CORTA PARA:

CENA 06. UNIVERSIDADE. CANTINA. INT. DIA.

Edward tomando seu café da manhã e Richard e Jason sentados junto com ele a mesa.

RICHARD       —   Mas por que tantas regras? Você tem certeza que está morando com um humano?

EDWARD       —   Não, e detalhe. Ele criou essas regras morando sozinho! Eu não consigo entender como você mesmo pode criar suas próprias regras e se você mesmo desobedecê-las e se autopunir.

JASON           —   Nossa, bastante confuso.

EDWARD       —   Nem me fale!

RICHARD       —   Bem que eu gostaria de falar alguma coisa, mas minha mãe é tão insuportável de se viver que eu não sou capaz de opinar.

EDWARD       —   A sua mãe não chega nem aos pés do Robert! Ah, ia me esquecendo de contar pra vocês a regra do banheiro.

JASON           —   Regra do banheiro?

EDWARD       —   É. Ele tem uma regra que eu não posso estar no banheiro nos horários que ele vai regularmente.

RICHARD       —   O cara tem horário específico pra fazer suas necessidades?

EDWARD       —   Tem. Vejam se não é loucura uma coisa dessas.

RICHARD       —   E perturbador!

JASON           —   Isso não é novidade. Aqui na universidade mesmo, ele tem a fama de ser a pessoa mais arrogante e desprezível do mundo!

EDWARD       —   Os professores acham isso?

RICHARD       —   Edward, todos acham isso!

EDWARD       —   Não poderia ser diferente.

Os três sorriem.

CORTA PARA:

CENA 07. UNIVERSIDADE. AUDITÓRIO. INT. DIA.

Robert diante de toda a plateia exausta de tanta arrogância.

ROBERT        —   Eu nasci aqui mesmo no Rio e Janeiro, no bairro de Santa Tereza. Quando tinha uns doze anos, minha família se mudou para São Paulo. Embora eu tenha sofrido todo tipo de agressão nos colégios cariocas, eu sabia que um dia retornaria ao Rio de Janeiro. Só não sabia que retornaria como um renomado escritor. (soberbo) Bom, na verdade eu sabia sim.

Um aluno faz uma pergunta.

ALUNO           —   Quando você descobriu que tinha talento para a escrita?

ROBERT        —   Bom, dentro da barriga de minha mãe, ela disse que eu ficava agitado quando ela lia qualquer coisa em voz alta. Mas se tem uma coisa que eu adorava, segundo ela, era quando ela lia bula de remédios em voz alta. Eu ficava alegre.

Todos começam a fazer comentários entre si sem entender.

ROBERT        —   Eu não sei qual é o motivo, mas conforme eu fui crescendo e aprendi a ler, com dois anos e três meses, eu tive um contato precoce, porém maravilhoso com a leitura. Sempre adorei ler. Ler para mim é um voo de liberdade. Até porque eu tinha que procurar me abrigar na leitura porque eu não tinha nenhum amigo. E aí fui crescendo e tomei um gosto pela escrita também. Outra pergunta?

ALUNA           —   Você tem medo, receio de escrever algum livro que seja um fracasso em vendas?

ROBERT        —   Não. Até porque todos os livros que eu escrevi foram sucessos. Alguns não chegaram a ser best-sellers, mas vendaram bastante. Números bem consideráveis. E no momento eu estou preparando o segundo volume do meu último lançamento. (Pega o livro numa mesa ali no palco) Relaxe e se Divertirás. Neste livro, eu quis ajudar as pessoas estressadas a se controlarem mais, deixar algumas questões que podem estar acabando contigo sem que você perceba de lado, nem que seja por dez minutos. Aqui eu tenho certeza que há pessoas que necessitam deste livro. Já que vocês nunca serão capazes de escrever um best-seller elogiado pela crítica como este. Eu trouxe alguns para deixar na biblioteca da universidade. Os interessados, podem se direcionar a biblioteca após essa palestra e se maravilhar com a escrita do Robert!

CORTA PARA:

CENA 08. CARRO DE EDWARD. INT. DIA.

Edward ao volante e Robert no carona.

EDWARD       —   Às vezes eu fico pensando... Você se dá conta das coisas que fala?

ROBERT        —   Por que a pergunta?

EDWARD       —   O que você disse na palestra foi desnecessário. Todos estavam ali pra ouvir o escritor Robert dar conselhos a eles, ser um exemplo positivo.

ROBERT        —   Ah, e o que eu fiz não foi dá conselhos não?

EDWARD       —   Não! O que você fez foi humilhar os graduandos. Foi jogar a autoestima deles lá embaixo.

ROBERT        —   Não posso fazer nada se as pessoas não suportam ouvir a verdade.

EDWARD       —   Vem cá, você sempre tem que ser assim?

ROBERT        —   Assim como?

EDWARD       —   Tá vendo só como você não se dá conta do quão arrogante é?!

ROBERT        —   Eu não sou arrogante.

EDWARD       —   É sim. É a pessoa mais arrogante que eu conheci nesses meus trinta e poucos anos de vida!

EDWARD       —   Isso é por não gostar de ouvir a verdade! Se eu te disser que você é um fracassado, eu não estou mentindo! Você escreveu quatro livros e todos eles foram um fiasco!

ROBERT        —   Olha, se eu não precisasse do seu teto, você ia ficar a pé agora mesmo.

CORTA PARA:

CENA 09. APART DE ROBERT. SALA. INT. NOITE.

Richard e Jason sentados jogando dama. Edward vem da cozinha com sanduíches e sucos.

EDWARD       —   Quem está ganhando?

JASON           —   Richard está perdendo como nunca.

RICHARD       —   Sorte sua que eu não estou com cabeça pra jogo hoje.

EDWARD       —   Por que?

RICHARD       —   Nada demais. Eu estou pensando naquela graduanda de hoje mais cedo. Como ela era linda.

EDWARD       —   Sonhar não custa nada.

RICHARD       —   Por que vocês não confiam em mim como um cara galanteador?

JASON           —   Porque nós conhecemos as péssimas cantadas que você usa com as mulheres.

RICHARD       —   Ah, parem que não é tão ruim assim!

EDWARD       —   Ah não? Então lá vai uma: “Não gosto de maltratar animais, mas desde que te vi, só penso em afogar o ganso”. Que mulher gosta de ouvir isso?

JASON           —   Não, e aqui vai mais uma. Você fala: “Miaau!” Aí a mulher pergunta: “Que que é isso?” Aí você diz: “Desculpa, tentei me comunicar na sua língua, gata”.

Edward e Jason quase se mijam de tanto rir. Robert vem do quarto.

ROBERT        —   Pelo escândalo que ouvi lá do quarto só poderia ser visita mesmo. Nós precisamos conversar, Edward.

EDWARD       —   Licença, gente.

Edward vai falar no canto com Robert.

RICHARD       —   Saiba que eu já fiz muitas mulheres rirem com essas cantadas.

JASON           —   Sim, mas fez elas rirem de você e não com você.

Corta para o canto:

ROBERT        —   O que esses dois estão fazendo aqui?

EDWARD       —   Eles são meus convidados.

ROBERT        —   Você não leu a cláusula vinte e oito, parágrafo três que dizia que toda vez que convidar alguém, o outro deve ficar ciente antes da chegada da visita?

EDWARD       —   Desculpe, eu não sabia. Prometo que isso não vai mais se repetir.

Edward volta a ficar com os amigos.

ROBERT        —   (p/si) Do jeito que é daqui a vinte minutos está infringindo alguma regra de novo.

Robert se senta à mesa do computador. Alguém bate na porta.

EDWARD       —   Deixa que eu atendo.

Ele abre a porta. É Susan.

EDWARD       —   Susan?

SUSAN           —   Oi. Eu na verdade queria pedir a sua ajuda.

EDWARD       —   Claro. Pode falar.

Richard e Jason se aproximam dos dois.

RICHARD       —   Pode contar com a nossa ajuda também. Para o que precisar. Eu sou Richard.

SUSAN           —   Oi, Richard. Eu preciso de ajuda com a fechadura, mais uma vez a chave grudou e não quer soltar.

EDWARD       —   Deixa eu dar uma olhadinha.

Todos saem do apartamento deixando a porta aberta. Robert ali no computador. Instantes. Ele cai em si e olha de um lado para o outro e não há ninguém.

ROBERT        —   (P/si) Para onde todos foram? São tão insignificantes que eu nem percebi.

CORTA PARA:

CENA 10. PRÉDIO. HALL DO QUARTO ANDAR. INT. NOITE.

Richard e Edward tentando tirar a chave. Jason com Susan.

JASON           —   Eu sou professor na universidade.

SUSAN           —   Nossa, que legal! Você dá aula de quê?

JASON           —   Eu sou mestre em administração.

SUSAN           —   (Sem graça) Ah, que bom. E eu sou garçonete.

JASON           —   Profissão legal.

SUSAN           —   É, nem tanto.

JASON           —   Você tem namorado?

SUSAN           —   Como é que é?

JASON           —   (desesperado) Desculpe, eu não sei o que me deu pra fazer essa pergunta.

EDWARD       —   Acho que dessa vez não tem jeito.

RICHARD       —   Parece que foi um brutamonte que colocou essa chave aí, hein!

JASON           —   Vocês dois são fracos demais. Deixa que eu faço isso.

EDWARD       —   Então vai lá fortão. Manda ver.

Ele puxa a chave com força e nada, disfarça e dá uma puxada discreta.

RICHARD       —   Sai daí que você também não vai conseguir. O que a gente pode fazer?

EDWARD       —   Uma vez eu vi um vídeo na internet de um cara que conseguiu tirar a chave agarrada com um ferro e uma marreta.

SUSAN           —   Mas aí a minha casa ficaria aberta a noite inteira.

RICHARD       —   Não se preocupe flor do orvalho. Nós estamos aqui pra te proteger.

SUSAN           —   (p/si) Não sei qual é pior!

John, o musculoso, desce a escada.

JOHN             —   Tão precisando de uma ajudinha aí?

SUSAN           —   John! Você não sabe o quanto eu fico feliz em te ver. A chave grudou na maçaneta e eles estão tentando tirar, mas não conseguem.

JOHN             —   Deixa eu dar uma olhadinha.

EDWARD       —   Nós fizemos a maior força possível e não conseguimos tirar.

John puxa a chave na maior facilidade, deixando os três boquiabertos.

SUSAN           —   (Impressionada) Nossa, John! (Alisa seus músculos) Mas que braços fortes são esses?

EDWARD       —   Ele conseguiu tirar rápido porque nós já tínhamos puxado muito.

JOHN             —   (Sarcasmo) Claro, foi por isso. Afinal, esses músculos aqui não servem pra nada quando se comparados aos bracinhos de moça que vocês tem! Aí, gata, vou sair pra beber uma gelada, quer ir comigo?

SUSAN           —   Claro!

Ela pula nos braços dele e os dois descem a escada.

RICHARD       —   Não acredito que o cara se deu bem.

JASON           —   Aí está a vantagem de se ter músculos.

EDWARD       —   O cara ficou aqui trinta segundos e conseguiu sair com ela, eu estou tentando há dias ter uma conversa mais avançada com ela e não consigo.

Robert sai do apart.

ROBERT        —   Ah, você está aí, Edward. Vamos?

EDWARD       —   Pra onde?

ROBERT        —   Será que toda hora eu vou ter que explicar o que você deveria ter lido no contrato? Toda quarta-feira é dia de jantar fora. E você tem que me levar.

EDWARD       —   (dá de ombros) Logo que eu perdi a Susan pro tal de John, não tenho mais nada a perder mesmo.

Todos vão descendo a escada, quando Richard arremata.

RICHARD       —   Vocês debocharam de mim, mas não falaram a melhor cantada de todas.

JASON           —   Que é?

RICHARD       —   Gata, você é uma camisa de força? Porque eu te acho uma coisa de louco.

Todos sorriem.

CORTA PARA:

 

FIM DO SEGUNDO EPISÓDIO

 

 


Totalmente Incorreto

Temporada 1 | Episódio 2

 

Criado e Escrito por:

Ramon Silva

 

Elenco:

Robert

Edward

Susan

Richard

Jason

Lisa

Seu Ribeiro

Reitor

 

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