5. Supervisor de Conteúdo | Totalmente Incorreto


CENA 01. UNIVERSIDADE. CANTINA. INT. DIA.

Jason e Richard sentados a tomar café. Edward se aproxima sério com um café e se senta.

EDWARD       —   Bom dia.

JASON           —   Bom dia, Edward.

RICHARD       —   Por que tá tão sério, cara? Aconteceu alguma coisa?

EDWARD       —   Nada não!

JASON           —   Pensei que você chegaria hoje aqui todo se gabando porque conseguiu a Susan.

EDWARD       —   Não quero falar sobre isso.

RICHARD       —   Foi tão ruim assim?

JASON           —   Deixa o cara, Richard. (debochado) Não tá vendo que ele deu os melhores trinta segundos da vida da Susan!

RICHARD       —   (rindo) E depois ela deve ter falado: (voz feminina) Ai, Edward. Você foi o mais rápido de todos!

JASON           —   (debochado) Mais rápido do que a velocidade da luz.

Jason e Richard riem muito, Edward sério.

EDWARD       —   Como vocês são ridículos! Não sabem nem o que aconteceu e ficam falando besteira.

JASON           —   Sabemos sim. A Cristine disse que você foi o mais precoce da vida dela.

RICHARD       —   Verdade. Tinha me esquecido da Cristine. Mas larga o cara, Jason. Podem ser só trinta segundos, mas a mulherada volta porque Edward tem a fama de ser um garanhão, segundo o que Cristine me disse.

JASON           —   Ou o leão rugindo durante o coito.

Jason e Richard engatam no riso e não param mais.

EDWARD       —   (p/si) Eu mereço! Tenho mais o que fazer!

Edward se levanta e sai. Jason e Richard continuam a sorrir. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 02. UNIVERSIDADE. SALA DO REITOR. INT. DIA.

Reitor e Robert sentados a conversar.

REITOR          —   Então, Robert. A universidade está muito contente em recebê-lo para integrar nossa equipe de colaboradores.

ROBERT        —   Eu que agradeço a oportunidade, reitor. Modéstia parte, a universidade está só contente em possuir um escritor renomado como eu?

REITOR          —   Pelo visto você não deixa de ser tão Robert.

ROBERT        —   Ah, sobre isso eu quero lhe informar que criei uma estratégia para deixar de ser tão eu mesmo.

REITOR          —   Seja lá qual for à loucura, não quero saber! Bom, vamos falar da sua missão aqui na universidade a partir de agora. Você foi contrato para ser o supervisor de conteúdo.

ROBERT        —   Isso implica na mudança de algo que não estiver como a universidade exige?

REITOR          —   Bom, acho que um diálogo com o professor do qual você estiver supervisionando o conteúdo, resolveria. Mas creio que alterações serão bem aceitas por todos.

ROBERT        —   Então comecemos por sua sala.

REITOR          —   Como assim? O que tem de errado com minha sala?

ROBERT        —   Na verdade, a sua sala não tem nada de errado. Mas o quadro pendurado na parede está.

REITOR          —   Qual quadro?

ROBERT        —   O que está com a foto da universidade com os dizeres: ‘a universidade deseja a todos os alunos e colaboradores um ano novo repleto de realizações’.

REITOR          —   Não vejo nada de errado!

ROBERT        —   Santo Deus! Me surpreende você ter chegado a reitoria desse jeito. O que está errado ali é a falta da crase no ‘à universidade’.

REITOR          —   Isso daí é só um mero detalhe!

ROBERT        —   Não! Mero detalhe pode ser a sua vista grossa para erros grotescos como este!

Reitor sério encara Robert. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 03. UNIVERSIDADE. SALA ROBERT. INT. DIA.

Robert a analisar um conteúdo das aulas.

ROBERT        —   (P/si) Santo Deus! Ainda enche a boca pra dizer que é mestre em administração. Com esse conteúdo até estudantes adolescentes de cursinhos livres aprendem mais. Conteúdo fraco!

Jason entra indignado e arremata.

JASON           —   Qual é a tua, hein, Robert?

ROBERT        —   Eu é que pergunto! Bata antes de entrar na minha sala!

JASON           —   Acabei de acessar o meu plano de aulas da semana e você mudou tudo. Até o texto!

ROBERT        —   Sim.

JASON           —   Você está aqui para nos auxiliar.

ROBERT        —   (Indignado) Retire o que disse! Isso é um ultraje! Robert, autor de best-sellers ser auxiliar de um mestre em administração que não sabe preparar uma aula que o nível superior exige? Nunca!

JASON           —   Eu possuo mestrado em administração e você? Ah, esqueci. É um doido varrido que acha que entende de administração!

ROBERT        —   Sou escritor e não administrador! Mas te garanto que sei muito mais do que você!

JASON           —   Já chega! O reitor vai ter que resolver isso!

Jason sai da sala, com Robert arrematando.

ROBERT        —   Aproveita e traga um cafezinho da sala dele pra mim. Você é o auxiliar aqui!

CORTA PARA:

CENA 04. UNIVERSIDADE. CANTINA. INT. DIA.

Jason, Richard e Edward sentados.

JASON           —   Robert também mexeu no conteúdo das aulas de vocês?

RICHARD       —   Sim.

EDWARD       —   Mudou tudo praticamente.

JASON           —   Esse maluco regrado não pode chegar aqui e dizer o que devemos ensinar!

EDWARD       —   Então lute.

RICHARD       —   E sozinho porque eu não tô com cabeça pra isso depois de ver uma graduanda piscando pra mim.

JASON           —   Por isso nada muda! Vocês são acomodados demais e aceitam esse tipo de coisa. Temos que lutar contra essa ditadura de conteúdos na universidade!

EDWARD       —   Você não acha que tá exagerando?

Robert se aproxima e se senta a mesa.

ROBERT        —   Cavalheiros...

JASON           —   Sabe, gente... Ultimamente eu não tenho reconhecido mais esta universidade. Estão contratando qualquer um que acha que sabe mais que os professores.

ROBERT        —   A sua tentativa de mensagem subliminar caiu por terra. Ha! E quanto às mudanças no conteúdo, eu apenas estou fazendo um serviço para o qual fui contratado.

JASON           —   O reitor deixou bem claro a sua função aqui. Você deve analisar os textos e criar conteúdos em parceria com os professores.

RICHARD       —   Jason, deixa isso pra lá!

JASON           —   Não! Isso tá errado! Eu fui contrato para lecionar o que aprendi durante a minha vida acadêmica e não vou abaixar a cabeça pra um escritor que acha que sabe mais do que eu!

EDWARD       —   Você não sabe o que tá arrumando pra sua vida desafiando o Robert.

ROBERT        —   Exatamente, Edward.

EDWARD       —   Melhor você parar antes que ele faça da sua vida um inferno com aulas regulares da administração.

ROBERT        —   Que isso, Edward? Eu achei que você curtia as nossas aulas de história da literatura brasileira e internacional. Talvez seja por isso que você falhou miseravelmente como escritor.

Edward coloca o dedo na cabeça em forma de pistola e ‘aperta’ o gatilho com o polegar. Jason e Richard sorriem. Robert sério. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 05. APART ROBERT. SALA. INT. NOITE.

Edward a olhar pelo olho mágico. Robert a escrever.

ROBERT        —   Aí está o mal do brasileiro.

EDWARD       —   (não entende) Como?

ROBERT        —   Você aí olhando o apartamento em frente.

EDWARD       —   Eu não estava olhando o apartamento da Susan. Estava vendo se o zelador estava limpando o hall.

ROBERT        —   Sei. E de repente surgiu em você o interesse na limpeza das áreas livres do prédio?

EDWARD       —   E por que não?

ROBERT        —   Você não engana ninguém com isso.

EDWARD       —   Sabe, Robert... Eu não queria ter que fazer isso, mas já que você é a única pessoa aqui presente comigo, não tenho escolha.

ROBERT        —   Despois de me inferiorizar a você, o que já é ultrajante, ainda espera uma resposta minha?

EDWARD       —   Por favor, cara. Eu tô precisando de uma luz.

ROBERT        —   Eu sou um ser de luz na vida das pessoas, pode falar.

EDWARD       —   Eu comecei do jeito errado com a Susan. Na noite passada a gente ficou e eu acho que não foi bom pros dois...

ROBERT        —   Sabe onde mesmo você e a Susan estão errando?

EDWARD       —   Não, não sei. Onde?

ROBERT        —   Se vocês querem realmente viver um relacionamento, ele deve ser totalmente regrado para que não haja espaço para ‘começar do jeito errado’.

EDWARD       —   Tá louco, Robert? Ninguém consegue colocar regras em tudo. Principalmente se tratando de um relacionamento.

ROBERT        —   Então continue pensando assim, que você se divorciará mais de uma vez!

Robert volta a escrever e Edward fica pensativo. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 06. PRÉDIO. PORTARIA. INT. NOITE.

Sr. Riberio ali sentado. Susan chega à portaria tristinha.

SR. RIBEIRO  —   Boa noite, Susan.

SUSAN           —   Boa noite, seu Ribeiro.

SR. RIBEIRO  —   Tá tristinha... Aconteceu alguma coisa?

SUSAN           —   Talvez o senhor possa me ajudar mesmo.

SR. RIBEIRO  —   Opa! Só falar que eu faço!

SUSAN           —   Sabe, seu Ribeiro... Como o senhor é mais experiente que eu, poderia me dar uma luz... O senhor já esteve em uma noite frustrante com alguém que gostasse do senhor?

SR. RIBEIRO  —   Mas é claro, minha filha! Não só uma noite como no seu caso, mas um casamento frustrante.

SUSAN           —   E como que faz pra acabar com tudo isso, seu Ribeiro, sem magoar a pessoa?

SR. RIBEIRO  —   Bom, minha filha... Infelizmente aqui vai o que você não queria ouvir. Não tem como. Se esse rapaz... É um rapaz mesmo?

SUSAN           —   Sim.

SR. RIBEIRO  —   Ah, bem. Pensei que poderia ser uma moça, porque aí eu teria no que pensar mais tarde, mas, enfim... Se esse rapaz realmente te ama, ele se machucará! Mas se for o melhor para os dois se separar, então separe!

CORTA PARA:

CENA 07. PRÉDIO. HALL DO QUARTO ANDAR. INT. NOITE.

Susan chega à porta de seu apartamento e procura pela chave em sua bolsa. Edward sai.

EDWARD       —   (Sem graça) Oi, Susan.

SUSAN           —   (Sem graça) Ah, oi, Edward.

EDWARD       —   Eu acho que... Precisamos conversar.

SUSAN           —   Verdade. Entre.

Os dois entram e Susan fecha a porta.

CORTA PARA:

CENA 08. PRÉDIO. LANCES DE ESCADAS. INT. NOITE.

Jason e Richard subindo as escadas conversando.

RICHARD       —   Coitado do Edward... Se Robert já faz alterações nos nossos planos de aulas, que nem são áreas do feitio dele, imagine com as do Edward.

JASON           —   Mas o coitado não pode falar nada! Vive de favor na casa do louco do Robert.

RICHARD       —   Eu iria morar na rua, mas não ficaria na mesma casa que esse doido de pedra!

JASON           —   E aí, conseguiu o número da graduanda que piscou pra você?

RICHARD       —   Não. Ela disse está com problema no olho. Por isso piscava sem parar.

JASON           —   E você como sempre, achando que ela tava te desejando.

RICHARD       —   Claro! Uma graduanda linda daquelas piscando pra você sem parar, você acha logo o quê: que ela tá doida por você! Mas o olho esquerdo dela está vermelho de tanta irritação e a coitada fica piscando sem parar.

Jason sorrir e eles continuam a subir os lances de escadas. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 09. APART DE ROBERT. SALA. INT. NOITE.

Robert a escrever. Jason e Richard chegam.

JASON           —   Olha, aí está o que entende mais de tudo do que todos!

RICHARD       —   Inclusive mais do que os que estudaram anos para lecionar o que sabem hoje.

ROBERT        —   Me ocorreu que os dois se opõem ao meu trabalho. Mas o que eu posso fazer se os professores não sabem montar um simples plano de aula com um conteúdo realmente relevante e do nível superior, como deve ser?

RICHARD       —   Mas você não é formado em Ciências Contábeis, assim como eu.

JASON           —   É. E nem em Administração.

RICHARD       —   Isso aí.

ROBERT        —   Sim, realmente não sou formado em Ciências Contábeis e nem em Administração de Empresas... Mas o conhecimento não é algo que somente os que estudam tal área do conhecimento possuem.

RICHARD       —   Mas isso não lhe dá o direito de mudar nosso conteúdo.

ROBERT        —   Lamento informar cavalheiros, mas o reitor me deu total liberdade para decidir o melhor para a universidade, portanto, reclamem com ele e não comigo!

RICHARD       —   (debochado) Uiiii! Tá afiado hoje ele!

Jason rir muito e Robert repudia tal atitude. Instantes.

CORTA PARA:

CENA 10. APART SUSAN. SALA. INT. NOITE.

Susan e Edward sentados.

SUSAN           —   Olha, Edward... Tá na cara que a noite passada não foi boa para os dois.

EDWARD       —   Verdade. Por isso eu vim aqui conversar com você. Diante do meu mau desempenho, eu acho que você ficou com uma má impressão minha, mas eu quero um segundo round para me retratar!

SUSAN           —   Querido, não se pode mudar o que já é assim. O segundo round teria o quê? Uns quarenta segundos, dez há mais que o primeiro?

EDWARD       —   Susan, eu acho que/

SUSAN           —   (Corta) Devemos terminar o que nem começamos.

EDWARD       —   Sério?

SUSAN           —   Está na cara que somos muito diferentes um do outro. Aliás, nem temos nada sério, foi só uma noite. E um erro.

EDWARD       —   Poxa. Não sabia que você via as coisas desta forma.

SUSAN           —   Pois é, Edward. Mas essa é a verdade. Foi um erro.

EDWARD       —   Bom, nesse caso... Boa sorte pra você vizinha.

SUSAN           —   Igualmente vizinho.

Edward caminha para a saída olhando para Susan e BATE a cara na parede.

EDWARD       —   Ai, meu Deus! Tô bem!

Ele sai. Susan respira fundo.

CORTA PARA:

CENA 11. PRÉDIO. HALL DO QUARTO ANDAR. INT. NOITE.

Edward arrasado ali parado no hall... Puxa do bolso um anel e arremata.

EDWARD       —   (P/si) Mais uma vez metendo os pés pelas mãos! Acabou. Acabou! Bom, pelo menos não dei o anel caríssimo que recuperei da minha ex-esposa, custou uma fortuna mesmo.

Jason e Richard saem carregando Robert que está com a boca, pés e mãos amordaçados e com os olhos vendados. Robert resmunga e se mexe tentando resistir a todo momento.

JASON           —   Vamos levar esse cara.

EDWARD       —   (gritando) Ei, ei, ei! O que que vocês estão fazendo?

RICHARD       —   justiça!

JASON           —   É. Sem ditadores nos conteúdos dos professores.

Robert resmunga algo, mas está amordaçado.

EDWARD       —   Divirtam-se.

Jason e Edward descem a escada.

EDWARD       —   (maravilhado) O apartamento é só meu essa noite.

CORTA PARA:

 

FIM DA TEMPORADA

 


Totalmente Incorreto

Temporada 1 | Episódio 5

 

Criado e Escrito por:

Ramon Silva

 

Elenco:

Robert

Edward

Susan

Richard

Jason

Lisa

Seu Ribeiro

Reitor

 

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